Compra gera polêmica
Por Ana C. Bernardes
Inconformado e decepcionado. Foi dessa maneira que Fabrício Rafael Hang, 32 anos, se sentiu após adquirir um produto da loja Salfer de Gaspar. Cliente do estabelecimento há mais de 12 anos, o morador do bairro Figueira comprou dois aparelhos de ar-condicionado split da marca Springer Carrier na segunda-feira da semana passada, dia 13. Ele pagou o valor de R$1.400 em cada um, sendo que instalaria em sua própria casa devido ao calor intenso que vem sendo registrado nos últimos dias.
Fabrício só conseguiu encontrar uma pessoa para instalar o aparelho no sábado, dia 18. Porém um deles, que seria colocado no quarto de sua filha de um ano de idade, apresentou problemas com o compressor. Na manhã de segunda-feira, dia 20, uma semana após ter adquirido o produto, ele ligou para a loja para explicar a situação. ?A gerente só me atendeu à tarde, quando liguei novamente, e me disse que não poderia trocar e que eu teria que entrar em contato com a assistência técnica. Ela foi grossa e não tentou me ajudar?, explica.
Saiba mais sobre o caso de Fabrício AQUI.
O cliente destaca que aceitaria trocar por outro produto ou até mesmo ficar com o crédito para poder adquirir algo mais tarde, mas afirma que a gerente falou que isso não seria possível. ?Quando comprei este ar-condicionado, a caixa estava aberta e até cheguei a questionar a vendedora dizendo que o produto seria do mostruário. Ela negou. Não acho certo agora ter que esperar tanto tempo para ter meu ar-condicionado. Daqui a pouco, o calor passa e nem vou precisar utilizá-lo?, ressalta.
Fabrício esteve na loja Salfer na manhã de terça-feira, 21, com o aparelho para mostrar à gerente e tentar algum acordo. Novamente, ele foi informado de que a loja não poderia fazer nada. ?Fiquei algum tempo em frente à loja, mas ninguém me ajudou. É uma grande falta de respeito com um cliente de tanto tempo. Depois dessa, não pretendo comprar mais nada aqui?. Após o incidente, ele levou o produto para a assistência técnica em Blumenau. ?No dia 27 de janeiro, eles vão verificar o problema. Depois disso, a assistência me informou que tem mais 30 dias para devolvê-lo?.
A reportagem do Cruzeiro do Vale tentou conversar com a gerente da loja Salfer de Gaspar, porém ela informou que não poderia se manifestar sobre o assunto.
O que diz o Procon
O cliente Fabrício entrou em contato com o Procon que o orientou na resolução do problema. De acordo com o coordenador do Procon de Gaspar, Roberto Procópio de Souza, a loja não tem a obrigatoriedade de efetuar a troca do produto antes de mandá-lo à assistência técnica, já que não há regulamento algum que autorize a troca imediata do produto. ?Embora o consumidor tenha sido lesado, a medida correta seria encaminhar o aparelho à assistência técnica. Entretanto, a loja deveria ter, no mínimo, o auxiliado a realizar os encaminhamentos necessários?, explica. Ainda conforme Roberto, a empresa responsável tem até 30 dias para tentar reparar o produto. ?Nestes casos de problemas com produtos, a responsabilidade não é apenas do fornecedor, mas também dos revendedores, distribuidores e todos aqueles que participam do processo de venda. Por isso, não adiante jogar a culpa apenas para o fornecedor?, ressalta.
Em casos como estes, é necessário que o cliente procure pelos seus direitos, junto ao Procon ou um advogado. De acordo com a advogada Maria Salete Schmitt, se for constatado que o defeito foi devido à má instalação o cliente deverá tentar resolver com o técnico, caso contrário, com o auxílio de um advogado, poderá demandar ação judicial (juizado de pequenas causas cíves) para reaver o valor pago pelo aparelho e eventuais despesas. ?Se for comprovado que o aparelho estava com defeito, o consumidor tem o direito da devolução do valor pago ou a devida troca do aparelho?, afirma. Maria Salete explica ainda que, conforme artigo 26 do Código de Defesa do Consumidor, o prazo para reclamar de vício oculto, ou seja, difícil de se notar, o que foi o caso, é de 90 dias a partir do conhecimento do defeito.
Vale a pena saber
De acordo com o Art. 18 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, de 20 de março de 1997, se o vício (problema) do produto não for sanado no prazo máximo de 30 dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; o abatimento proporcional do preço. É obrigatória a presença do Código de Defesa do Consumidor em todos os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços em território nacional.
Repercussão
O caso de Fabrício Hang ganhou destaque e grande repercussão no portal de notícias do Cruzeiro do Vale e na página do Facebook durante esta semana. Dezenas de outros clientes insatisfeitos com lojas de móveis e eletrodomésticos da região se manifestaram a respeito, apoiando ou até mesmo discordando da situação. Muitos relataram histórias semelhantes, em que os estabelecimentos não atenderam de maneira correta os clientes em casos de produtos com defeitos. Confira no quadro abaixo alguns dos comentários deixados por leitores no portal de notícias e no Facebook do Jornal Cruzeiro do Vale:
Chico - Portal Cruzeiro: Também já fui alvo desta loja, uma vergonha! Parabéns ao jovem que teve coragem. É assim que se faz!
Gislaine - Facebook: Já comprei produtos que vêm arranhado, quebrado ou peça que fica na loja para demonstração do cliente. Eles mandam para a sua casa!
Letícia - Facebook: Produtos assim tem que evitar comprar nessas lojas! Comprar somente com quem entende e faz a coisa certa, ou mesmo, direto com empresas que trabalham com esse tipo de aparelho.
Priscila - Facebook: Infelizmente o consumidor NUNCA tem razão. O canal é boicotar as lojas que agem desta maneira e fazer com que sintam que o consumidor não precisa delas, mas sim elas do consumidor.
Thiago - Portal Cruzeiro: De tanto me incomodar nessas lojas com mercadorias batidas, riscadas faltando peças etc, deixei de comprar. O detalhe é que há oito anos faço compra pela internet em lojas bem famosas e nunca me incomodei com nada, por isso só compro de empresas competentes e sérias online. Inclusive já me estressei com essa loja também.
Colocar o cliente em 1º lugar é fundamentalToda empresa deve ter como missão oferecer à comunidade em seu entorno produtos e serviços que melhorem a qualidade de vida das pessoas. Para isso, é necessário que ela dê prioridade aos clientes, já que este precisa ser visto como a razão de existir de toda organização. Segundo a palestrante motivacional e consultora corporativa nas áreas de gestão, comunicação e comportamento, Cíntia Lopes, a empresa que só visar ao lucro, sem priorizar o atendimento ao cliente, deixará de existir em pouco tempo. Para ela, a loja que deseja fidelizar seus clientes precisa entender que a verdadeira venda começa quando o cliente retorna à empresa pela segunda ou terceira vez. ?Criar uma relação de confiança e de credibilidade leva tempo. Na hora de contratar profissionais para a área de atendimento e vendas, a empresa precisa selecionar pessoas que gostem de pessoas e que tenham interesse por servir?, ressalta. Em casos de problemas entre loja e consumidor, como os da rerportagem ao lado, Cíntia afirma que a empresa tem o dever e a responsabilidade de ajudar o cliente a resolver qualquer problema relacionado a produtos e serviços que não estejam de acordo com o prometido na hora da venda. Salvo em casos de avarias provocadas por mau uso ou falta de conhecimento do cliente, ela deve substituir ou providenciar o conserto do produto sem maiores questionamentos. ?Treinar incansavelmente a equipe de vendas para ajudar o cliente a entender seus direitos e deveres é fundamental?, destaca.
Casos são bastante comuns no comércio de Gaspar
Os problemas que Fabrício precisou enfrentar acontecem diariamente com diversos clientes. Assim como ele, o consumidor de uma loja de Gaspar do mesmo segmento, Emerson da Silva, está se incomodando com a falta de preparo do estabelecimento em casos de produtos com defeitos. Emerson adquiriu um aparelho celular da marca Samsung no início de novembro de 2013. Poucos dias após a compra, o aparelho começou a apresentar problemas na tela.
Ele voltou à loja somente no dia 6 de dezembro para relatar o defeito. ?A vendedora foi muito educada comigo e disse que mandaria o celular para a assistência e que em um mês ele chegaria à minha casa?, explica. No final de dezembro, Emerson recebeu a caixa do aparelho, onde informava que ele teria sido encaminhado para o reparo no dia 23 de dezembro. ?Achei estranho chegar tão cedo e estava certo. Assim que abri a caixa havia outro celular completamente diferente do meu?, destaca. Emerson voltou à loja em seguida e descobriu que seu celular tinha sido colocado na caixa errada. Nove dias depois, ele foi novamente ao estabelecimento para tentar negociar com a vendedora, pois já não queria o aparelho com problemas. ?Ele ainda está na assistência técnica, mas tentarei conseguir um novo. Não acho justo ficar sem meu celular por tanto tempo e ainda ter que pagar por algo que apresentou defeitos?.
Emerson já chegou a ir ao Procon por diversas vezes para saber de que forma poderia agir. Caso o aparelho não seja trocado, ele afirma que pretende não adquirir produto algum no local. ?Embora tenham me atendido de forma atenciosa, acredito que a loja não instrui seus funcionários a agir da melhor maneira possível nesses casos. É uma situação difícil?, opina.
Demora no atendimento
Em 2008, após perder alguns móveis devido à enchente que atingiu a cidade, Janaína Till também comprou alguns produtos em uma loja de móveis de Gaspar, entre eles um armário. No dia da entrega, a loja comunicou não ter o produto em estoque e a cliente levou o que estava em mostruário. ?Eu tinha visto ele e observei que estava sem arranhões e em ótimo estado. Acabei aceitando?, afirma.
No momento da entrega, a equipe quebrou um dos pés do armário e prometeu arrumar no outro dia, mas o conserto só foi realizado em uma semana. ?Pouco tempo depois, o pé quebrou novamente e me disseram que não poderiam arrumar. Foi uma grande falta de respeito comigo, que sou cliente há anos. Nunca mais voltei à loja?, ressalta. Para a consumidora, o caso mostrou a falta de comprometimento dos funcionários com seus clientes.
Procon registra mais de 290 reclamações
De 18 de agosto de 2013 e 22 de janeiro de 2014, o Procon de Gaspar já recebeu 293 reclamações de lojas de móveis e eletrodomésticos. A Berlanda é quem lidera o ranking, com 57 reclamações. Em seguida estão a Salfer e Koerich, com 51 e 37, respectivamente. A loja Mercado Móveis está em quarto lugar com 25, seguida pela Colombo com 18, Milium com 15 e J Elettro com 14. Por último, a loja Dalmóveis que recebeu cinco reclamações. Além destas, os clientes gasparenses também registraram reclamações de lojas de outras cidades como Casas Bahia, que recebeu 25 reclamações, Havan com 17, Magazine Luiza com 12, Walmart com nove e Angeloni com oito reclamações.
Reclame Aqui
Os clientes que se sentirem lesados na hora de adquirir qualquer produto em alguma loja ou querem saber se determinada empresa possui um histórico de reclamações podem recorrer ao site Reclame Aqui. No espaço, é possível conferir as reclamações de qualquer tipo já realizadas contra determinada empresa ou até mesmo informar o próprio problema, acessando o site www.reclameaqui.com.br. As reclamações cadastradas no Reclame Aqui irão gerar um ranking sempre atualizado das empresas conforme critérios de número de reclamações, tempo de resposta, ausência de resposta, índice de Solução, Número de Avaliações, nota do reclamante e índice de voltar a fazer negócio com a empresa.
Edição 1556
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