Dia dos Pais: adaptação e ressignificado das relações em meio à pandemia - Jornal Cruzeiro do Vale

Dia dos Pais: adaptação e ressignificado das relações em meio à pandemia

09/08/2020

Uma nova realidade. O ano de 2020 tem sido desafiador em diversos aspectos e, inclusive, mudou a relação entre as pessoas. Em datas comemorativas, essas transformações ficam ainda mais em evidência. No domingo, 9 de agosto, celebramos o Dia dos Pais, momento em que a reunião entre pessoas queridas pode não acontecer do jeito tradicional.

Há quem more com os filhos e tenha a oportunidade de colocar em prática os abraços apertados. Tem aqueles que vivem separados e precisem da tecnologia para se aproximar, mesmo que de longe. Existem ainda casos em que a convivência já não era frequente antes do coronavírus e agora foi ressignificada. Muitas relações também tomaram caminhos inesperados por outros motivos.

Pai de primeira viagem

Em 2020, Leonardo Pereira da Silva vai passar o Dia dos Pais de um jeito especial. Isso porque, agora, ele é o homenageado. Aos 26 anos de idade, o morador do bairro Gaspar Grande aguarda ansiosamente pela data, junto com a esposa Bárbara e o filho do casal, o pequeno Benjamin, de apenas 11 meses.

Ele conta que cresceu em uma casa afetuosa e projetou esses bons sentimentos ao novo núcleo familiar. Apesar disso, sua trajetória de vida fez com as relações paternas fossem vivenciadas de maneira diferente. “Meus pais se divorciaram quando eu tinha pouco mais de um ano. Logo depois, ele foi morar em Goiânia. No decorrer da infância, costumava visitar nos finais de ano. Em um determinado período, fiquei anos sem vê-lo”, conta.

Enquanto o contato com o pai se restringia ao telefone, o avô assumiu uma postura física mais presente. “Busco honrar meu avô por sempre ter cuidado de mim como um pai. Hoje, ele tem 88 anos e já conheceu meu filho. Ver nos olhos dele a felicidade de ter um bisneto é muito gratificante”, justifica Leonardo.

Publicitário e responsável pelo marketing de uma instituição de ensino gasparense, o pai de primeira viagem está trabalhando em home office. Ele descreve essa experiência: “De certa forma, tenho acompanhado de perto o crescimento e desenvolvimento do Benjamin. Participar disso é muito importante para mim e também para ele”.

Leonardo garante que essa proximidade com o filho não altera o amor que tem pelo pai. “É um relacionamento diferente. Procuro ser mais participativo. Espero que a pandemia passe logo para que possamos juntar as quatro gerações: meu avô, meu pai, eu e meu filho”, idealiza.

Sua vontade, em breve, será realizada. Isso porque o pai, que por anos morou em outro estado, voltou para Santa Catarina no ano passado. “Eu estava visitando ele quase todo sábado antes da pandemia. Agora, nosso contato tem sido por WhatsApp. Esse seria nosso segundo Dia dos Pais juntos fisicamente. Poderíamos nos abraçar, conversar, almoçar, rir, falar de futebol e por aí vai... Enquanto isso, aproveito ao máximo a companhia do meu filho”, conclui.

Distantes, mas unidos

Por conta da pandemia, Luiz Guilherme Buzzi, de 44 anos, vai passar o Dia dos Pais longe do seu, mas bem pertinho dos filhos. Com o objetivo de driblar a distância física, a família fará uma vídeo chamada para matar a saudade e aquecer os corações nesta data especial.

Buzzi é pai de Eduardo, 15; e Emily, 10. Juntos, têm uma relação bastante saudável. “Passamos muito tempo juntos, ainda mais agora na pandemia, pois quase não saímos mais de casa. Acompanhamos séries da Netflix, fazemos os trabalhos escolares, etc”, conta.

Segundo ele, todo dia é dia de dar carinho e amor: “Mesmo muitas vezes chegando tarde do trabalho, sempre dou atenção”.

Uma saudade

Camila de Araújo Lima, de 29 anos, é moradora do bairro Santa Terezinha e vai passar o seu primeiro Dia dos Pais sem a presença do homem que a criou. Seu pai faleceu há dois meses no Hospital de Gaspar, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) seguido de parada cardíaca.

Conforme seu relato, a convivência dos dois era muito boa. “Guardo momentos especiais no coração, como o Dia dos Pais do ano passado. O presenteei com um kit de perfumes. Ele gostou tanto que não usava com frequência só para não acabar. Após o seu falecimento, quando fui ver as coisas dele, o perfume ainda estava na metade”, conta emocionada.

Convívio ainda maior

Aos 28 anos, Amábile Zermiani vai passar o Dia dos Pais junto com o seu. Ela voltou a morar com o pai, no bairro Santa Terezinha, há alguns anos, justamente por conta da boa relação. “Nosso convívio é ótimo, com muitas de risadas e brincadeiras. Tenho muito carinho e admiração por ele. Me sinto melhor o tendo por perto”, explica.

Por morarem juntos, a comemoração da data será marcada pelo contato físico seguro. “A pandemia não mudou nossa rotina. Por isso, nesse domingo ficaremos em casa e será como qualquer outro dia”, diz Amábile, que tem outros dois irmãos.

 

Especialista reforça importância do bom convívio 

Isabelli dos Santos (CRP 12/16733), psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental para crianças e adolescentes; e orientação para pais, atende diversas demandas no seu dia a dia. De acordo com ela, é importante compreender que vivemos um período de adaptações. “Precisamos de apoio, afeto, atenção, momentos de lazer e usar a criatividade”, resume quando questionada sobre as formas de manter uma boa relação e evitar conflitos em família durante a quarentena.

A profissional ainda destaca que estabelecer uma rotina e organização ajuda a aumentar a qualidade do tempo que pais dedicam aos seus filhos. “Não há necessidade de entreter a criança o tempo todo. Mas, não adianta estar o dia todo junto mas não ser 100% presente para curtir momentos especiais”, diz. Aos pais e filhos que não moram juntos e não podem se ver pessoalmente, Isabelli sugere chamadas de vídeo e contatos telefônicos.

A profissional observou que pais estão mais preocupados em ajudar seus filhos a lidarem com o novo contexto. “A educação e a criação são grandes desafios. Sobretudo, não existe uma receita pronta. Porém, é fundamental que a relação entre pais e filhos seja muito bem estabelecida”, enfatiza. Ela também chama a atenção para a realidade: os erros vão acontecer e isso faz parte do processo.

Aos pais de crianças, Isabelli dá algumas dicas bem interessantes. Primeiro, demonstrar interesse, dar carinho, apoiar, compreender e incentivá-las. Ouvir o que o filho diz a você, olhar para ele (a) enquanto fala e dar abertura para que haja diálogo são passos essenciais. “Dessa forma, os vínculos de confiança serão fortalecidos”, finaliza.

 

Edição 1963

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