Pouco mais de dois anos após a tragédia que atingiu cerca de 100 mil pessoas - um terço da população - em Blumenau, no vale do Itajaí, as ações adotadas pela cidade podem ser utilizadas como modelo de reconstrução, com a criação de complexos de moradias provisórias, obras emergenciais e ações de prevenção, com monitoramento das áreas de risco.
Nesta entrevista exclusiva à Rede Catarinense de Notícias, o prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing (Dem) assinala que, em dois anos de reconstrução, mais de 60% do tempo foi gasto para vencer a burocracia.
RCN: Em Santa Catarina (e no país todo), muitos municípios não têm departamentos de Defesa Civil estruturados e operantes. A que o senhor atribui isso?
Kleinübing: Creio que a partir do exemplo de outros municípios, como infelizmente foi o nosso, e até mesmo da crescente necessidade de locais antes raramente afetados, a incidência na criação de órgãos de Defesa Civil será cada vez mais comum. A tendência é a de que os municípios que não têm criem, e os que já possuem estruturem da melhor forma possível, independente do apoio de outras entidades. O fundamental é interagir junto à comunidade, orientando-a para a percepção do risco e fazendo com que a sociedade entenda a necessidade de ter Defesas Civis sempre estruturadas.
RCN: Como é a Defesa Civil em Blumenau? De que tipo de estrutura dispõe?
Kleinübing: Antes da tragédia de 2008, Blumenau contava com uma diretoria de Defesa Civil, com seis pessoas na estrutura que realizavam os serviços de monitoramento e atendimento à comunidade. Hoje, criamos uma Secretaria de Defesa Civil, com cerca de 45 profissionais em uma equipe multidisciplinar, que engloba, por exemplo, engenheiros, técnicos e assistente social. A estrutura foi criada para, junto com a diretoria de Geologia, dar todo o suporte para o monitoramento das áreas em estado de alerta ou de risco, e também para atuar em desastres naturais como enchentes e deslizamentos.
RCN: Referência na reconstrução da cidade, pós cheias de 2008, Blumenau também penou com o trâmite burocrático?
Kleinübing: Blumenau penou com o trâmite burocrático. Mesmo vivendo uma situação atípica, de tragédia, Blumenau passou por todos os trâmites legais e em dois anos de reconstrução, 60% do tempo foi gasto para vencer a burocracia. Infelizmente, não existe fórmula para minimizar o processo. A expectativa é de que, com a incidência deste tipo de ocorrência, o Governo federal se prepare para agilizar a liberação de recursos, já que hoje, esse trâmite ainda é muito difícil.
RCN: O senhor acredita que é possível implementar a cultura da prevenção e percepção do risco em SC?
Kleinübing: Sim, inclusive acredito que as ações já iniciaram com o aumento efetivo da fiscalização, a implantação do sistema de monitoramento na região, como os pluviômetros, além de outras ações que o Governo do Estado está desenvolvendo, como o projeto para Percepção de Risco, que estimula a cultura da prevenção de novos desastres em nosso Estado.
RCN: 5. Qual a recomendação que o senhor faz a seus pares, que também comandam cidades com vulnerabilidades diante de adversidades climáticas?
Kleinübing:Recomendo prevenção. O monitoramento e ações de fiscalização são mais efetivas do que ações emergenciais e apenas elas garantem que o investimento possa salvar uma vida.
fonte Adjori/SC
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