Por Herculano Domício - Jornal Cruzeiro do Vale

Queixa

"Lamento profundamente que o partido vencedor e seus militantes, residentes no bairro onde vive o futuro prefeito de Gaspar, não respeitam a liberdade democrática de não votar neles. Aliás, este é o comportamento típico da maioria absoluta dos que seguem a cartilha do partido vencedor". Trecho de uma carta publicada nos dois jornais locais e assinada pela eleitora Osvaldina Rangel, 52 anos, da Bateias. Cá para nós, este filme nós já não assistimos antes? Ai, ai, ai. Acorda Gaspar.

 Alienígenas

De repente, não mais que de repente se instalou um piquete na frente das Linhas Círculo para legitimar, pela coerção, os empregados daquela empresa gasparense à greve dos têxteis. Estranhos piqueteiros. Quase todos de fora, inclusive de Santa Catarina. Será que já começou? Hilário mesmo foi a nota que divulgaram nas rádios depois da greve em que aceitaram um acordo conciliatório de 8,15%. Pediam 15% e os patrões ofereciam 8%. Agradeceram o apoio da população ao movimento, segundo a nota, em mais uma campanha vitoriosa do sindicato. Será?

 Bravatas

Esta greve dos têxteis teve muito barulho e foi armada as vésperas das eleições a partir de Blumenau. Ao final, todavia, com o mundo derrapando para uma recessão, desgastados, os sindicalistas criaram juízo. Diante de uma clara ameaça de crise econômica mundial, lutar por aumentos reais de salários destoava da necessidade e prioridade de se manter o emprego para os trabalhadores. Para certos grupos políticos, época de eleição é também época de piquenique, exposição, bravatas, pressão e irresponsabilidades.

 Vitórias?

Tem gente no PT regional que gosta de aparecer escrevendo para os jornais locais sobre imaginárias vantagens como se vivêssemos numa ilha sem informações. Cantam-se vitórias no Brasil (parece que a jóia da coroa, a paulista, outra vez está perdida). Em Santa Catarina, todavia, o desastre do PT nesta eleição é estatístico mesmo com a possível vitória (e pela primeira vez) em segundo turno em Joinville. Nem mais, nem menos. Então prudente para dirigentes e militantes, seria neste momento, o de trabalhar mais e assim construir vantagens consistentes, e não apenas contar vitórias de outras paragens, ou seja, emprestadas dos outros.

 Definição

Do professor, intelectual de esquerda ( verdadeiramente reconhecido como tal), cientista político e um dos pais do PT, Florestan Fernandes (já falecido), ao avaliar a sua criatura muito tempo depois dela criada. Aliás, esta frase é a preferida de outro intelectual, ex-PT , ex-reitor da UNB, ex-ministro da Educação, ex-governador do Distrito Federal e senador pelo PDT, Cristovão Buarque: "Não se iluda, eles (petistas) não são de esquerda; são sindicalistas querendo melhorar de vida". E eu completaria: e os trabalhadores sustentando essa máquina política e de poder.

 Votos

Agora aparecem todos os tipos de conversas. Uma delas é de que o vencedor Celso Zuchi, PT, teve só (pára ô!) 49% por cento dos votos dos gasparenses. A justificativa barata e própria de perdedores inconformados insinua ainda que se houvessem apenas duas chapas, haveria também chance para o outro lado. Tudo bem! Vamos supor que a "tese"seja válida. Por que não a tentaram? Nem isso, os "líderes" do "outro lado" conseguiram se articular. E ainda falam em vencer. Só mesmo sob hipótese. Ainda bem. Acordem. O sono e o sonho já deviam ter acabado. O desafio de 2010 já começou para muitos. Para alguns, ainda é algo distante. E depois reclamam dos resultados.

 Zero

Gaspar tinha 35.702 eleitores aptos para votar na eleição passada. Desses, 32.092 foram as urnas. Teve gente que não votou em ninguém: 676 anularam o voto, 1094 votaram em branco e 2.190 deram votos apenas para as legendas (e que alguns metidos a espertos fingem não computar). Eram 90 candidatos a vereador. Dulcinéia Demichei, PHS, foi a única que não recebeu nenhum voto (nem o dela? Ai meu Deus!) segundo o relatório do Tribunal Superior Eleitoral disponível na internet. A outra recordista foi Andréia Cezário, também do PHS, que recebeu apenas seis votos.