Thiago Burckhart
Estudante de Direito
A Islândia, país insular do norte da Europa, que comporta pouco mais de 300.000 habitantes foi o berço de uma revolução silenciosa em 2010 que abalou toda a estrutura social, política e econômica deste pequeno país, revolução que ficou posteriormente conhecida como a ?revolução dos potes e panelas?.
Em 2008, a Islândia foi o primeiro país a ser diretamente afetado pela crise financeira, com a quebra do banco islandês Icesave, impulsionado pela quebra do banco estadunidense Lehman Brothers. O país tornou-se um verdadeiro caos. O índice de desemprego pairou os 12% da população islandesa, foram diversas as situações de pessoas perderem seus empregos do dia para a noite, tudo isso devido à dívida dos ricos bancários que quebraram e deixaram a população nadando em um mar de prejuízos.
Entretanto, a população islandesa não se deixou sofrer pela crise. O governo islandês propôs que cada cidadão ajudasse diretamente a pagar a dívida dos bancários, durante um prazo de 15 anos, com 5,5% de juros ao ano mediante desconto na folha de pagamento. Esta proposta foi encaminhada a plebiscito popular, que resultou na rejeição da mesma por 93% da população. Todo o governo islandês, que em 2003 iniciou uma massiva onda de privatização dos bancos e dos serviços públicos, foi demitida. Os bancos foram nacionalizados e bem como os serviços que haviam sido privatizados.
Não obstante, o povo queria mais. Em 2010 uma nova Constituição foi redigida pelo povo. Foram escolhidos 25 representantes que não tinham nenhuma filiação político-partidária, para escrever uma nova Constituição. Esta nova Carta Magna prevê a proteção massiva do meio ambiente, um maior nível de controle social dos governantes e uma maior possibilidade de participação política cidadã.
Parece um sonho? Mas esse sonho tornou-se realidade na Islândia! Um povo que não permitiu ser abalado pela crise econômica, não se sujeitou ao capital, sendo o primeiro país a sair efetivamente da crise econômica, voltando com sua estabilidade financeira no ano de 2011. Além de sair da crise, deu um show de democracia para o mundo, mostrando que a vontade popular está acima de qualquer corporação, de qualquer governo.
Nas palavras do sociólogo ítalo-argentino José Ingenieros, ?na utopia de ontem incubou-se a realidade de hoje ? assim como na utopia de amanhã hão de impulsar novas realidades?, é um pensamento a-histórico dizer que a realidade atual é imutável, a mudança é totalmente possível, basta nós querermos!
Edição 1507
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