Animais de estimação tratados como seres humanos - Jornal Cruzeiro do Vale

Animais de estimação tratados como seres humanos

03/04/2018

Hotel. Creche. Spá. Babá. Massagem. Festas. Ensaios fotográficos. Se engana quem pensa que esses são serviços oferecidos apenas para seres humanos. Atualmente, o mercado oferece diversos serviços destinados ao cuidado com os pets.

Anelise Pereira Machado é babá de cachorros, ela cuida dos animais na sua própria casa cobrando R$ 40 pela diária. Os donos levam caminha, brinquedos, alimentos e remédio para que a rotina dos cães seja mantida de forma mais normal possível. A permanência varia de acordo com a necessidade do dono, pode ser de um final de semana e chegar a 20 dias. Os pets têm acesso livre dentro da casa e não ficam presos em baias. “A parte mais difícil é a despedida, eu me apego neles muito fácil e quando vão embora fica um vazio”, desabafa.

A babá conta que a ideia de criar uma creche surgiu do seu amor pelos animais. Ela tinha dois cachorros e não estava satisfeita só com eles. “Vendo uma reportagem no Fantástico sobre babás de cachorros, meu marido sugeriu que eu fizesse esse trabalho, assim sempre teria um cachorrinho diferente em casa. Não foi fácil conquistar a confiança dos donos. Amo o que faço. Mas exige muita responsabilidade”. Hoje, as pessoas contatam Anelise pela página do Facebook ou por indicação, mas na maioria das vezes ela recebe os mesmos clientes.

Para a técnica de enfermagem Thalia Zoschke, dona da Tasha, uma pequena Ihasa Apso de dois anos, a relação com a cadelinha é mais que especia. “Pra mim ela significa tudo! Ela é o amor da minha vida, minha alegria de todos os dias. Sem ela eu não seria tão feliz. Ela é minha filha, meu bebê”. Tasha recebe mimos que algumas pessoas consideram exagerados para um animal de estimação, mas Thalia não concorda. “Ela chupa bico, dorme na minha cama, vai pro resort toda semana, anda de carro, vai ao shopping comigo”.

Segundo a psicóloga Eduarda ZImmermann Becker, esse comportamento dos donos em relação aos animais de estimação pode ser prejudicial se não houver limites. “Outro dia uma pessoa que eu atendi me disse que sente muita mágoa porque quando criança, os pais tinham carinho apenas com os animais de estimação, enquanto jamais deram colo para os filhos”, conta.

Ellen Bernardes, acadêmica de biomedicina, é dona de dois cachorros e um gato. Zeus, um shitsu de seis meses, Pingo, um pischer de dois meses, e o felino vira-lata Tony Alisson, de dois anos. A estudante conta que, além do tratamento especial no dia a dia, ela já pagou por cirurgia e tratamentos para os pets. “Quando chego em casa eles já estão me esperando no portão, são muito carinhosos, eu não resisto”, contou.

Para a psicóloga, esse comportamento pode ser explicado pelo sentimento de solidão. “Muitas vezes, mesmo entre uma família grande, as pessoas se sentem sozinhas. Cada um alienado em seu celular, seu mundo particular. Mas quem está ali sempre disposto? O bicho de estimação”.

Outro fator importante é a falta de credibilidade nos próprios seres humanos, o que faz as pessoas confiarem na lealdade dos animais de estimação. “Na psicologia há a ideia da transferência: eu transfiro os sentimentos que gostaria de ter em relação a um filho (seja por não ter filho, pelo meu filho estar longe do ideal de filho companheiro que criei, etc) para um animal de estimação; eu ‘troco’ o ‘objeto’ para o qual eu dou meu amor”.

 

Texto: jornalista Pâmela Simas Fogaça