A África que os noticiários não querem mostrar - Jornal Cruzeiro do Vale

A África que os noticiários não querem mostrar

13/06/2010

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Fiz, faço e acho que farei ainda muitas viagens no Brasil e no exterior. Por isso posso compará-las. E todas as viagens são feitas de expectativas. Algumas ficam aquém e outras são surpreendentes. Uma delas foi a que fiz ao sul do continente africano, incluindo a África do Sul. Foi há quatro anos. Foram quase dois meses de estudos, pesquisas, contatos e turismo. Foram quase seis mil quilômetros dirigindo do lado direito. Sobre essa surpresa, escrevi num dos primeiros post no meu blog www.olhandoamare.com no dia 31 de janeiro de 2009, ?África, rica e marcante?.
 
E por que revivi agora esta viagem entre tantas que fiz? Porque no notíciário da Copa da Fifa, que começou ontem com a abertura oficial e hoje com os primeiros jogos, fomos e estamos sendo inundados por relatos dos jornalistas brasileiros sobre esta descorberta surpreendente e que eu já testemunhei e vivi intensamente: a África do Sul. O editor Gilberto Schmitt, depois de ver o meu post de ontem no blog ?África, rica e marcante II (redescoberta por brasileiros)? me pede e eu cedo palavras e fotos para esta edição especial.

Assim comecei o meu relato no dia 31 de Janeiro de 2009: ?Foram quase seis mil quilômetros dirigindo do lado direito. Errando e acertando direções. Surpreendendo-me nos meus (pré) conceitos e expectativas. Superando certos medos. As vezes, tive a impressão de estar numa paisagem brasileira: do Cerrado, do Sertão, do Semi-Árido ou até dos campos do Paraná. Os opostos pontilharam os meus caminhos: o inóspito, o verdejante, o selvagem, o exuberante, o preservado, o destruído, a caça predatória, a reserva protegida no interior e na costa. Algumas áreas com plantios extensivos e familiares. Lavouras mecanizadas, modernas. Gente ainda na era dos coletores de sementes, dos que vagam. Contrastes sociais, culturais e tribais (e brutais) entre eles mesmos?.
 
Quando viajo, não olho ou passo, mas contemplo, admiro, desconfio, experimento e aprendo. Vivo. Afinal só tenho este tempo para me impressionar. Um dia, como hoje, só vou recordar. Por isso, resumi naquela crônica do dia 31 de Janeiro e que pode ser lida na íntegra no blog: ?Conhecemos aqui, por relatos, a segregação de brancos e negros. Lá, conhece-se a dura realidade que separam e descriminam etnias, nacionalidades e imigrantes ilegais entre negros. Belezas impressionantes. Gente alegre, falante, curiosa. Unidas em guetos, em línguas, em trajes, em cultos. Cidades imponentes. Vilas esquecidas. Ali, gente doente, fraca, a espera de carona ou até implorando por comida. A ignorância e hábitos fortalecem a Aids. Executivos, brancos e negros, frenéticos como em qualquer centro nervoso. Universidades, hospitais referências. Intelectuais. Nos centros urbanos, o rush, o congestionamento, a pressa própria dos que vivem nas metrópoles. Auto-estradas super-bem-conservadas como se fossem europeias. Serviços de dar inveja a brasileiros. Em alguns locais, perigos e atalhos. Como aqui. Infraestrutura de primeiro mundo ao lado do primitivo, do rústico, do improviso. O limpo e o sujo. O jardim e o capim ?
 
E sobre a África do Sul, especificamente em 31 de Janeiro de 2009 escrevi sobre aquilo que testemunhei quase dois anos antes: ?A África do Sul procura uma causa e sustentabilidade duradoura para o pós Nelson Mandela, símbolo da resistência, da mudança, da transformação e principalmente da conciliação, do sonho e da inclusão. Comidas, sabores e cheiros que nos lembram coisas daqui. É um país tão grande, misterioso e com potenciais inesgotáveis quanto o Brasil, mas com profundas feridas sociais e raciais sob cura. Tudo é muito recente. O barril está apenas sob controle. O sistema de transporte coletivo, um desastre (desorganizado e feito de vans, é uma praga sob divisão e domínio de ?mafias? políticas e fora do controle do Estado). É essencialmente para os pobres e negros. Os brancos ou negros ricos andam de carro, moram em vilas isoladas, cercadas por muros altos, câmeras e arames farpados eletrificados. Salvam-se os trens urbanos?.
 
Resumindo, nada do que você vê, lê ou ouve hoje nos noticiários que revelam a África do Sul da Copa da Fifa.
 
Herculano Domício é colunista as Tercas-Feiras neste jornal na coluna ?Olhando a Maré?. Mantém um blog www.olhandoamare.com

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