Morar sozinha não é algo que incomoda a simpática dona Maria Geralmina, muito pelo contrário. A independência sempre a caracterizou muito bem e todos que fazem parte da sua vida já sabem disso. Porém, faz questão de lembrar, receber a visita dos filhos, netos e bisnetos, em sua casa, no bairro São Pedro, é prioridade em sua vida. A alegria em recebê-los é revelada na própria voz, assim como o carinho e amor que sente por cada um deles.
Ainda com todas as lembranças de vida presentes fortemente na memória, dona Maria inicia a conversa falando sobre a infância. Nascida no dia 30 de setembro de 1924, no bairro Margem Esquerda, ela cresceu ao lado de cinco irmãos mais novos. Como a única mulher entre os irmãos, as responsabilidades começaram cedo, já aos seis anos. Nesta época, a simpática senhora trabalhava na roça. Mesmo tendo começado a trabalhar muito cedo, ela nunca reclamou, trabalhar sempre foi algo que fez com muita vontade e disposição e carrega isso como um ensinamento de vida que deve ser repassado a todos.
Dona Kinha cresceu trabalhando no campo, onde permaneceu até se casar, aos 23 anos de idade. O marido, Francisco Manoel Pereira, não era gasparense, ele vivia próximo ao município de Tubarão e o casal se conheceu quando Maria participou de uma festa nesta cidade. Após conversarem por algum tempo e se conhecerem melhor, Francisco e Maria perceberam que este seria o início de um longo e duradouro romance. A partir daí, eles começaram um namoro à distância. As dificuldades encontradas devido à frequência com que se viam nunca atrapalharam o romance. ?Os namoros eram muito diferentes. Sabíamos que tínhamos um compromisso e que um dia ficaríamos sempre unidos?, registra. E foi isso que aconteceu. O casamento aconteceu em Gaspar e o casal se mudou para o bairro Sete de Setembro.
Importância do trabalho
Depois de se casar, Maria começou a fazer roscas e outros salgados em casa para vender e conseguir ajudar o marido nas despesas da casa. Esta época de sua vida foi muito difícil, destaca. Francisco havia se mudado para outro município para trabalhar na estrada de ferro. Desta maneira, ela foi responsável por cuidar dos 11 filhos ainda pequenos e continuar trabalhando.
Mais tarde, deixou de fazer os salgados para trabalhar na empresa Souza Cruz, em Blumenau, onde escolhia fumo. Até os 79 anos, dona Maria continuou trabalhando nesta empresa. Ausentou-se apenas durante um período para cuidar do marido, que já estava muito doente. Revelando certa desaprovação no olhar, a doce senhora revela que a vontade de trabalhar não desapareceu, mas que os filhos não a deixam, devido ao estado de saúde.
Responsáveis pelos sorrisos de dona Maria Geralmina, os nove filhos, 30 netos e 21 bisnetos fazem questão de visitar a matriarca da família sempre que possível. Quando estes encontros acontecem, a felicidade invade seu peito e a vontade de viver por mais alguns anos aumenta ao perceber a bela família que possui.
Ao lado do marido Francisco, a senhora de 88 anos teve 11 filhos, porém dois faleceram. A tristeza na voz e nos olhos é visível ao falar sobre a perda dos filhos. Há alguns anos, um deles faleceu vítima de câncer. O outro filho, de apenas 47 anos, morreu há três anos e até hoje ela não consegue aceitar o fato, já que ele era um homem saudável e disposto. O marido e grande amor de dona Kinha também faleceu há 12 anos e desde então nunca mais se casou novamente.
Apesar das tristes lembranças e das inaceitáveis perdas, a gasparense acredita que a vida lhe trouxe os mais belos ensinamentos e as melhores lições possíveis. Para repassar aos netos e bisnetos, ela guarda cada um destes na memória e no coração.
Edição 1453
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