16/10/2017
O tempo é o senhor da razão. Nada como um dia depois do outro. Eu poderia dizer que estou com alma lavada, diante de um assunto tão sério e que permeia volta e meia os meus comentários aqui. Mas, isso é bobagem. As minhas palavras estão escritas e por elas sou responsável e responsabilizado. E os discursos dos políticos que as contestam se sucumbem à realidade, ao jogo, ao compadrio, ao tempo e à miséria das ações contraditórias.
Os comentários nunca tiveram outra intenção que não mostrar uma realidade, que se tenta esconder por pressão, constrangimento, chantagem, interesses (corporativos, partidários, religiosos, familiares, econômicos) e alertar o governante (e políticos) para a busca urgente de soluções. É só o governante (e o mundo político onde ele está inserido), e não outros, incluindo à própria imprensa, que está obrigado à esta solução para a coletividade que diz representá-la. Foi o governante de plantão (com sua base política), que em campanha eleitoral, dizia ter a solução. Foi escolhido pela maioria, entre outras, por isso. E parece, hoje, que não a tem no caso da Saúde Pública de Gaspar.
A realidade é dura. Ela atinge os mais humildes, os fracos, os doentes. Eles são a maioria. A realidade incomoda e se estampa na cidade inteira. E há político e administrador público, obrigado a dar respostas pelo poder e a função, incomodado com as críticas, não da imprensa que usa para expiar a sua incompetência, mas, verdadeiramente, com as feitas seus eleitores nos seus gabinetes, nas ruas, nas mídias sociais e até mesmo, como exceção, na imprensa.
Entretanto, no discurso, o político minimiza o cruel e prefere tapar o sol com a peneira, na esperança de que o milagre virá, que o eleitor vai esquecer ou perdoa-lo e a imprensa se desgastar e se calar. E se ela se calar, vai ser desmoralizada pelas redes sociais que farão o serviço dela com mais eficiência. Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come...
Volto ao ponto inicial deste comentário. O novo líder do PMDB de Gaspar na Câmara, devido ao licenciamento do líder do governo de Kleber, Francisco Hostins Júnior, o vereador Evandro Carlos Andrietti, foi quem lavou a minha alma.
Na sua simplicidade, sinceridade e até “inocência”, reconheceu na Câmara que, mesmo com todos os esforços, a situação do Hospital é delicada. Não é fácil criar soluções para quem está com R$15 milhões de dívidas, possui um déficit contínuo, sem perspectivas de estancá-lo e esta conta está com a prefeitura – que diz não ter dinheiro - que o mantém sob intervenção municipal (quem é mesmo o dono do Hospital de Gaspar?), o legado-armadilha do governo de Pedro Celso Zuchi, PT, e no qual Kleber Edson Wan Dall, PMDB, foi pego e se danou por não agir como estadista, gestor, o que precisava desagradar a corporação médica para colocar minimamente a casa em ordem.
Andrietti pediu a união de todos os vereadores para irem ao governador Raimundo Colombo, PSD, buscar ajuda financeira. Apelou aos representantes da bancada de Colombo na Câmara, Cicero Giovane Amaro e Wilson Luiz Lenfers, pela intermediação. Cicero que também acha que a saúde Pública de Gaspar está na UTI, retrucou: “primeiro precisamos de um plano convincente para apresentar ao governador”. Está certo. É o mínimo para a reação e pedido racionais.
A percepção de Cícero abespinhou o também novo líder de Kleber na Câmara, Francisco Solano Anhaia, PMDB. Para ele, é falso dizer que a saúde Pública de Gaspar está na UTI. Discurso de quem está obrigado a defender o indefensável ao invés de se juntar à proposta do líder do partido, muito mais coerente com a necessidade e situação. Tanto, que Anhaia admitiu que há muitas reclamações na cidade contra a saúde e o Hospital; que os postos estão funcionando e alguns deles sem médicos (então não cumprem o papel deles com a comunidade!); que a policlínica está dando conta do recado, apesar das filas (de meses!) nas especialidades (então não cumpre o papel dela com a comunidade!) e que no Hospital, todos são atendidos apesar da longa espera (o que demonstra que há um gargalo originado pela falha dos postos e policlínica, e que agrava à percepção de que o Hospital e o atendimento aos pobres não funciona minimamente como deveria).
Resumindo: o líder Andrietti do PMDB abre o coração para pedir ajuda de todos e o líder Anhaia do governo do PMDB diz que está quase tudo bom. Então para o que estão pedindo ajuda mesmo? Nesse duplo jogo não se vai a lugar nenhum e quem vai perder? Primeiro o cidadão e segundo lugar, os políticos desunidos, escondendo o problema, culpando os outros, inclusive esta coluna que nada mais faz do que registrar os problemas à vista de todos e às incoerências dos políticos.
E para encerrar algumas perguntas e uma obviedade já escrita aqui tantas vezes, que os políticos não a queriam vê-la explicitada.
Pedir interferência dos vereadores do PSD de Gaspar para falar com o governador Raimundo Colombo – o que esqueceu Gaspar em quase oito anos de governo? Isso não é transferir parte da culpa e responsabilidade do PMDB para outros, afinal o vice-governador, Eduardo Pinho Moreira, não é do PMDB? Ele não manda mais nada no governo de Colombo, mas está em campanha solo para ser governo e poder a partir da eleição do ano que vem?
A saúde Pública de Gaspar está na UTI porque o Hospital está comendo dinheiro, energia e soluções que são prioridades aos postinhos, policlínica e farmácia básica para os mais fracos, pobres, idosos e doentes. Ou seja, é o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Kleber terá que fazer escolhas e as está protelando.
De nada adiantará ao Hospital contratar – e propagandear como se fosse a solução - um profissional de primeira linha se não houver dinheiro, planejamento, objetivos céticos sem a interferência dos políticos cheios de jogos pequenos do poder, combinado com os interesses corporativos que ronda essa área médica. Hospital não é lugar de se fazer lucro, mas não é para ninguém lucrar com a dor dos outros. Acorda, Gaspar!
Pediu para sair. Solano Francisco Pereira foi exonerado do cargo em comissão de Diretor de Serviços Gerais da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos de Gaspar. Enquanto isso, o servidor efetivo Henrique da Silva Pires, foi nomeado para exercício de função gratificada de Encarregado-Geral de Aquicultura da Secretaria da Agricultura e Aquicultura.
Samae inundado. O Samae de Gaspar virou secretaria da Agricultura? Ai, ai, ai.
Uma luz. A vereadora Franciele Daiane Back, PSDB, diz não concordar com a mistura de política e religião. Ufa! Vou mais longe. Uma é a negação da outra. Juntas, política partidária e religião, ao contrário dos que a defendem, são perigosíssimas, destruidoras. Isto é história da humanidade. Conhece-a. Estude-a. Uma se aproxima do satanás e a outra de um suposto sagrado, que cada um consagra e aceita no seu utópico, o qual o deixa forte ou submisso à uma crença, devoção e poder supremo.
Uma Câmara de vereadores, por exemplo não é lugar de Bíblia, Torá ou Alcorão para citar apenas estes três. É lugar de Constituição Federal e Estadual, Lei Orgânica Municipal e Regimento Interno na sua espinha dorsal de obediência cerimonial e legal.
Na Câmara não há púlpito, altares ou imagens sacras para se venerar. Há uma tribuna para expor e debater ideias, ou até se estabelecer em preconceitos. Numa Câmara, a não ser numa sessão especial e intencional para tal, não se faz sermão, pregação, batismo, conversão... São coisas úteis, necessárias, mas bem distintas do ambiente político e legislativo onde se honra líderes políticos em citações, homenagens, galerias de fotos, placas...
Uma Câmara segue um rito profano e não se estabelece no sagrado de cada religião, seitas ou denominações de parantescos sagrados. Não se catequiza, não se é uma madrassa e o tratamento respeitoso entre os pares é de senhor ou senhora vereadora, quando muito, Excelência. Nunca de irmão, reverendíssimo necessário num ambiente próprio revestido ou consagrado para a profissão da fé particular de cada um.
Na Câmara de Gaspar, talvez por falta de assunto melhor, ainda continuam os discursos desconectados ou motivados por supostas morais religiosas, as quais fundamentam uma ética e orienta o legislar, contra exposições ditas de artes e supostamente alavancadas em apelos sexuais ou eróticos. Tudo longe daqui.
Arte é arte e ponto final. É uma forma de expressão. Impedi-la é um tipo de censura explicita à liberdade de expressão. Discursos do tipo “não devemos tolerar”, apenas definem e expressam o grau da intolerância e do intolerante diante daquilo que o incomoda, que não aceita como possível, num mundo plural e necessário à diversidade. Isso se aproxima do preconceito. Cada um deve fazer suas escolhas e se responsabilizar por elas, inclusive no julgamento público.
Discordar do conteúdo ou da técnica empregada da expressão na arte, é uma crítica. Ela é perfeitamente aceitável, é necessária até, é do contraditório, do avanço, do entendimento que normalmente não está nos extremos. É do jogo jogado.
É muito diferente do que defender a limitação do acesso a crianças (não formadas) ou desacompanhadas de seus pais, tutores legais. Eles são responsáveis por transmitir valores morais e éticos, educação.
Toda exposição, exibição, performance, apresentação de expressão artística, em tese, possui uma limitação de acesso: o filme, o teatro, o show, os sites, a revista... E há uma legislação que regula isso. Descumpri-la dá punição. Então cabe apenas exigir o que já está regulado. O resto é prosopopeia de desocupados. E se os pais permitem, incentivam e acompanham crianças em locais e apresentações questionáveis? Se há restrição na lei, que se aplique-a. De resto, vira arbítrio do bom senso do adulto responsável.
Os religiosos, e pior do que eles, seus asseclas políticos e poder se lançam com tons de demagogia e falsa moralidade. Eles são os piores censores. Usam a fé, a ignorância da massa e à falsa moral para vender dogmas, marcar diferenças e até matar em nome de um Deus que dizem acreditar, quando todos os “deuses”, ou concepções divinas, independente da fé, na essência, são concebidos essencialmente para o perdão, o amor, a paz e à tolerância. Meu Deus! E como cristão que sou, que professo e pratico moderadamente sem qualquer carolice, encerro: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23,34).
Ilhota em chamas I. Como funciona. Foram feitos dois aditivos com a Villacon Construtora, de Itajaí. Ela contratada para “prestação de serviços com fornecimento de materiais para execução da cobertura da academia e reforma da unidade básica de saúde Agostinho Zimmermann", no Baú Central.
Ilhota em chamas II. Um aditivo é para esticar o prazo de entrega da obra. O outro é para dar mais R$ 8.985,86 ao contrato inicial de R$ 28.472,32, ou seja, equivalentes a 31,56% mais sobre o valor original global do contrato, totalizando dessa forma R$ 37.458,18.
Ilhota em chamas III. Em Gaspar o Executivo usa do expediente da urgência para tramitar os projetos na Câmara. Em Ilhota, é frequente, mas muito frequente, o que mostra o servilismo do Legislativo de lá ao executivo é “dispensar o trâmite pelo rito regimental do possibilitando sua leitura e deliberação em um único turno de discussão e votação na mesma sessão extraordinária”.
Ilhota em chamas IV. Entupido. A prefeitura está licitando no dia 20 deste outubro serviços de limpeza e desobstrução mecânica de bocas de lobo, caixa de ligação, tubulações de águas pluviais, filtro anaeróbico, caixa de gordura, com fornecimento de equipamento (hidrojato/hidrovácuo), bem como a responsabilidade de destino dos dejetos.
Ilhota em chamas. Mais um. O pregão 54, impugnado, foi modificado. Cheirava a direcionamento. Ele vai comprar R$150 mil em equipamentos odontológicos e que será pago pelo convênio do Programa Acelera do Fundo Catarinense para o Desenvolvimento da Saúde.
Edição 1823
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).