Frei Antônio Moser morre em tentativa de assalto no Rio - Jornal Cruzeiro do Vale

Frei Antônio Moser morre em tentativa de assalto no Rio

09/03/2016

GASPAR DE LUTO

O frei Antônio Moser, 75 anos, nascido em Gaspar e que atuava como diretor-presidente da Editora Vozes, em Petrópolis (RJ), foi morto em uma tentativa de assalto por volta das 6h desta quarta-feira, dia 9. Segundo informações do jornal O Globo, ele dirigia um automóvel Honda Civic pela rodovia Washington Luiz, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em direção ao Rio de Janeiro quando teria sido baleado por dois criminosos em uma moto. Os criminosos fugiram sem levar o veículo.

Ainda de acordo com o jornal, mesmo baleado, Frei Moser conseguiu levar o carro até o acostamento. A concessionária que administra a rodovia chegou a acionar uma ambulância, mas frei Moser já estava morto. Os policiais isolaram a área e acionaram a Divisão de Homicídios. A informação da morte foi confirmada por um familiar gasparense e também pelo jornal Tribuna de Petrópolis, onde o frei trabalhava.

No momento do crime, Frei Moser estava a caminho de São Paulo, onde gravaria o programa “Pelos caminhos da fé” para a emissora Canção Nova. Frei Moser conciliava várias funções, como diretor-presidente da Vozes, professor do Instituto Teológico Franciscano, ITF, em Petrópolis (RJ) pároco de Santa Clara, membro da Comissão de Bioética da CNBB, coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da UCP, conferencista, coordenador do projeto social Terra Santa e escritor.

No ano passado, em outubro, ele foi o único teólogo brasileiro nomeado para o Sínodo da Família, realizado no Vaticano juntamente com o papa Francisco.

Província e Editora Vozes se manifestam sobre morte de Frei Moser

Em nota no site da Província Franciscana, o ministro provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, pediu orações e lamentou a morte trágica de Frei Moser:

“A dura realidade que povoa com frequência os nossos noticiários bate à nossa porta. Com susto e tristeza recebemos a notícia da partida repentina de um irmão, vítima da violência que infelizmente tem se tornado cada vez mais comum. Frei Antônio Moser sempre teve como marcas o entusiasmo e a determinação. Atuou em muitas frentes simultaneamente, desde o estudo e a pesquisa, o trabalho pastoral, as aulas, conferências, o trabalho na comunicação, a dedicação a obras sociais. Especialmente nas décadas de 1970 e 1980, dedicou-se de corpo e alma ao pastoreio de comunidades da Baixada Fluminense, atuando na formação do povo e na construção de igrejas. Hoje, infelizmente, devolvemos a Deus a vida deste irmão, vítima de assassinato na mesma Baixada que tanto amou. Que sua partida leve toda a sociedade a buscar caminhos alternativos, que vençam a violência e a dor, que suplantem a injustiça e a morte, que abram para o mundo um horizonte de esperança. Para nossa Província fica um vazio e aumenta nossa responsabilidade em levar adiante o legado por ele deixado”, afirmou.

A Editora Vozes distribuiu o seguinte comunicado:

“Comunicamos com imenso pesar o falecimento de Frei Antônio Moser. Pedimos a todos e todas união e força neste momento inesperado e difícil e que possamos continuar unidos na fé e esperança da ressurreição”, escreveu Frei Volney José Berkenbrock, que dividia com Frei Moser a direção da Vozes.

A Editora Vozes informou que ainda não foi definido o horário do velório e sepultamento. Mais informações devem ser divulgadas durante o dia.

Natural de Gaspar, frei teve vida dedicada à igreja e à literatura

No último dia 13 de dezembro, há três meses, Frei Moser esteve em Gaspar para a comemoração de seu jubileu de 50 anos de vida sacerdotal. A data foi celebrada com um almoço e com celebrações em Petrópolis (RJ) e Gaspar. Natural de Gaspar, da região do Gaspar Grande, frei Antônio Moser ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 19 de dezembro de 1959. Fez a profissão solene no dia 1° de fevereiro de 1964 e foi ordenado sacerdote no dia 15 de dezembro de 1965.

Estudou Filosofia e Teologia em Petrópolis, cursou licenciatura em Teologia em Lyon, na França, e doutorado em Teologia, com especialização em Moral, na Academia Alfonsianum, em Roma. Durante 10 anos lecionou Teologia Patrística na Pontifícia Universidade Católica, PUC, do Rio de Janeiro. É autor de 27 livros, vários deles traduzidos para outras línguas. Construiu 15 comunidades de fé na Baixada Fluminense e em Petrópolis.

Atualmente atuava como diretor-presidente da Editora Vozes, professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano, ITF, em Petrópolis, e pároco da Igreja de Santa Clara, além de membros de importantes entidades religiosas e conferencista no Brasil e no exterior.

Confira abaixo a entrevista dada ao Jornal Cruzeiro do Vale por frei Antônio Moser dias antes da celebração de ordenação, em dezembro:

Jornal Cruzeiro do Vale: Qual a sensação de estar retornando a Gaspar para uma data tão especial como os 50 anos de sacerdócio? Quais as principais lembranças que guarda da cidade até hoje?

Frei Antônio Moser: Saí criança de Gaspar e só retornava esporadicamente. Entretanto, ao longo destes anos todos, Gaspar sempre esteve no meu coração. Cada passagem significava sempre uma injeção de ânimo na minha vocação. Vendo a Igreja cheia, o povo rezando e cantando com fervor, sempre senti que ao menos em Gaspar a fé continua viva. Ao lado disso, naturalmente as lembranças se ligam à minha infância, quando ajudava a missa do “tio” Frei Solano Schmitt e acompanhava Frei Godofredo. Todos os franciscanos que conheci em Gaspar me marcaram positivamente, mas esses dois foram os que deixaram marcas mais profundas. Tio Solano como o homem piedoso e de uma bondade que cativava a todos. Frei Godofredo era a expressão do empreendedor zeloso e corajoso. De alguma forma, como criança, acompanhei a construção da Igreja de Gaspar, tendo inclusive participado de uma pré-inauguração em 1950, quando todos foram convidados a vir com seus animais: cavalos, bois... Eu atravessei a nave da Igreja ainda não acabada montado a cavalo. Ora, acho que aqui está uma explicação do porque consegui conciliar a vida intelectual, escrevendo 27 livros e inúmeros artigos com a vida pastoral direta. Ao todo estive à frente da construção total ou parcial de nada menos do que 16 comunidades de fé, que hoje constituem três paróquias. Eu continuo páraco da Santa Clara.

CV - O senhor ainda mantém familiares aqui?

Moser: Só vive ainda minha irmã religiosa, Irmã Maria, que está em Itajaí com seus 82 anos. Todos os outros irmãos são falecidos. Mas é claro que sobram numerosos sobrinhos e sobrinhas, sem falar de primos e outros parentes. Sempre que passo, ainda que rapidamente por Gaspar, procuro dar a eles um alô. Meus parentes sempre me apoiaram em tudo.

CV: Recentemente, o senhor participou do Sínodo dos Bispos, no Vaticano. Como foi ter um contato tão próximo com Papa Francisco? De que forma enxerga os posicionamentos do papa?

Moser: Desde criança sempre tive muita devoção a Santo Antônio. Pela sua intercessão sempre consegui tudo o que pedi. Mas nunca tinha pedido e nunca tinha imaginado que um dia receberia um convite tão extraordinário, e logo do Papa Francisco, para participar de um Sínodo dos Bispos sobre a Família. No início, pensei que fosse brincadeira. Foi uma experiência extraordinária. Ali estavam presentes 270 bispos do mundo inteiro, representantes de Igrejas cristãs não católicas, leigos, discutindo com toda a liberdade, representantes de tantas culturas e ritos diferentes, que parecia um verdadeiro Pentecostes...
Quanto ao Papa Francisco: circulava livremente entre nós, deixando-se fotografar, tomando café com a gente, criando um clima ao mesmo tempo de liberdade de expressão e de fraternidade. Aconteceu um grande milagre, mais importante do que o próprio texto, que ainda vai ser traduzido para o português: todos desceram dos seus tamancos. Patriarcas, Cardeais, arcebispos, bispos, peritos, leigos, todos convivendo na maior simplicidade. Que beleza. Esse é o novo Francisco de Assis que irradia uma energia poderosa de paz e alegria evangélica. Suas tomadas de posição não apenas são corajosas, mas traduzem a Igreja de Jesus Cristo nos seus primórdios: todos tinham tudo em comum, mesmo em meio a eventuais divergências. Não é teólogo de profissão, não é administrador formado, não é grande orador, mas fala e age como quem tem autoridade. E por isso mesmo está conseguindo transformar uma igreja do “não pode”, “não deve”, numa Igreja do “sim” de Maria.

 

Missa e almoço marcam 50 anos de sacerdócio

Em dezembro, frei Antônio Moser reuniu familiares e amigos para um almoço festivo em comemoração aos seus 50 anos de sacerdócio. o almoço aconteceu no Restaurante Questão de Gosto, após missa na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. Confira algumas fotos:

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Comentários

JORGE ALMADA
10/03/2016 10:53
Sou Cristão e como Cristão luto pela PRESERVAÇÃO DA VIDA. A implantação da Pena de MORTE no Brasil não resolverá nossos problemas mas ajudará muito na INIBIÇÃO dos crimes violentos e covardes que ocorre no dia a dia.

A cada 5 anos temos 265.000 mil vitimas o equivalente as mortes pela bomba atômica jogada em Hiroshima e Nagazaki. O PAÍS QUE MAIS SE MATA NO MUNDO!

A execução destes criminosos declarados contribuiriam muito para INIBIR novos crimes E PRESERVAR A VIDA DE MILHARES DE INOCENTES.

Se fosse pela situação de pobreza e falta de instrução a África e alguns países da América Latina teriam índices altos destes tipos de crimes.
ANELORE M LINHARES
09/03/2016 22:16
Frei Antonio vai deixar saudades,lembro que em 1987 quando veio os Missionários para Gaspar no inicio da comunidade Santa Terezinha Frei Antonio era o padre que acompanhou os trabalhos com o povo de Santa Terezinha , fomos visitar pessoas doentes e ele muito caridoso dou colchões e alimentos para as pessoas necessitadas, ja faz 29 anos. esse exemplo levo em minha vida.terminou sua missão na terra deixando muita saudades, mas muitas lembranças boas um padre com muita sabedoria agente sentia prezer em ouvi-lo.
Vera Lúcia vanzuita jansen
09/03/2016 14:18
Toda nossa igreja de luto, padre com grandes responsabilidades e anseios a favor do povo.
Como tantos morrem vítimas da maldade humana, e do descontrole social.

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