Maria Carolina Crespi Simas está grávida de quase oito meses e espera ansiosa pela chegada do seu primeiro filho, que segundo os médicos deve vir ao mundo no início do mês de agosto. Apesar da felicidade, a gasparense está preocupada, pois não sabe se a criança poderá nascer em Gaspar, sua terra natal.
A incerteza da futura mamãe também preocupa as demais gestantes da cidade, que devido à falta de médicos obstetras e pediatras de plantão no único hospital da cidade não sabem se poderão, ou não, ter seus nenéns em Gaspar.
Celso Oliveira, diretor administrativo do hospital, explica que apesar da redução do quadro de especialistas uma escala está em funcionamento e as gestantes devem sim procurar o hospital no momento do parto. ?Temos alguns furos nesta escala, porém, se a gestante chegar aqui e não tiver obstetra ela será encaminhada aos demais hospitais da região?, garante o diretor. Apesar da garantia, no feriado de Corpus Christi uma gestante do bairro Gaspar Mirim foi até o hospital, não teve atendimento, e acabou tendo o neném dentro do carro. A notícia foi publicada na última edição do Jornal Cruzeiro do Vale e na mídia regional e chamou a atenção da comunidade. Celso garante que o que houve com esta gestante foi uma fatalidade. ?Mesmo que não tenhamos obstetra de plantão, nossa equipe avalia o paciente e encaminha ele de ambulância para os hospitais de Blumenau ou recomenda que vá com seu próprio veículo quando a situação não é grave. A situação desta paciente não era grave. O que houve foi uma fatalidade?, justifica.
Solução
Para acabar com as dúvidas e anseios da comunidade, a direção do hospital esteve reunida com representantes do Poder Executivo, para pedir que o Município repasse mais R$31 mil, além dos R$175 mil que já são repassados mensalmente à casa de saúde. ?Com mais este valor poderíamos pagar os obstetras que se demitiram no início de junho e garantir o parto das gestantes gasparenses em Gaspar?, justifica Celso, que ainda espera uma resposta do Executivo.
Ainda nesta semana os administradores do hospital também irão se reunir, mais uma vez, com o secretário de Estado da Saúde para pedir que o Governo do Estado contribua com o hospital de Gaspar. ?O quadro do nosso hospital é grave e precisamos de uma solução para este problema o Estado também tem responsabilidades. A situação não pode permanecer assim?, ressalta o administrador.
A vice-prefeita Mariluci Deschamps Rosa recebeu o pedido do hospital e revela que o Executivo está avaliando a possibilidade de aumentar o repasse, porém questiona o aumento. ?Agora são estes médicos e se depois mais se demitirem, vamos ter que pagar por eles também: O Município já repassa R$175 mil por mês ao hospital, estamos avaliando a possibilidade de aumentar este valor, mas seus administradores precisam buscar apoio de outras esferas governamentais?, justifica.
Um dia que era para ser de muita alegria para o casal Valdete de Oliveira e Valdevino Lemes Galvão tornou-se um dia de surpresas. Após nove meses de gestação do sexto filho, a mulher de 39 anos sentiu fortes contrações na tarde desta quinta-feira, 23.
Ciente de que era a hora do parto, o marido pediu ao irmão que os levasse até o hospital, porém, ao chegar no local a família foi informada de que não havia nem pediatra e nem obstetra e que Valdete não poderia ter a criança no único hospital da cidade. ?Me mandaram procurar os bombeiros e quando cheguei lá fui informado de que eles também não poderiam nos ajudar pois eles só podem levar paciente para o hospital da cidade. Então decidimos ir de carro mesmo até Blumenau?, relata o pai.
No meio do caminho a bolsa de Valdete estourou e, deitada no banco traseiro do Pálio do cunhado, a moradora do bairro Gaspar Mirim deu a luz, sozinha, ao sexto filho, que acreditava ser uma menina. ?Ficamos surpresos ao ver que era um menino?, afirma o pai. Assustados, pai e tio pararam o carro no acostamento da rodovia, próximo à Malwee, e pediram socorro, porém, apenas alguns homens apareceram e ninguém conseguiu ajudar a nova mamãe, que seguiu até o Hospital Santo Antônio, em Blumenau, onde finalmente foi socorrida.
Indignação
O sentimento de Valdevino foi de alegria ao saber que ganhou mais um garotão e ao mesmo tempo indignação, pois esperava ter recebido socorro no Hospital de Gaspar. ?Eu contribuo com este hospital, esperava ao menos ser atendido. É uma vergonha não termos médicos para atender uma emergência. Fui muito mal atendido. Espero que alguma coisa seja feita, pois não desejo que nenhum pai passe pelo que passei neste dia?, relata.
O problema da falta de médicos no Hospital de Gaspar foi relatado em reportagem do Jornal Cruzeiro no início de junho. Na época, o diretor do Hospital, Celso de Oliveira, revelou que apenas cinco, dos 16 obstetras, ainda estavam trabalhando. Os demais pediram demissão devido a atrasos nos pagamentos. O problema é conseqüência da falta de recursos que a Casa de Saúde vem enfrentando desde sua reabertura, em janeiro de 2010.
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