O batalhão do Corpo de Bombeiros Militar de Blumenau vai tomar medidas internas em relação ao não atendimento do senhor Irineu Varella, de 78 anos, que caiu e se machucou no Centro de Gaspar. O caso aconteceu na terça-feira, dia 9 de março, nas proximidades da escadaria da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. Conforme testemunhas, a ligação para a central foi estressante e longa o suficiente a ponto de o comunicante desligar o telefone para encontrar alguém que pudesse levar o idoso ao hospital.
O taxista Bertildo Zeitz presenciou o ocorrido e conta como tudo aconteceu: “O seu Irineu vinha a pé, empurrando sua bicicleta, quando passou mal. Simplesmente caiu na calçada e bateu a cabeça. Na hora, começou a sangrar muito. Me assustei e logo corri para ajuda-lo”.
Logo em seguida, seu Irineu acordou com a fala enrolada e alegando dores fortes. Diante da situação, Zeitz imediatamente ligou para o 193. “A gente confia no trabalho dos bombeiros. Eles são verdadeiros heróis. Quando peguei o telefone para ligar, jamais imaginei que seria mal atendido. Achei que rapidamente chegaria uma ambulância para levar ele até o hospital em segurança”.
Confira áudio com a ligação no fim da reportagem
Do momento em que a central atendeu a ligação até o momento em que o taxista desligou o telefone, foram cerca de quatro minutos. Toda a conversa foi gravada por um aplicativo instalado no celular de Zeitz. “O bombeiro fez diversas perguntas, o que eu super entendo, pois ele precisa saber do que se trata. Mas, de certa forma, tudo o que eu informava parecia pouco para ele considerar repassar a ocorrência à guarnição de Gaspar”.
Inconformado com o rumo do chamado por socorro, o taxista desligou o telefone de forma repentina. “Confesso que me alterei no fim da conversa. Só que é impossível não ficar nervoso após duvidarem das minhas palavras enquanto vejo um idoso com a cabeça toda ensanguentada. Precisava dizer o que para o atendente acionar a ambulância? Que a vítima morreu? Aí já não adiantava mais”.
Quem também testemunhou o ocorrido foi o taxista Valmor Muller. “Apesar de ter sido uma pequena queda, seu Irineu bateu a cabeça. Foi um acidente grave. Trabalhei 32 anos em uma farmácia, sei muito bem definir quando é ou não necessário acionar os bombeiros. Porém, pela ligação que meu colega fez, parecia que o atendente duvidava da nossa palavra. Estou decepcionado”.
Muller lembra que, após seu colega desligar o telefone, a central retornou o contato e ele mesmo atendeu à ligação. A conversa não foi gravada pelo aplicativo, mas Muller garante que teve o mesmo tom da primeira e o socorro não foi chamado.
Por coincidência, o filho de Irineu passou pelo local logo em seguida e viu o pai naquela situação. Ele mesmo levou o idoso ao hospital. “Imagina a apreensão que esse rapaz passou”, destaca Muller.
Em nota à reportagem do Cruzeiro do Vale, o primeiro tenente Fillipi Pamplona, chefe de comunicação do batalhão, destaca que a Central de Operações do Corpo de Bombeiro Militar de Blumenau confirma que a ligação gravada é verídica e que reflete o diálogo entre um atendente militar e um civil que solicitava socorro. “Entendemos a indignação do solicitante, pois a chamada teve uma duração mais prolongada que o normal e, infelizmente, resultou no não atendimento da vítima. O comando vai tratar o caso para que não ocorra novamente. Não é aceitável que uma ocorrência real não seja atendida”.
Ele disse ainda: "cabe ressaltar que a intenção do militar que efetuou o atendimento foi entender qual era o tipo de emergência a ser atendida para destinar o melhor serviço disponível. Explico: quando se trata de trauma, ou seja, de ocorrência em que um impacto externo ao corpo provoca lesão à vítima, o atendimento é realizado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina; já num caso clínico, ou seja, ocorrência que se origina no próprio corpo do paciente, sem agente externo, o atendimento é realizado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. Por isso, o atendente perguntou diversas vezes a origem da queda, pois se houvesse confirmação de que havia sido por desmaio, o despacho seria feito ao Samu. Fosse uma simples queda da própria altura com confirmação do trauma, o atendimento seria realizado pelo CBMSC."
No Hospital de Gaspar, seu Irineu recebeu os cuidados necessários e foi submetido a cinco pontos na cabeça. O idoso tem 78 anos, mora sozinho no bairro Gaspar Mirim, e trabalha como catador de latinhas.
Todas as pessoas que acionam o Corpo de Bombeiros em Gaspar e região pelo 193 são atendidas pela Central de Atendimentos de Blumenau. Após o repasse de informações, a central encaminha o chamado à cidade destino. No caso da ocorrência envolvendo seu Irineu, os bombeiros de Gaspar não chegaram a ser acionados pela central e, portanto, não tiveram relação com a falta de atendimento.
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).