Quadrilha, pé-de-moleque e quentão. Estas três palavras são suficientes para definer uma tradição nacional do mês de junho: as festas juninas, onde o que vale é usar um traje caipira, ensaiar uma quadrilha e se deliciar com guloseimas e pratos típicos. As comemorações acontecem em vários ambientes, como escolas, empresas e entre a própria família ou amigos. Para que todos possam participar de bonitos festejos, há uma grande preparação.
O comércio se mobiliza e faz pedidos com antecedência para cumprir a demanda, e as festas preparadas são organizadas cerca de um mês antes de suas datas. O clima das festas juninas pode ser conferido nas decorações e nos produtos de época, que aparecem para tomar seus lugares junto às prateleiras do comércio e sacolas dos consumidores. Para atender aos desejos dos clientes, os lojistas se antecipam e preparam os pedidos para que nada falte em suas comemorações. Há cerca de dois meses, Aline Greice dos Santos, da loja Status Modas, fez os pedidos de vestidos e camisas típicas das festas de junho.
As peças vendidas vêm de outros estados, São Paulo e Minas Gerais, e já aguardam em seus cabides pelos futuros donos. ?Nesta época vendemos bem para todas as idades, porém o que mais sai é vestido adulto, geralmente curtinho. O que as clientes procuram não é um traje tradicional, ou apenas os vestidos feitos de chita. Querem algo mais moderno, curto, com detalhes, por isso trazemos novidades todos os anos?, comenta Aline. Além dos vestidos adultos, são comercializados também o tamanho infantil e trajes masculinos. Não é apenas o setor de vestuário que se programa antecipadamente para estar com o estoque de produtos em dia para as festas juninas. A gerente da loja Pague Menos, Josiane Rech, conta que os pedidos de guloseimas e artigos de decoração são feitos com um mês de antecedência.
Entre os produtos vendidos no estabelecimento comercial estão trajes típicos, chapéus, doces, artigos de decoração e brinquedos e utilidades domésticas utilizados nas barracas de sacola surpresa e roda da fortuna. ?Temos um aumento de vendas no período que vai desde a primeira semana de junho até a última de julho, pois muitas pessoas realizam também festas julinas. Entre nossos produtos, há balões decorativos diferenciados, que aqui em Gaspar são exclusivos de nossa loja?, declara a gerente. Ela conta ainda que alguns produtos são levados em consignação para as rodas da fortuna, que estão presentes em diversas festas religiosas também organizadas nesta época.
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Escolas As bandeirinhas foram feitas à mão pelos próprios alunos e já estavam penduradas. Toda a decoração da festa estava pronta. Porém, a turma de crianças que dançava na quadra não estava vestida com trajes juninos e ainda eram acompanhadas pela professora, que fazia muitos movimentos lembrando-as dos passos corretos. Faltavam nos meninos os bigodes muitas vezes desenhados pelas mães, e os cabelos das meninas sequer estavam trançados ou amarrados em dois rabos-de-cavalo. Tratava-se de um ensaio para a festa junina do Colégio Madre Francisca Lampel, que aconteceria dali a dois dias, no sábado, 11 de junho, e que contaria com diversas apresentações de dança. O som passava pelos últimos ajustes, mas não atrapalhou o ensaio das crianças, que já se mostravam empolgadas com a festa que se aproximava. ?As quadrilhas são o principal atrativo da nossa festa junina. Desde a educação infantil até o terceirão, todos se apresentam no dia da comemoração?, relatou o coordenador Jeovani Schmitt. De acordo com ele, a preparação para a festa começa um mês antes da data. O coordenador não consegue definir em que ano se iniciaram os festejos juninos, mas disse se lembrar de que já aconteciam na época em que a escola ainda dava os primeiros passos com o Jardim de Infância São José. A decoração que traz o clima de festa junina à escola é preparada por professores e alunos em horário extra-classe. A escolha inteira é mobilizada para este dia, que é sempre aberto a toda a comunidade, embora, de acordo com Jeovani, a maior parte de seus frequentadores sejam os pais e os próprios alunos. Em todas as edições realizadas há a venda de comidas e guloseimas típicas de festas juninas, além de completo serviço de bar e cozinha e as várias barracas em que se pode encontrar café e bolo, pescaria e ainda produtos feitos pelos alunos que fazem parte do projeto Mini-empresa, da Junior Achievement. |
Empresas Há três anos os funcionários e proprietários de uma empresa que confecciona peças de vestuário infantil se reúnem para uma confraternização em forma de festa junina. A comemoração é organizada pelos funcionários, e geralmente acontece em algum sítio. ?Peço para que cada um leve algo específico, procuramos patrocínio e assim organizamos a festa, em que é obrigatório ir caracterizado?, explica Daniela Karina Philipps, uma das organizadoras do evento, que trabalha como secretária e departamento pessoal. Ela conta que a empresa possui cerca de 70 funcionários, e que não é possível haver contato diário entre todos. É em festas como esta que todos podem conversar e se conhecer melhor, em uma confraternização em que não falta comidas típicas e quentão. Os funcionários podem levar a família para participar deste momento,em que até mesmo a tradicional fogueira está presente. ?A ideia surgiu de conversas que tivemos e os funcionários gostaram bastante. Neste ano algumas pessoas fizeram até mesmo um vestido de festa junina novo especialmente para a ocasião?, comentou Daniela. |
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Famílias ?Aqui é obrigatório vir caracterizado. Já avisamos a toda a família e aos amigos que se não estiver trajado, não entra na festa?, a mulher comenta e ao mesmo tempo solta uma risada. Ela é Maria Rosemari Berthi Maes, de 45 anos, uma das três pessoas que organizam o Arraiá do Vô Berthi. Ela e dois de seus irmãos são responsáveis por fazer com que a festa fique melhor a cada ano que passa. Os preparativos para a quinta edição do arraiá, que neste ano está marcada para acontecer no dia 25 de junho, já iniciaram há cerca de um mês. ?Foi meu pai, o próprio Vô Berthi, que começou com a festa, fazendo uma pequena fogueira para comemorar com os filhos e netos. Então depois nós, os filhos, ficamos com a organização e a festa foi aumentando. No ano passado, estiveram presentes cerca de 50 pessoas, e este ano esperamos um número parecido?, conta a organizadora, mais conhecida como Rose. Ela afirma que pretendem continuar a realizar a festa nos próximos anos, e conta que além de familiares, os amigos da família geralmente são convidados para participar dos festejos conhecidos pela animação. A fogueira já se tornou tradição, as comidas e bebidas juninas estão presentes e a festa ainda conta com um gaiteiro para não deixar ninguém ficar parado. |
Festa tem origem em duas histórias
Existem duas explicações sobre a origem das festas juninas. Uma é de que elas vieram de uma comemoração pagã, que celebrava a grande fertilidade da terra e as boas colheitas. Esta festa costumava acontecer no dia 24 de junho, dia do solstício de verão. Dia 24 de junho é também a data em que se comemora o dia de São João, primo de Jesus de Nazaré, que ficou conhecido na história do cristianismo pelo batismo que costumava dar a pessoas que se comprometiam em começar uma vida nova, arrependendo-se dos pecados que haviam cometido. De acordo com esta versão da história, a festa teria se originado em países cristãos europeus e no início teria levado o nome de Joanina e não junina.
Com o tempo, estas festas passaram a celebrar outros dois santos importantes do mês de junho, São Pedro e Santo Antônio. Acredita-se que os portugueses tenham sido os responsáveis para levar a festividade ao Brasil, ainda no período em que acontecia a colonização do país. Pertencentes à Igreja Católica Apostólica Romana, os colonizadores implantaram sua cultura e tradições religiosas em terras brasileiras e as transmitiram aqueles que não seguiam os costumes ocidentais vigentes na época. Aos poucos as festas juninas foram se espalhando por todo o país, porém, foi na região Nordeste em que as festas melhor se enraizaram, e hoje viraram uma tradição, que atrai um grande número de turistas todos os anos. Ainda assim, as festas juninas podem ser encontradas em todos os cantos do país. A tradição inclui a dança de quadrilhas, comidas e danças típicas, trajes especiais, fogueira e, em alguns lugares, a dança de pau-de-fitas. Entre as comidas típicas mais conhecidas estão milho, pé-de-moleque, bolo de fubá e de milho, pamonha, paçoca, e, dependo da região, comidas daquela localidade. Como por exemplo, no Sul o costume é de ter pinhão cozido nestas festas, o que não existe em outras regiões do Brasil. Já no nordeste, não falta rapadura nas festividades. Uma bebida típica, servida em quase todas as festas juninas é o quentão, cuja receita também varia de acordo com a região.
Três santos são homenageados
São três os santos da Igreja Católica que são homenageados com as festas juninas: São João, Santo Antônio e São Pedro. A festa de Santo Antônio, realizada na capela cujo santo é padroeiro, já foi realizada no último final de semana. As de São João e São Pedro ainda estão por vir, sendo a primeira realizada em uma comunidade que leva o nome do santo e se localiza no bairro Gasparinho, e a segunda na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo, que conta com vários dias de festividade e é prestigiada por moradores de todas as localidades.
Santo Antônio
Muito conhecido como o santo casamenteiro a qual muitas mulheres dirigem simpatias afim de encontrar um marido, Santo Antônio nasceu em Lisboa, Portugal. Pregava o evangelho e ensinamentos de Cristo e era amante da pobreza, defendendo pobres, deserdados e explorados. Costumava passar muitos dias rezando em lugares afastados, e foi numa dessas ocasiões em que recebeu a visita do Menino Jesus. Por isso, em suas imagens, o santo é sempre representado com o menino nos braços. O lírio, outro elemento da imagem, simboliza a pureza.
São João
Também chamado de São João Batista, em função dos batismos que fazia para que as pessoas se arrependessem da vida que levavam, ele foi considerado um profeta percursor do Messias, que viria para salvar o mundo. Batizou muitos judeus, entre eles o próprio Jesus Cristo, no rio Jordão, rito que foi adquirido pela Igreja Católica. Ele foi preso pela acusação de liderança de revolução, ficou dez meses preso e foi por fim decapitado, sendo que sua cabeça foi levada ao rei Herodes Antipas I em uma bandeja de prata e então seu corpo foi queimado em uma fogueira.
São Pedro
Discípulo de Jesus, encarregado de fundar a igreja cristã e considerado o primeiro papa desta então nova religião, São Pedro é conhecido por ser aquele que guarda as chaves do céu e também por ser o responsável por fazer chover, além de ser o protetor dos pescadores e das viúvas. O dia 29 de junho é dedicado a este santo, que pregou as ideias de cristo e por isso foi levado a Roma e morto a mando do imperador Nero. Conta-se que ao morrer o santo pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por se considerar indigno de morrer na mesma posição de Cristo.
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