Entre as palavras que melhor descrevem Rosalina dos Santos Schramm, está ‘dedicação’. Uma mulher guerreira que cresceu na cidade Coração do Vale para fazer o bem ao próximo. Na contagem regressiva para a chegada dos seus 87 anos, ela fala sobre a linda família construída, o trabalho na comunidade, a devoção religiosa e o desenvolvimento do município.
Dona Rosa, como é carinhosamente chamada, nasceu em 23 de dezembro de 1934, alguns meses após a emancipação político-administrativa de Gaspar. Natural de Itajaí, foi adotada com apenas 15 dias de vida pela família Zuchi, tradicional por aqui. Neste momento, a história dessa mulher tão batalhadora se encontrou com a cidade em que hoje ela guarda tantas lembranças. Suas memórias são tão amadas que escorrem pelos olhos. São lagrimas de alegria.
A história de dona Rosa começou no bairro Salseiros, em Itajaí. “Meu pai era marinheiro, viajava de Santos para o estrangeiro, levando soldados para guerra. Ele faleceu de febre amarela, no navio, quando minha mãe estava grávida de mim. Éramos em seis irmãos”. Tudo aconteceu em uma época muito difícil e a mãe de dona Rosa colocou as crianças para adoção.
Muito frágil e pequena, ela foi acolhida com todo o amor do mundo por Rosa Assini Zuchi e José Zuchi, seus pais de coração. “Eles já tinham 11 filhos, todos homens. Fui criada numa casa repleta de carinho e bondade. Eu via coisas bonitas sempre”.
Foi nesse mesmo lugar que aprendeu lições para a vida inteira. O trabalho sempre foi pesado, mas gratificante: “Tínhamos engenho de farinha, de açúcar... uma barbaridade de arroz! Eu vivia da lavoura. Era muito gado e muito leite. Graças a Deus, sempre com a mesa farta. Quando meu pai fazia aquela roça grande, que derrubava mato, ele fazia mutirão para reunir a vizinhança e servir paneladas de macarrão, às vezes, galinhada”, recorda.
Para dona Rosa, os valores repassados pelos pais são verdadeiros tesouros. “Para mim, desde novinha, era a coisa mais linda ajudar o próximo. Hoje, sou assim, tenho piedade. Doar coisinhas que temos a mais... Meu pai sempre prometia as maiores melancias à Festa de São Pedro, para colaboração com a igreja”.
Da mãe, tem lembranças muito bonitas também. “Mãe Rosa era zeladora da igreja. Íamos à missa todo domingo. Na primeira sexta-feira de cada mês também. Fomos criados por ela com uma educação muito boa”.
De uma família católica surgiu o respeito pela palavra de Deus. Dona Rosa tem recordações importantes da vida religiosa desde muito jovem. Aos nove anos de idade, um padre de São Paulo veio a Gaspar fazer coleta para o seminário. Na oportunidade, ele perguntou se a menina Rosa já havia tomado a comunhão. Com uma resposta positiva, propôs um acordo. Passadas mais de sete décadas, ela ainda fala com emoção do ocorrido. “Frei Godofredo, vigário da igreja, ouviu a conversa e contou que tinha sido meu catequista. Então, o outro padre tirou um Santo Evangelho antigo da mala e pediu que eu lesse um trechinho do nascimento do menino Jesus”.
Como soube ler e interpretar a palavra, uma surpresa: ela ganhou o Santo Evangelho. “O padre disse que era para eu ler pelo resto da vida. E assim eu faço. Tenho até hoje! Dá até ânsia de choro, porque é uma das coisas mais lindas que eu ganhei”.
Sem dúvidas, a devoção religiosa tem grande importância na formação da mulher forte que é dona Rosa. Uma inspiração.
A fraterna Rosa conheceu aquele que se tornaria seu marido em uma domingueira. “Meu irmão me convidou para dançar na oficina de móveis do seu Olímpio Zuchi, pois vinha um tocador de Brusque. Eu não costumava ir em bailes, mas naquele dia aceitei participar”. Na época, com 16 anos, dançou a tarde toda com o jovem Lauro Hilário Schramm. “Dali para frente, namorei com ele por mais de quatro anos e então casei”.
O casal passou um tempo na casa dos pais de Lauro e depois veio morar no bairro Macuco, onde dona Rosa vive há 65 anos. “Tivemos 15 filhos, sendo um deles adotado. Criei todos com muito amor. Eu agradeço a Deus pela minha família, que é grande. Amo um por um. Todos estão dentro do meu coração. Eu só peço a Deus saúde, paz, amor, união”.
Muito emocionada, dona Rosa fala do sentimento que carrega no peito: “Além dos 15 filhos, tenho 25 netos, 15 bisnetos e 29 agregados. Que alegria os ter em minha vida. Sei que todos me amam também, porque é maravilhoso amar. Muito obrigado, senhor Jesus”.
A lista de atividades realizadas por dona Rosa é grande e carrega um significado especial. “Sempre gostei de fazer o bem e me envolver com o interesse da comunidade”. Ela foi ministra da eucaristia, deu aulas, fez parte da pastoral da saúde, foi coordenadora da terceira idade, integrou o clube de mães e muito mais.
Estudar também sempre foi uma paixão. “Aprendi muitas coisas boas e Deus me deu o dom de fazer massagem e benzer de arca caída. Já tirei muitas dores. O povo pedia muito para eu fazer oração. Minhas mãos são abençoadas”.
Dona Rosa fala sobre o desenvolvimento de Gaspar com o olhar de quem cresceu junto com a cidade. Conforme suas lembranças, havia poucas igrejas por aqui. Na região onde fica atualmente a Rádio Sentinela do Vale e pela extensão da Avenida das Comunidades, havia apenas casinhas pequenas, de madeira.
Ela lembra também que, no período da sua infância, quem queria trabalhar na indústria precisavam ir a Blumenau, pois em Gaspar não tinha firma. Foi na sua juventude que a cidade passou a se desenvolver com mais rapidez. Até na época em que casou, as estradas eram todas de barro. “Construir a cidade que vivemos hoje não foi fácil. Precisou de muito empenho, planejamento e dedicação. Eu desejo ainda mais conquistas para nosso município. Tenho orgulho de morar aqui”.
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