As vítimas do coronavírus não seguem um padrão comum. Não importa o gênero, idade, profissão ou escolaridade. A doença está aí, pronta para fazer vítimas e destruir famílias.
O advogado Renato Luiz Nicoletti, de 52 anos, é a prova disso. Casado com a policial civil Alyne Serafim Nicoletti, pai de três filhos, ele mora no bairro São Pedro e há poucos dias testou positivo pela segunda vez. A primeira foi em julho do ano passado. A segunda, em março deste ano.
Nas duas situações, o casal foi infectado ao mesmo tempo. Enquanto os sintomas de Alyne se restringiram a cansaço e dores, Renato foi pego em cheio pela doença. Com o pulmão comprometido, chegou a ser internado e passou por momentos que jamais imaginou.
Desde quarta-feira, 24 de março, Renato está em casa. A previsão é de que esteja recuperado dentro de duas semanas. Ele é um dos que venceu o coronavírus. Por isso, deixa um depoimento que é tido também como uma mensagem de conscientização sobre a importância de continuarmos mantendo todos os cuidados necessários. Afinal: o coronavírus mata.
“A primeira, em julho do ano passado, foi leve. Mas, essa agora de março, me pegou de jeito. Por uma combinação de fatores negativos, o vírus atingiu meus pulmões. Antes de continuar, faço questão de registrar que minhas palavras são apenas para mostrar um pouco a rotina desgastante que vivi nos últimos 15 dias e a necessidade de ficarmos alertas, vigilantes e zelosos por nossa saúde e de nossos amigos e familiares. Não vou comentar a forma de tratamento, seja por remédio A ou B. Isso cada um tem sua ideia e sua posição.
Como falei, meus pulmões foram atingidos e em 24 horas ficaram bastante comprometidos. Com apoio de um simples oxímetro, comecei a observar a rápida queda da oxigenação. Respiração cada vez mais ofegante, mesmo em repouso. Esse é o primeiro grande sinal de alerta. Se baixar de 91, 90 mesmo em repouso não voltar a subir, não espere mais e procure um médico imediatamente. Fiz isso e comecei a me tratar em casa, mas não reverteria mais a oxigenação sem apoio externo. Fui internado com índices de oxigenação variando de 63 a máximo 87, mesmo deitado e sem fazer esforço algum. Aí a ficha caiu, como se diz.
Com o apoio do oxigênio externo, os médicos estabilizaram e comecei o tratamento intensivo com medicamentos. Tudo isso foi fundamental. Entretanto, aprendi na pratica uma coisa simples que tanto se fala: o deitar de bruços.
Nos dois primeiros dias, fiquei isolado num quarto. A solidão me tomava de assombro. Turbilhão de pensamentos negativos. Pensava: se precisar mais oxigênio, terei que ir pra máscara, intubação, UTI? Sua forma de enxergar a vida muda radicalmente. No terceiro dia, fui para outro quarto, onde conheci um amigo que nasceu nessa dificuldade, o Fernando Massaranduba (o apelido denuncia sua cidade). Eu preciso lhe homenagear ainda que rapidamente. Religioso, da mesma profissão de minha fé, me puxou pra conversar. Perguntou primeiro se eu estava deitando de bruços, a chamada posição prona ou pronada. Eu tinha tentado, mas não estava me sentindo confortável e sentia que não me ajudava. Ele me deu umas dicas e então comecei a ficar nessa posição. Foi aí que meu tratamento deu uma guinada pra melhor.
No dia seguinte, os efeitos positivos foram visíveis e os médicos puderam então começar a diminuir o oxigênio externo. Além disso, uma coisa que senti muito positivamente foram as orações que juntos fizemos no silencio do nosso quarto de hospital. A força que nos deu foi incrível. Considero Fernando uma alma iluminada. Em momentos como esse, os amigos, correntes de união e oração, tudo nos fortalece.
Preciso lembrar também, como forma de eterna gratidão, de dois médicos gasparenses que me atenderam prontamente no meio da noite, em hora de extrema aflição: Dr. João Geraldo Corrêa, amigo pra todas as horas; e o Dr. Ricardo Beduschi, meu cardiologista. Anjos existem.
Por fim, quero encerrar meu depoimento pedindo e repetindo tudo o que já sabemos, mas que relaxamos por achar que essa doença pode não ser tão grave. Não largue as máscaras, abuse do álcool gel, lave sempre as mãos e cumpra o isolamento ao máximo. Fui atendido por enfermeiros do Acre, Pará, Sergipe, Rio de Janeiro, etc. Todos estão num esforço hercúleo pra nos salvar. Esse pessoal merece toda a nossa gratidão diária, pela dedicação extrema ao trabalho. A alegria deles ao saberem que vamos pra casa é contagiante. Vamos ajuda-los nos protegendo. Não arrisque a paz de seu lar, não troque o conforto de sua cama de casa por uma leito de hospital por desleixo, por ignorar ou desdenhar o perigo desse mal. O coronavírus ainda está muito presente e pronto pra derrubar qualquer pessoa que o desafie ou que menospreze sua letalidade. Fiquemos todos na paz de Deus. E lembrem-se: anjos existem".
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