Pequenina, de sorriso largo e um coração gigante. Quem conhece dona Matilde Santinha Bertoldi sabe que a família é o seu maior tesouro. Sua trajetória de vida é marcada por caminhos nobres, que percorrem a fé e devoção religiosa, as tradições italianas, o forte voluntariado, o trabalho na agricultura e a grande admiração por seus descentes.
Mulher forte, de garra e persistência. Bondosa, cheia de alegria e rica daquilo que o dinheiro não compra: amor. Muito amor! É impossível descrevê-la sem falar do carinho que tem pelos filhos, netos e bisnetos, além de agregados e amigos da família. Consequentemente, não há caminhos de contar sua história sem mencionar quão incrível é tê-la como “nonna”.
Portanto, na semana em que comemoramos o Dia dos Avós, a reportagem do Cruzeiro do Vale homenageia a matriarca da família Bertoldi, uma das mais tradicionais de Gaspar. A senhorinha de cabelos brancos, há mais de oito décadas, é símbolo de amor e uma verdadeira inspiração aos gasparenses.
Tudo começou em 5 de junho de 1938, quando Carlos Coradini e Dária Modesta Nicoletti Coradini comemoraram o nascimento de Matilde, a quarta de 14 filhos. Desde muito nova, foi ensinada a respeitar os pais, cuidar da casa e trabalhar na agricultura familiar. Ela e os irmãos ajudavam no cultivo da cana, batata e aipim. Além disso, cuidavam da vaca de leite, do porco e das galinhas.
Matilde aprendeu cedo, com os pais, a seguir os caminhos cristãos. “Me recordo de cuidar das minhas irmãs mais novas na época, as gêmeas. Também de sempre ajudar a mamãe com os afazeres domésticos, ir para o campo auxiliar meus irmãos mais velhos e também de frequentar a escola”, comenta dona Matilde.
Ela teve uma infância sem luxo, em uma casa simples. “Brincávamos entre os irmãos, também com os primos e crianças da vizinhança. Naquela época, brincar na rua com os amiguinhos não era tão perigoso. Quase não tinham carros na estrada e todos os moradores se conheciam bem”, conta. A rotina da família era rigorosa na participação das missas. “Todo domingo e segundas-feiras a gente ia à igreja. Gostávamos de acompanhar as palavras do frei”.
Matilde estudou até o quarto ano na escola que hoje é chamada de ‘Professora Ana Lira’, que inclusive é em homenagem a uma tia. “Eu e minha irmã mais velha revezávamos a ida na escola para a mamãe ter sempre alguém para ajudar em casa”, conta.
O tempo passou, Matilde cresceu, se manteve unida à família e firme nos valores que aprendeu em casa. Logo no início da vida adulta conheceu seu grande amor, Hercílio Bertoldi (in memoriam). Após dois anos de namoro, eles casaram no dia 18 de abril de 1959. Com isso, foram morar juntos. Na casa, morava o casal, a sogra de Matilde, uma filha do primeiro casamento de Hercílio, que era viúvo; e dois pedreiros que construiam o engenho.
A rotina da família se baseava em muito trabalho. “Eu continuei cuidando da casa e trabalhando na roça. Lembro de lavar as roupas no ribeirão, ajoelhada nas pedras. Minha sogra também ajudava em tudo. Toda noite comíamos arroz com feijão. Hercílio acordava antes mesmo do dia começar. E trabalhava até muito tarde”, conta.
Não demorou para que o primeiro filho do casal nascesse. “Quando tinha sinal de filho, o Hercílio pedia ajuda para o único que tinha caminhonete no bairro, um amigo da família, para buscar a parteira. Todos os meus partos foram em casa”, relembra emocionada. Ao todo, Matilde e Hercílio tiveram seis filhos juntos: Nivaldo, Ademir, Celina, Lovídio, Pedro e Dionísio. Além disso, ambos criaram Erna, filha do primeiro casamento dele.
As crianças tiveram a mesma criação que Maltide recebeu dos pais. Estudavam, ajudavam em casa, frequentavam a igreja e tinham muito respeito pela família. “Sempre de roupa limpa... a comida era simples, mas tinham o essencial. De vez em quando, tinha algo diferente para comer, geralmente quando tinha visita. Eu fazia um café, bolinho e pão. Para assistir a missa, todos eles iam na carroça”, afirma.
O amor pela família é algo que nem precisa ser dito, transparece em seu rosto ao ser questionada sobre os filhos, noras, genro, netos, agreados, bisnetos e demais familiares. “É tradição... todo domingo, a família vem aqui em casa para nos reunirmos. Quando chega sexta, peço para minha neta Bruna mandar mensagem aos primos e tios para saber quem vem ver a nonna”, conta feliz da vida.
Os olhos brilham, as mãos gesticulam com afeto e apontam para a cozinha da casa, espaço que comporta os encontros familiares. “Eu sempre pergunto pois sei que às vezes aparecem imprevistos, então é bom saber quantos vêm para preparar as refeições. Eu faço bolo, café, docinhos... tudo com muito amor. É claro que a família ajuda, todos amam ajudar a nonna”, explica.
A casa da nonna está sempre pronta para receber a família. “Eu tenho um cantinho onde guardo os brinquedos dos netos mais novos e bisnetos. Eles adoram. E eu também. É muito bom vê-los felizes, gargalhando. Minha maior alegria é ter essa casa cheia, com meus filhos saudáveis, netos estudando e trabalhando, bisnetos sempre juntinhos de mim”, reflete dona Matilde.
A família Bertoldi é, certamente, uma das mais tradicionais do bairro Alto Gasparinho e admirada em toda cidade.
A nonna é apaixonada pela tradição italiana, da qual é descendente. Inclusive, até hoje participa ativamente da organização dos eventos do Circolo Trentino di Gasparin, por exemplo. “É lindo! Sempre me emociono com o preparo das comidas, com a cantoria do grupo e com o grande reconhecimento da comunidade”, explica.
E essa dedicação se aplica ainda à costura. “Quando eu era jovem, quis aprender a costurar pois naquela época minha família não tinha condições de comprar roupas. Então ganhei uma máquina de costura e comecei a fazer minhas peças de roupas. O tempo passou e fiz as roupas dos meus filhos. E até hoje tenho a mesma máquina, guardo com muito carinho”, conta a nonna.
Basta visitar dona Matilde para entender que o capricho no cuidado da casa faz parte do seu dia a dia. “Eu amo meu cantinho, quanta história vivemos em família nessa casa. Cuido com carinho também da minha horta. Adoro cultivar e colher”, conclui. A sabedoria da nonna, no auge dos seus 85 anos, é inspiradora e cativa todos a sua volta.
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