Dona Rosa Mitterstein guarda as histórias bem presentes na memória - Jornal Cruzeiro do Vale

Dona Rosa Mitterstein guarda as histórias bem presentes na memória

14/08/2012


Por Ana C. Bernardes

Uma longa vida marcada por uma bela história. Os 92 anos de Rosa Russi Mitterstein, nascida no dia seis de fevereiro de 1920, são um verdadeiro exemplo de que a bondade, a fé, e a alegria deixam a vida ainda mais bonita e marcante.Moradora do bairro Sete de Setembro há algumas décadas, e natural de Gaspar, Rosa leva consigo uma grande bagagem, carregada de bons momentos, ótimas lembranças e muita sabedoria. Dona de um sorriso fácil e de lágrimas comoventes, a senhora de 92 anos de idade ainda lembra de cada história vivida, e de todos aqueles que marcaram sua longa trajetória.


fotopg9colorMD.jpgNa sala, a televisão transmite a missa, e os olhos de Rosa Mitterstein ficam atentos à ela. Vaidosa, ela veste um casaco de lã rosa e calças pretas. Desta vez, as unhas não estão pintadas, e isto a incomoda um pouco.

Como de costume, a moradora do bairro Sete de Setembro passa o fim de semana na casa de um de seus filhos, que estão sempre esperando para cuidar e passar um tempo com a mãe.

Juntamente com Bonifácio Mitterstein, Rosa constituiu uma unida família, formada por cinco filhos, nove netos e dois bisnetos. O casal era conhecido como um dos mais unidos da região, e ao falar sobre isso Rosa se emociona, lembrando da vida com seu querido marido. Casados há 46 anos, Bonifácio e Rosa sempre foram conhecidos como um casal exemplar. Companheiros e amigos, ambos encontraram um no outro toda a cumplicidade e carinho necessários para completar suas vidas.

Diferente de diversas mulheres da época, a querida senhora se casou um pouco mais tarde, com 33 anos. Porém, Rosa deixa bem claro que avisou seu futuro marido que já era uma mulher mais velha. A idade não afastou o casal, que namorou por dois anos até se casar, na casa da família de Rosa que ficava na rua Itajaí.

Com todas as histórias ainda muito presentes em sua memória, ela conta um curioso fato. Como os namoros eram muito diferentes naquele tempo, a moça que já tivesse sido beijada por um homem, mesmo que no rosto, dificilmente conseguiria se casar com um homem diferente. Foi exatamente por este motivo que, diz muito séria, Bonifácio foi até a casa do primeiro namorado de Rosa saber se ele já havia lhe beijado. Como a resposta foi não, o namoro teve início. O casal ficou unido até o ano de 1999, quando Bonifácio faleceu. Até hoje, ela vive na casa em que construiu com o marido, no bairro Sete de Setembro, onde mora também grande parte de sua família.

Desilusão amorosa

Alguns anos antes de conhecer seu marido, Rosa namorou Hermínio Graciola com quem pensou que iria se casar. Após dois anos de namoro, ele teve que ir para a Europa, devido à Segunda Guerra Mundial. Por dois anos, ela esperou por ele, guardando firmeza, ou seja, sendo fiel, explica, pois assim que voltasse eles se casariam. A vida de Rosa mudou totalmente durante esse tempo. Ela deixou de sair com as amigas, ir à bailes, e se dedicou apenas a esperar por seu futuro marido. Porém, assim que ele voltou o namoro teve fim sem motivo algum.

A partir daí, a ideia de conhecer outra pessoa e se casar já não agradava mais Rosa, que estava desiludida com o amor até conhecer o marido, com quem teve uma vida de sucesso e muito feliz.

 

Uma nova rotina

Há sete anos, Rosa enfrenta uma das suas maiores tristezas: não conseguir andar. Por este motivo, a cadeira de rodas faz parte de sua rotina. O motivo exato até hoje é um mistério para ela e toda a sua família, já que não foram os movimentos que a simpática senhora perdeu, mas sim o equilíbrio.

Aceitar esta dificuldade não é algo fácil, e as lágrimas caem dos olhos de Rosa sempre que lembra das atividades que já não pode executar, como por exemplo, os trabalhos no campo. A paixão por plantar alimentos, cuidar das hortas e criar animais existe desde seus oito anos de idade, quando começou a trabalhar na roça. Após se casar, foi a isso que se dedicou até seus 82 anos de vida. Para Rosa, a enxada que utilizava para capinar e cuidar das suas hortas era sua bengala, e a atividade sua grande alegria.

Hoje, Rosa vive com uma filha e conta com a ajuda de uma mulher que passa os dias com ela enquanto os filhos trabalham.

As missas transmitidas pelo aparelho de televisão e as visitas frequentes de amigos e parentes fazem parte do seu dia a dia. Boneca, como foi apelidada, é sem dúvidas uma pessoa incrível, com uma vontade de viver gigante e uma lição de vida para todos.

Edição 1414

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Dona Rosa Russi Mitterstein faleceu na madrugada do dia 9 de outubro de 2012 em sua própria casa.