Uma pesquisa realizada em Blumenau, no Vale do Itajaí, traçou o perfil dos detentos do Presídio Regional da cidade. A maioria deles tinha baixa escolaridade e até 29 anos quando os dados foram coletados, em novembro de 2015. Na época, o local abrigava 898 detentos. O resultado do levantamento foi divulgado na quarta-feira (29).
“A gente buscou ver quem é o detento de Blumenau, porque que ele está aqui, entender o que leva ele a cometer isso e o que poderia se fazer para resolver o problema”, detalha o estudante de direito João Pedro Sansao, responsável pela pesquisa da Universidade de Blumenau (Furb).
O estudo apontou que 468 dos presos tem até 29 anos. Apesar de jovens, a maioria não completou o ensino fundamental: nove são analfabetos, quatro semianalfabetos, 33 alfabetizados e 444 que tem ensino fundamental incompleto.
“São pessoas que não estão frequentando escola, não conseguem estar trabalhando também e tem essa dificuldade de se inserir no mercado de trabalho”, afirma Lenice Kelner, orientadora da pesquisa.
As profissões mais comuns são de pedreiro, servente de pedreiro, serviços gerais, pintor e auxiliar de produção. Segundo o estudo, 129 detentos estavam desempregados quando foram presos. Dos internos, 323 deles foram para o presídio por tráfico de drogas, 274 por roubo e 152 por furto.
Segundo a orientadora da pesquisa, os dados mostram que existem problemas na forma como são feitas as prisões.
“Com a pesquisa vimos que tem cerca de dez crimes encarcerados e comparando com o sistema brasileiro, tem mais de 1, 2 mil. O que se discute é porque os outros crimes não prendem. Às vezes, com danos muitos maiores, e que não dão cadeia. Por que estamos selecionando sempre as mesmas pessoas? A discussão que a universidade quer fazer com a sociedade é repensar isso: estamos prendendo mal e não reeducamos”, diz Lenice.
Dos 780 presos que estão atualmente no Presídio Regional, 45 estudam. Para o diretor da unidade, Daniel Sena, o objetivo é que 100% deles estejam estudando até o fim do ano.
“A meta é colocar todo mundo que não esteja trabalhando a ter direito ao estudo. Se conseguir chegar ao fim do ano com 100% dos presos do semiaberto estudando, vai ser maravilhoso e é o objetivo”, diz Sena.
"Antigamente, a gente pensava em fechar o preso e não ele deixar ele fugir. Hoje extrapolamos esse pensamento, realmente é ressocializar, trazer os eixos da ressocialização. Preparar essa pessoa para largarmos para a sociedade um pouco melhor”, diz o diretor da Penitenciária Industrial, Marco Antônio Caldeira, que abriga atualmente 110 presos que estavam na época da pesquisa no Presídio Regional.
Cleiton Borges, de 34 anos, aproveitou a prisão para recuperar o tempo perdido. No presídio ele conseguiu terminar o ensino médio, passou na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ganhou uma bolsa e agora se prepara para cursar contabilidade.
“Minha perspectiva de vida mudou totalmente. É sair daqui, ter um futuro, um trabalho, ter uma vida digna. Sem estudo é difícil uma colocação no mercado de trabalho. Muita gente volta para o crime justamente por não ter uma colocação no mercado de trabalho, uma renda decente e acaba voltando a praticar os mesmos delitos”, diz o detento.
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