No peito, muito amor por Gaspar. Na memória, diversas histórias vivenciadas na cidade Coração do Vale. No rosto, um sorriso de orelha a orelha em poder compartilhar parte de seu conhecimento sobre o município. Pedro João de Souza, mais conhecido seu Cobrinha, é pura bondade! Aos 100 anos, resume o sentimento que tem pelo lugar que vive há mais de oito décadas: “Amo Gaspar. Sou grato à vida por ter me trazido até aqui. Terra de pessoas boas e trabalhadoras. Que felicidade poder presenciar essa data especial”.
Seu Cobrinha é natural de Biguaçu, mas passou a infância em São Pedro de Alcântara, onde estudou e foi introduzido ao ofício de seu irmão mais velho. “Foi lá que aprendi a ler e escrever. Uma cidade muito pequena. Conforme fui crescendo, criei consciência da importância do trabalho. Apesar de sonhar ser médico, a vida naquela época era mais difícil. Me tornei sapateiro com muito orgulho”.
Em 1938, aos 18 anos, veio para Gaspar com o irmão para tocar uma sapataria. “A gente trabalhou em algumas sedes, mas a última foi aqui na minha atual residência, no Centro. Toda comunidade nos conhecia e tínhamos uma clientela fiel. Enquanto meu irmão consertava sapatos antigos, eu produzia novos”. Muito emocionado em recordar essa trajetória, seu Cobrinha faz questão de destacar que viu a cidade crescer e se desenvolver. “O tempo passa tão rápido... Sou de uma época em que havia apenas quatro carros em todo o município”.
Foi em Gaspar que seu Cobrinha descobriu o amor pela arte. Aqui, integrou um conjunto musical que fez o maior sucesso. Quem o vê na varanda de casa talvez não imagine que o simpático senhor mandava ver na bateria e no cavaquinho enquanto jovem. “Ah, tempo bom! Época em que, apesar de não termos a tecnologia de hoje, nos divertíamos muito. Meu grupo sempre era chamado para tocar nos bailes e tardes dançantes”, fala, entre risadas. Foram cerca de dez anos de banda.
Casado com Cídia Maria Becker de Souza, seu Cobrinha formou uma linda família. Juntos, tiveram três filhos, sendo dois homens e uma mulher: Élcio, Ênio e Lenir. “Minha esposa foi uma excelente costureira. E eu seguia com a sapataria. As crianças estudaram no Honório Miranda. Quando cresceram, acabaram indo para outras cidades se profissionalizar. Sempre tivemos uma vida honesta. Simples, mas com trabalho e muita honra”.
Em 2021, ano que completa seu 101º aniversário, seu Cobrinha olha para o passado com muita gratidão. “Cheguei na cidade quanto as estradas eram todas de barro. Não tinha quase nada por aqui. Vivenciei todas as mudanças. As primeiras ruas calçadas, os estabelecimentos comerciais que iam se instalando, as trocas de prefeitos... Hoje está aí, tão grande, cheia de empresas, uma população que já nem faço ideia do tamanho. É uma história linda”.
Ele afirma que, se pudesse, viveria tudo de novo bem aqui, em Gaspar. “Eu acompanhei o crescimento de Gaspar. Me considero gasparense de alma. Tenho um carinho imensurável por esse município”, reforça emocionado. Seu Cobrinha deixa uma mensagem bastante especial e cheia de afeto para a cidade Coração do Vale : “Passamos por momentos difíceis, mas Gaspar vai superar e continuar crescendo. Sei que não posso viver para sempre, mas desejo tudo de melhor a esse povo querido”.
Seu Cobrinha passou o aniversário de 100 anos, em 2020, com coronavírus. Ele foi infectado, respondeu bem à doença e superou todos os sintomas. Em 2021, celebra a vacinação. “Eu já fui vacinado. Espero que, logo, acabe esse mal que assola o mundo todo”.
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