O casal de jovens, Nathália Inês Faletti (24 anos) e Felipe Jose da Costa (25), razoavelmente conhecidos em Gaspar, é pivô de um questionamento e de várias respostas. Pego em flagrante pela Polícia Federal e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa - no dia de ontem, terça-feira, comercializando um remédio proibido e contrabandeado, o abortivo Cytotec, o casal nos remete aos tempos atuais. Por que ele teria feito isto? As investigações vão mostrar, além de todos os dados próprios dessas inquirições, que os relacionamentos, as oportunidades e a quebra de valores fundamentaram este lamentável episódio para eles e suas famílias - as mais atingidas.
Todos ficaram surpresos com o caso e principalmente com o envolvimento de Nathália, aparentemente meiga, frágil, educada, prestativa, e também com Felipe. Como ela, ou os dois chegaram a isto? Relacionamentos. Como se estruturaram nisso? Pelas oportunidades que perceberam e a facilidade permitida a ambos na sociedade e nos locais de trabalho pelo uso da internet. Experimentaram a ação comercial. Não encontraram barreiras. Tiveram ganhos fáceis. Melhor do que o próprio trabalho em si onde estavam empregados. Um estímulo para se locupletar nos sonhos, próprios dos jovens. Uma competição desigual, onde a velocidade, a exibição, a comparação e a aparência parece ser o que mais importa. Não a conquista.
Mas, qual foi a barreira que faltou? Primeiro, a dos valores, escassos hoje em dia. Segundo, o próprio ambiente de trabalho, as vezes frouxo nas regras e nas ações, ou em um ou em outro. A casa, a educação, os amigos, e o trabalho são ambientes que sinalizam os limites não da criatividade, da iniciativa, do empreendedorismo, da autodeterminação, mas os morais, das regras, da competição justa e da ética. E é assim nesse desvio errático que perdemos os nossos jovens, que como os políticos no exemplo, querem levar vantagens a todo momento, pois é dessa forma que parte da nossa sociedade reconhece os vencedores e crucifica os perdedores, infelizmente. Nathália e Felipe se arriscaram, levaram vantagens e agora correm o risco de serem os únicos perdedores.
De nada valerá este caso se dele não houver uma reflexão dos jovens, dos pais de adolescentes e jovens, e da própria sociedade em si permissiva a este tipo de reconhecimento torto.
Herculano Domício
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