- Pai, o que é abelha?
- Abelha, minha filha? Deixovê... Ah! Foi um inseto que viveu há tempos atrás.
- Junto com os dinossauros?
- Não, minha filha. Não faz taaaanto tempo assim. Faz uns cinquenta anos. Ainda deve ter uma ou duas abelhinhas solitárias voando por aí. Talvez na África.
- E o que elas faziam, pai?
- As abelhinhas? Faziam mel.
- Tipo mel Karo?
- Sim, tipo esse, só que muito mais gostoso, natural e benéfico à saúde. Agora vai brincar que o papai precisa achar uns gafanhotos para o almoço.
Este hipotético diálogo talvez seja impossível mesmo em um futuro próximo, porque se restarem apenas uma ou duas abelhas voando pelo continente africano a humanidade há muito terá desaparecido. Ou, por outra, não será a mesma como a conhecemos hoje, e dificilmente haverá sequer gafanhotos para comer.
Li, recentemente, que se as abelhas sumirem do planeta cerca 80% da vida, inclusive a raça humana, sucumbirá. Atribui-se a Einstein a seguinte frase: ?Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência?. Não sei se tanto, mas o assunto é sério. Escrevi no Google ?abelhas em extinção? e surgiram diversos links a respeito do assunto. Fiquei sabendo que a principal causa do fenômeno catastrófico é o uso abusivo de pesticidas em nossas lavouras. Principal, mas não único. O ataque de vespas predatórias também contribui para a diminuição drástica das colmeias.
Já lhes falei sobre o morro rochoso que priva a minha cozinha de sol. Esses dias o meu vizinho pagou um sujeito com fama de alpinista pra roçar a vegetação do morro. Deixou-o na pedra. Imediatamente minha casa foi invadida por aranhas, cobras e abelhas que, perdendo seu habitat, tornaram-se criaturas sem teto.
Os governos de alguns países europeus estão instruindo a população a tomarem algumas medidas para evitar o agravamento desta situação, tais como cultivar flores e não cortar grama com muita frequência. Percebe-se claramente que este é um problema mundial.
Esta semana encontrei em um posto de gasolina da BR470 um argentino cuja missão era salvar as abelhas da extinção. Perguntei por que ele não estava fazendo esse trabalho em seu país, já que lá também deve haver esse tipo de ocorrência. Há, ele me confirmou. Porém, na Argentina, nada, com exceção da saúde pública, funciona, enquanto que aqui no Brasil a preocupação com o meio ambiente é latente e real. Depois ele subiu na sua velha e desbotada minivan carregada com caixas de abelha, deu partida no motor e gritou pela janela antes de pegar a estrada: ?Se o Brasil cuidasse de seus doentes e prendesse os bandidos, este seria o melhor lugar do mundo para se viver?. Pode ser que, pelo menos, as abelhas se salvem.
Maurício Pons - Escritor
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