Sabe aqueles documentários sobre crimes passionais, transmitidos nos canais de TV por assinatura, com histórias chocantes e que parecem distantes da nossa realidade? Em poucos meses, essa distância entre o que passa na televisão, os moradores de Gaspar e, principalmente os de Ilhota, será encurtada. Isso porque o assassinato do advogado Jaime Bosi, morto em 2007, vai ganhar as telas da TV na terceira temporada da série ‘Até que a morte nos separe’, produzida pela produtora Prodigo Films, de São Paulo.
A equipe de gravação esteve na região nesta semana e passou quatro dias entrevistando todos os envolvidos no assunto. Filhos, amigos, advogado, bombeiro, jornalista, delegado, juiz e demais pessoas que pudessem contribuir, falaram sobre a triste noite de 27 de dezembro de 2007, quando Ilhota foi palco do assassinato de maior repercussão na cidade.
De acordo com Eduardo Rajabally, documentarista e diretor da série, o projeto da terceira temporada de ‘Até que a morte nos separe’ teve início quando o departamento de pesquisas começou a busca pelos casos que aconteceram em todo o Brasil. “Fazemos uma ampla seleção de histórias que aconteceram em todo o país. Aí, escolhemos as que queremos contar e começamos a entrar em contato com os envolvidos. Cada episódio conta uma única história e tentamos ouvir o maior número de pessoas envolvidas para formar um amplo panorama do que, de fato, aconteceu”, explica o diretor.
Para que um crime ganhe vez na série, ele precisa ter sido julgado e não caber mais recursos.
Após a escolha do caso, começam as buscas pelos entrevistados. Conforme conta Gustavo Morais, assistente de direção, essa busca inicia com os autos do processo e com o material divulgado pela imprensa. “Com os autos e com as matérias divulgadas pela imprensa, começamos a fazer uma busca por todos que estiveram relacionados ao caso. Iniciamos com o contato com a família, depois com as autoridades policiais e, na sequência, com a equipe de direito do caso, como acusação, defesa, promotoria e juízes”.
Antes das gravações e até mesmo enquanto estiveram na região, a equipe tentou contato com os condenados pelo crime: Rosicler Bosi (esposa de Jaime) e Felipe Schuldes (amante de Rosicler). Porém, eles não quiseram se manifestar. “Demos chance para que todos se expressassem e falassem o que viveram, viram e sentem. Infelizmente, os condenados não quiseram se manifestar, o que seria muito importante e preencheria muitas lacunas existentes nesta terrível história. Mas, entendemos o direito e a vontade deles de permanecerem em silêncio”, afirma o diretor Eduardo.
Cada temporada da série ‘Até que a morte nos separe’ leva aproximadamente oito meses para ser preparada. O tempo é calculado desde o início das pesquisas até a finalização dos episódios. A previsão é de que ele seja finalizada ainda no primeiro semestre de 2018. “Depois desse prazo, o canal vai receber as cópias finais do documentário e, aí, fica a cargo deles decidir quando vai entrar na grade de programação”. A série será transmitida no canal de TV a cabo A&E, que faz parte do grupo History Channel.
‘Até que a morte nos separe’ é uma produção da Prodigo Films, produtora de São Paulo que produz filmes publicitários, de longa metragem e ficção, séries de ficção e séries documentários. Ela tem como produtor executivo Beto Grauss, coordenadora de produção Renata Grynszpan, diretora de produção Luiza Campanelli, diretor de conteúdo Giuliano Cedroni e coordenador de conteúdo Morris Kachani.
Faltando pouco para que a morte do advogado Jaime Bosi complete 10 anos, reviver as situações que envolveram o assassinato do pai pesam no coração de Daniel Bosi, filho da vítima. Todos os tristes sentimentos que estavam acalmados dentro do peito foram colocados novamente em evidência.
Daniel foi um dos entrevistados pelos documentaristas. Para ele, trazer à tona toda aquela situação não é uma situação fácil, porém, é algo que precisa ser feito para mostrar para a sociedade que casos como este podem acontecer com qualquer família. “Falar daquele dia não é fácil. Ainda sofremos muito. Mas, o importante é mostrar que isso pode acontecer com qualquer um. Mostrar que temos, como filhos, que valorizar nossos pais e ajudá-los sempre. Eu perdoei minha mãe e espero que ela se arrependa e encontre conforto no seu coração, assim como eu e minha irmã encontramos”.
As lembranças do pai são vivas na memória de Daniel. E são essas lembranças que ele faz questão de exaltar. “Meu pai sempre foi um homem correto, preocupado com a família e sempre disposto a ajudar a comunidade. Um homem com um coração sem tamanho”.
O assassinato de Jaime Bosi ganhou grande repercussão na mídia local e também regional. Jaime era um homem conhecido, com um bom emprego e pretensões de ingressar na política. Ele era um possível candidato a prefeito de Ilhota.
É de praxe que em documentários como este sejam ouvidos jornalistas responsáveis por cobrir o caso. Quando tudo aconteceu, o Cruzeiro do Vale fez uma ampla cobertura de todos os acontecimentos: desde a descoberta da morte, inicialmente tida como um latrocínio (roubo seguido de morte), até a prisão dos acusados e a condenação. O diretor do jornal, Gilberto Schmitt, também foi entrevistado pela equipe de documentaristas e contou o que lembra deste episódio tão marcante para Ilhota. “Na noite em que tudo aconteceu eu estava na praia com a família e lembro de ter recebido uma ligação falando de um assalto em Ilhota. Logo começamos a alimentar o site do jornal Cruzeiro do Vale com informações, que num primeiro momento eram incompletas”, relata.
Gilberto lembra com precisão do dia em que o delegado responsável pelo caso, Dr. Paulo Koerich, chamou a imprensa para uma coletiva, onde anunciaria os até então acusados pelo crime. “Toda a imprensa foi para a sala do delegado. E então, em meio a tantos jornalistas, o delegado trouxe a Rosicler e o Felipe”.
Assim como toda a imprensa, o Cruzeiro do Vale acompanhou o desfecho de todo o caso. As páginas do jornal estamparam a morte do advogado, a prisão dos acusados, a condenação de Felipe e o júri popular que também condenou Rosicler.
O advogado Jaime Antônio foi assassinado na noite de 27 de dezembro de 2007. Naquela noite, ele estava em casa com a esposa Rosicler quando um suposto assalto aconteceu. Já sem vida, Jaime foi arrastado até o porta-malas do carro da família. Seu corpo foi jogado às margens da BR-470, em Gaspar, e encontrado no dia seguinte.
Em uma primeira versão, Rosicler afirmou que o assaltante a teria amarrado e fugido com alguns pertences da família. Após um mês de investigações, a Polícia Civil de Gaspar chegou ao nome de Rosicler e de seu amante, Felipe Schuldes, como autores do assassinato. Eles foram detidos na tarde de 17 de janeiro de 2008. Em depoimento à polícia no dia 13 de fevereiro, os dois assumiram o crime e afirmaram que a morte foi acidental. Felipe foi a júri popular poucos meses após o crime, em julho de 2008. Após mais de 15 horas de julgamento, ele foi condenado a 15 anos de reclusão por homicídio duplamente qualificado.
Quase um ano após o julgamento de Felipe, Rosicler sentou no banco dos réus. Seu julgamento durou menos tempo que o de Felipe, porém, a pena foi maior. Após 13 horas de julgamento, Rosicler foi condenada a 18 anos de prisão pelo assassinato do marido. A pena foi lida pelo juiz Sérgio Agenor Aragão e o julgamento aconteceu no plenário da Câmara de Vereadores de Gaspar, que ficou lotado de familiares e amigos. Na ocasião, os familiares vestiam uma camiseta branca com a foto de Jaime e a palavra ‘justiça’.
Ao final do julgamento, Rosicler foi levada ao presídio escoltada por seis policiais. Enquanto passava pelos corredores da Câmara de Vereadores, ouviu gritos de ‘assassina’ vindo dos parentes e amigos de Jaime.
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