‘Salve Gaspar, terra de alegria. Teus filhos jamais se esquecem de ti. És a luz que ilumina noite e dia. O grande e belo Vale do Itajaí’. É bem provável que você tenha lido o refrão do Hino de Gaspar com a entonação que a música carrega. Forte e tão verdadeira, a letra emociona em momentos especiais, como na comemoração de aniversário do município.
A canção ‘Saudando Gaspar’ foi escrita pela paulista Neuza Cavallari no ano de 1968, após uma visita à cidade Coração do Vale. Alguns anos mais tarde, em 1973, ela se transformou no hino de Gaspar.
Na data em que Gaspar comemora 88 anos, o Cruzeiro do Vale abre o baú de documentos antigos e traz um papel do passado que promete reviver sentimentos genuínos: a partitura original do hino que encanta, emociona e traduz fielmente as belezas da nossa cidade.
A sabedoria de Claudette Bohn é a soma de vivências incríveis. Boa parte delas em Gaspar, cidade que tem todo seu coração. Exemplo de compromisso com a música, ela construiu uma trajetória de dedicação ímpar ao aprendizado, assim como ao dom de repassar seus conhecimentos. É justamente na gentileza de compartilhar tais princípios que, dia após dia, seu legado ganha força.
Dona Claudette abriu as portas de seu charmoso lar e, entre álbuns de fotos, contou todo seu caminho artístico. Desde de o início tímido, nas primeiras notas descobertas com acordeom, até sua aposentadoria. “Sou de origem alemã, nascida em Florianópolis, onde vivi até os dois anos. Com essa idade, mudei para Blumenau com a família. Lá, estudei o primário, me apaixonei pela música e conheci o amor da minha vida. Adulta, já casada, vim para Gaspar junto de meu falecido esposo, Egon Bohn”.
Com Egon, dona Claudette não mediu esforços para trabalhar em prol da música. E foi nessa caminhada que a partitura original do hino de Gaspar, ainda escrita à mão, chegou até seu lar. “Na época, Marlita Terezinha Vailatti, organista do Coro Misto Santa Cecília, deixou conosco a partitura para que adaptássemos. O arranjo a mais vozes foi feito pelo maestro Emanoel Paulo Peluzzo e o arranjo para banda, com instrumento, foi feito por João Bohn”, relembra.
A partitura é conservada dentro do envelope pelo qual foi entregue. “Guardo com muito carinho. É parte da nossa história. Poder compartilhar a história desse documento é bastante especial, já que ele representa tão bem a cidade Coração do Vale. Tê-lo é uma grande responsabilidade”, destaca dona Claudette com lágrimas nos olhos. A emoção toma conta quando o assunto é arte. “Nos dedicamos à música e diversos outros trabalhos artísticos por toda vida. Fico honrada de poder compartilhar essa história com a comunidade”.
O papel, já frágil e amarelado pelo tempo, continua com os dizeres claros e nítidos, escritos com toda delicadeza. Junto do envelope endereçado ao casal Bohn, a partitura é admirada também pelos seus sucessores. Afinal, o casamento de dona Claudette e seu Egon resultou na construção de uma linda e talentosa família. “Minhas filhas e netos também são apaixonados por arte e sabem o valor imensurável que esse documento tem. É história!”, reflete a artista enquanto acaricia as folhas.
Entre montanhas tu estás
cidade amiga,
Pequena e bela como
um sonho eu te vi,
Teu céu azul iluminando
o espaco,
Tingindo as águas
transparentes do Itajaí.
Teus verdes campos
enobrecem a paisagem,
Teu povo alegre te conduz
numa canção,
És o berço do imigrante que
transforma,
O teu regaço em uma longa oração.
Salve Gaspar, terra de alegria,
Teus filhos jamais se esquecem de ti,
És a luz que ilumina noite e dia
O grande belo Vale do Itajaí
Nascida em 4 de outubro de 1937, na região de Capoeiras, Claudette despertou o interesse pela música logo na infância. Filha de Henrique Gorisch e Paulina Berkenbrock Gorisch, foi presenteada com um acordeom e, em pouquíssimo tempo, já fazia arte. Na sua nítida aptidão pelo canto e destreza com instrumentos, a menina começou a fazer aulas para lapidar seu repertório.
Múltiplos talentos! O tempo passou, Claudette cresceu e a paixão pela arte ficou ainda maior. Dedicada ao estudo e prática da música, sempre emocionou a família e amigos com suas apresentações. O apoio de todos foi essencial para que ela desse continuidade a esse trabalho tão especial. Sua trajetória profissional agregou – e muito – o cenário artístico de Gaspar.
Ela chegou na cidade Coração do Vale em 1962, para acompanhar o marido que já assumia grandes responsabilidades como o Coro Misto Santa Cecília e a banda São Pedro, da qual é um dos fundadores. Logo, Claudette se envolveu nesses projetos e também se engajou em outras iniciativas tão importantes quanto. Ela trabalhou por 45 anos na coroação de Nossa Senhora, na Igreja Matriz; na Escola de Música; como catequista; e também no ensaio das crianças da 1ª Eucaristia.
Além de encantar no conjunto musical Tabajaras em casamentos, bordar, pintar e escrever, sua paixão também sempre foi compartilhada com a família. Aliás, o amor pelo marido, filhas, netos e bisnetos é tão grande que falar do assunto, assim como da religião, lhe traz lágrimas aos olhos. A fé, tão presente em cada conquista sua, é o combustível da vida. Uma mulher honesta, trabalhadora, talentosa e única!
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Encontro de almas
Dona Claudette conta que conheceu seu Egon de uma maneira bastante inusitada. “Fui chamada para participar de um espetáculo em Itajaí e avisaram que eu me apresentaria com outro artista. Eu não o conhecia, nem chegamos a ensaiar juntos. Ao chegar no local, nos encantamos um pelo outro. E não demorou muito para que déssemos início ao relacionamento”, relembra com carinho do dia 17 de novembro de 1954. Ele aos 24 anos e ela aos 17.
O noivado dos amados aconteceu em 3 de julho de 1955, data em que seu Egon fazia aniversário. Já o tão esperado casamento foi no dia 5 de maio de 1956, na Igreja Matriz de Blumenau, um dos últimos realizados na antiga construção. Amor! Não há outra palavra que descreve tão bem a relação do casal e o sentimento que colocaram em todas as áreas de suas vidas. O resultado não poderia ser outro: sucesso, reconhecimento e um legado incrível.
Egon Bohn faleceu em 1988, deixando toda Gaspar entristecida. Um representante nato. Talentoso, esforçado e de uma honestidade ímpar. Fez muito pela cidade Coração do Vale, tanto na arte como na união religiosa. Após sua despedida, a família precisou assumir os projetos em andamento. Claudette ficou responsável pela Escola de Música. A filha mais velha do casal, Celine, assumiu o Coro Misto Santa Cecília. Já o irmão de Egon, João Bohn, assumiu a banda São Pedros. Todos desempenharam um trabalho impecável.
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