A troca recente dos governos estaduais e federal tem permitido à população brasileira tomar conhecimento de fatos e episódios de causar repulsa e indignação. E tudo a dizer e a significar que muitos agentes públicos não estão nem aí para a repercussão negativa do rumoroso caso do mensalão e agora do fantástico e inacreditável roubo na Petrobrás, que não se sabe até se terá condições de sobrevivência. A imprensa brasileira tem divulgado esses lamentáveis fatos com o destaque que merecem, publicando inclusive os nomes de muitos desses ladrões da República, muitos dos quais já se encontram na cadeia.
Mas a troca de governos estaduais tem revelado também fatos inusitados e lamentáveis, proporcionado por governadores que deixaram os seus cargos, mas que antes, nos estertores do mandato, assinaram leis e documentos para prejudicar os seus sucessores e também para beneficiar a si próprios. De todos, o fato mais inacreditável e ardiloso vem do Maranhão, protagonizado por Roseana Sarney, que ao despedir-se do governo demonstrou total desprezo pela ética, pela honestidade e respeito ao erário público. Deixou o governo um mês antes, para que o seu substituto temporário, o presidente da assembleia, assinasse uma série de atos comprometedores. O principal deles se referia a benefícios que ela passava a ter direito durante quatro anos.
Pela lei assinada dia 18 de dezembro, Roseana terá direito a um carro oficial e um motorista para os seus deslocamentos. Terá direito também a uma cota de quatro assessores de sua livre escolha com salários de R$ 5,6 mil cada. Dia 12 de dezembro, Roseana foi beneficiada com uma pensão vitalícia no valor de R$ 24 mil, por ser ex-governadora. Não bastasse tudo isso, a ex-governadora do estado mais pobre e abandonado do país ainda vai receber mais uma aposentadoria de R$ 23 mil do Senado da República, por ter sido funcionária daquele parlamento.
Diante do quadro difícil e vergonhoso que o país atravessa, corroído pela corrupção, não se imaginava que agentes públicos ainda praticassem atos dessa natureza. Tinha razão, sem dúvida, o nosso senador Ruy Barbosa, quando, há 100 anos, em repulsa à corrupção já existente naquela época, pronunciou em discurso no Senado a seguinte frase:
?De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus; o homem chega a desanimar-se da virtude; a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.?
Álvaro Correia | Ex-parlamentar
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