Uma mina abandonada no Sul de Santa Catarina desde junho de 2015 se tornou um dos maiores problemas ambientais do estado. As galerias abertas para a extração de carvão podem inundar a qualquer momento, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Com isso, a água ácida da mina pode atingir diversas áreas de Criciúma e Forquilhinha.
Santa Catarina produz quase metade de todo o carvão mineral do país. A mina, com 10 quilômetros de extensão, já produziu um milhão de toneladas de carvão por ano.
Abandonada e sem um plano de fechamento das galerias, a mina é atualmente uma bomba-relógio, segundo o MPF.
"Se essa mina inundar de forma irregular, há grande chance de uma área rural que atinge o município de Criciúma e Forquilhinha, de aproximadamente de 300 hectares, se transformar num grande vertedouro de água ácida e provocar um grande dano ambiental sem a mínima capacidade de regressão", afirmou o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Anderson Lodetti Oliveira.
Durante os últimos 40 anos, para extrair carvão, as empresas escavaram até atingir o lençol freático e os poços artesianos. Toda a água vai parar na mina.
"Uma mina de carvão não pode parar de operar. Tem uma série de coisas que têm que ser feitas visando o fechamento", afirmou o geólogo do MPF Sidnei Zomer.
Porém, nada foi feito e o bombeamento da água só continua porque 47 mineiros fazem isso de forma improvisada para salvar os equipamentos. Mais tarde, essas máquinas podem servir para eles receberem parte das dívidas trabalhistas.
"É tudo precário, pode ver. Nós mesmos que estamos fazendo a manutenção das máquinas, de bomba, essas coisas", disse o mineiro Edson Miranda dos Santos.
As bombas drenam 180 litros por segundo. Se esse trabalho for interrompido, a mina pode alagar completamente em 40 dias. Mais de 15 milhões de litros com alta concentração de ferro e manganês saem da tubulação todos os dias.
Com a desativação da estação de tratamento, toda a água ácida que vem de baixo da mina, antes tratada, vai direto para o rio Sangão, que tem coloração amarelada.
"A gente tem uma mina drenando obrigatoriamente essa água do subsolo e jogando no rio. Isso significa um revés para qualidade da água desse rio, da fauna aquática", disse o geólogo do MPF. A água ácida que vai direto para o Rio Sangão pode chegar até o Rio Araranguá, um dos maiores da região.
A água faz falta para a comunidade de São Gabriel, onde 20 famílias já viviam antes da mina ser aberta. A mineração secou os poços artesianos. Como medida compensatória, a Carbonífera Criciúma era obrigada a trazer água num caminhão pipa. Mas, agora que a mina está abandonada, os moradores estão sem abastecimento.
"A mina eu vejo hoje como uma desgraça. Alguns ganharam dinheiro e os outros estão pagando por isso", afirmou o agricultor Mário Westrup.
Outro problema é o depósito de resíduos. Durante as vistorias, os técnicos do MPF descobriram que esse depósito não tem uma camada impermeabilizante de argila. Além disso, as pilhas de resíduos estão a céu aberto. Em uma imagem aérea, é possível se ver uma imensa área negra de 50 hectares. Pilhas e mais pilhas de resíduos de carvão.
O MPF tenta obrigar na Justiça os responsáveis a corrigir o que ainda está em tempo de ser feito. Mas não há prazo para uma sentença definitiva.
A reportagem procurou a Fundação do Meio Ambiente (Fatma) e a assessoria de imprensa informou que só pode se pronunciar após fazer uma vistoria, marcada para esta quinta (14).
A Carbonífera Criciúma não quis comentar sobre a mina.
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