Aos 90 anos, Ida Mitterstein compartilha as melhores lembranças - Jornal Cruzeiro do Vale

Aos 90 anos, Ida Mitterstein compartilha as melhores lembranças

14/02/2013

Sorriso sincero, olhar gentil e voz doce. Os familiares e amigos de dona Ida Mitterstein sabem que estas são características que a definem muito bem. Nascida em Gaspar, em 1922, a simpática senhora ainda carrega com ela toda a alegria, amor e sabedoria que lhe transformaram na pessoa maravilhosa que é. Aos 90 anos de idade, Ida é uma mulher disposta e com muita vontade de viver. Apesar das grandes dificuldades que precisou enfrentar durante a vida, ela acredita que viver foi o melhor presente que poderia ter ganhado.

 

Exemplo de dedicação e generosidade

 

fotopg9abrecolorMD.jpgEmbora tenha completado 90 anos de idade no dia 25 de setembro do ano passado, dona Ida Mitterstein é uma mulher disposta, forte e com muita vontade de viver. Seus dias são preenchidos pela companhia de familiares e pela doce lembrança daqueles que já se foram, mas que nunca serão esquecidos. A história de vida ainda está guardada na memória e é relatada, nos mínimos detalhes, com muita paciência e carinho. A simpática senhora nasceu em Gaspar, no bairro Poço Grande, em 1922. Ao lado de seis irmãos, ela passou por momentos difíceis e tristes logo na infância.

Aos 9 anos, dona Ida perdeu o pai, Luís Rossi. As dificuldades enfrentadas por toda a família foram inúmeras, mas, com o passar dos anos, eles superaram e conseguiram vencer os obstáculos. Ela, os irmãos, e a mãe, Ambrósia Rossi, trabalhavam na roça. Mostrando pela primeira vez seu belo sorriso, Ida afirma que esta foi uma época muito gostosa e garante que ir para o campo era algo que fazia com muita alegria. Por trabalhar desde nova na roça, a senhora de 90 anos de idade não conseguiu estudar. Além disso, a casa em que vivia ficava distante da escola. Porém, mesmo sem conseguir frequentar as aulas, ela aprendeu a ler e escrever com a ajuda de uma das irmãs.

 

Primeiro amor

Anos mais tarde, aos 20 anos de idade, dona Ida conheceu o primeiro namorado e grande amor. Modesto Mitterstein e Ida se encontraram em uma missa no Poço Grande e, a partir daí, começaram a se conhecer melhor. Apesar disso, Modesto foi chamado para o serviço militar pouco tempo após iniciarem o namoro. De início ele foi para Itajaí e, durante dois anos, eles apenas se comunicavam por cartas. Cheia de alegria no olhar, Ida faz questão de dizer que aproveitou a vida enquanto ele estava no exército, saindo para as domingueiras com as amigas. Do mesmo modo, pedia para que o companheiro também aproveitasse.

Assim que a guerra terminou, Modesto retornou a Gaspar e, em seguida, eles noivaram. O casamento aconteceu alguns meses mais tarde. Mudaram-se para o bairro Sete de Setembro, onde começaram a plantar cana-de-açúcar. Após alguns anos, o casal se mudou para o Belchior Baixo, onde dona Ida vive até hoje. Ela e seu Modesto ficaram casados por quase três décadas, até que, devido a uma grave doença, ele faleceu. A saudade que sente do companheiro é visível em seus olhos, mas ela garante que viveu grande parte dos melhores momentos ao lado dele e isto a conforta. Desde então, a simpática senhora nunca mais casou, pois, assegura, marido igual a Modesto não nasce mais.

 

 

Perdas que ensinam a viver

fotopg9retrancacolorMD.jpgA generosidade e a bondade de dona Ida Mitterstein são seus principais valores. Prova disso está num de seus filhos mais velhos, que foi adotado por ela e Modesto quando tinha apenas três anos de idade. O menino não estava recebendo os cuidados necessários e a pessoa responsável por ele não tinha mais condições de criá-lo. Dessa maneira, ela o acolheu e o criou como um filho, dando todo o amor e carinho necessários.

Embora um novo filho tenha chegado à família, dois grandes amores de dona Ida tiveram que se despedir dela. O filho caçula faleceu aos 12 anos de idade, vítima de um grave acidente de trânsito. Imersa em memórias, a doce senhora diz que por três anos não conseguiu abrir um sorriso sequer. ?Meu mundo escureceu?. Anos mais tarde, uma de suas filhas também a deixou. Ainda muito nova, ela teve meningite e isso a deixou com sequelas. Durante quatro décadas, Ida precisou dedicar toda a atenção a ela, já que sua filha não conseguiu se desenvolver mentalmente. A dedicação e o esforço voltados à filha conseguiram mantê-la viva por quarenta anos, até que ela a deixou. Esta perda também deixou uma grande ferida no peito da simpática senhora, que nunca será totalmente cicatrizada.

Apesar de todos os sofrimentos e de todas as batalhas que precisou vencer na vida, ela conseguiu encontrar a alegria necessária para seguir em frente. Hoje, os dias são marcados pelo amor dos quatro filhos, 10 netos e nove bisnetos, que enchem seu coração de felicidade.

 

Edição 1461