Retirada de entulhos, uma noite no abrigo e parto durante enchente - Jornal Cruzeiro do Vale

Retirada de entulhos, uma noite no abrigo e parto durante enchente

11/09/2011
Retirada de entulhos, uma noite no abrigo e parto durante enchente

 

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Confira abaixo imagens dos alagamentos em alguns bairros de Gaspar e Ilhota:

FOTOS GERAIS FOTO CLUBE GASPAR
FOTOS GERAIS

Fotos Ilhota
Bairro Baú

Bairro Figueira
Bairro Centro
Bairro Lagoa
Bairro Bela Vista
Bairro Coloninha
Bairro Macuco
Bairro Gaspar Mirim
Bairro São Pedro
Bairro Sete de Setembro
Bairro Sertão Verde
Bairro Margem Esquerda
Bairro Poço Grande
Bairro Gasparinho

Fotos aéreas de Brusque

Créditos:
Patricki Corsani, Rafael Godoy, Fábio Venhorst, Gilberto Schmitt e Foto Clube de Gaspar. Agradecimentos especiais a todos os leitores e internautas que estão nos enviando fotos de seus bairros. 

 

Edição impresa do Jornal Cruzeiro do Vale:

 

Águas de setembro


Da Redação
Por Fernanda Pereira


Ruas alagadas, casas tomadas pelas águas, pontos de deslizamentos de terra. As cenas vividas em novembro de 2008 voltaram a assustar os moradores do Vale do Itajaí nos últimos dias. Após as fortes chuvas do início da semana passada, já previstas pelos meteorologistas, várias ruas de Gaspar ficaram alagadas, famílias foram desalojadas e o que se viu foi um cenário de medo tomando conta dos moradores da cidade, que mais uma vez enfrentaram a temida enchente.

A situação de pânico diante das tragédias naturais não é uma novidade na região. Falta informação precisa e faltam instruções quanto às medidas que cada morador deve tomar diante da chegada das águas. A tragédia de 2008 parece não ter sido suficiente para ensinar, aos órgãos públicos e à população, quais as medidas corretas quando as águas do rio transbordam e inundam ruas e casas.

Em Gaspar, somente no final da manhã de quinta-feira, dia em que a enchente tornou-se realidade, é que os abrigos para as famílias desalojadas foram ativados e muitas pessoas estavam desorientadas, sem saber para onde ir ou a quem recorrer. A equipe da Defesa Civil, apesar de estar de plantão, não teve como atender a todos os pedidos de socorro e o que se viu foram famílias despreparadas. Muitos deixaram para retirar as coisas de casa na última hora, e acabaram perdendo móveis e pertences pessoais.

Depois da tempestade, veio a calmaria e o sol apareceu para dar novo ânimo às centenas de pessoas desalojadas, que arregaçaram as mangas e iniciaram os trabalhos de limpeza de suas casas.

Nas próximas páginas é possível conferir um pouco do que foi a Enchente de Setembro de 2011 em Gaspar e Ilhota, desde o momento em que as águas começaram a subir até o momento em que as águas baixaram e a vida voltou à sua normalidade.

 

A vida volta à sua rotina


Segunda-feira, 12 de setembro de 2011. Os carros circulam normalmente pelas ruas da cidade, ônibus fazem o transporte de passageiros pelos bairros e também para as cidades vizinhas. Crianças caminham trajadas com seus uniformes e correm para não perder a hora do início das aulas. Trabalhadores saem de casa para iniciar mais um dia na jornada de trabalho. É a vida voltando à sua rotina após mais uma enchente vivida pelos moradores do Vale do Itajaí.

O que se viu pelas ruas da cidade na manhã desta segunda-feira, 12, foi pessoas comentando até onde a água chegou em suas casas, ou na casa de vizinhos e amigos. Algumas lojas ainda tiravam a sujeira deixada pela enchente e outras funcionavam normalmente, atendendo clientes que buscavam comprar móveis e roupas que foram levados com as cheias. 

Depois de dois dias de terror, acompanhando o nível das águas subir a cada hora e as ruas e bairros serem alagados, e depois de dois dias de muito trabalho para limpar a sujeira deixada pelas águas, os moradores de Gaspar precisaram encontrar novas forças para voltar à rotina, afinal, depois da enchente a vida segue e não é possível ficar parado.

Algumas escolas retornam terça-feira

As aulas das redes municipal e estadual de ensino também foram retomadas e em apenas três educandários a rotina voltará ao normal apenas nesta terça-feira, 13. No CDI Sonia Gioconda Beduschi Buzzi, no Jardim Primavera, a segunda-feira foi de limpeza, pois o educandário foi tomado pelas águas e as aulas retornam hoje. Na Escola Dolores Krauss, algumas famílias ainda estavam alojadas no dia de ontem e por isso as aulas serão retomadas apenas nesta terça. 

O pré-escolar da Escola Angélica de Souza Costa, que funciona nas dependências do Salão São Sebastião, na localidade do Sertão Verde, também não teve aula nesta segunda-feira, 12, pois famílias ainda estavam abrigadas no local.

 

Trabalho para retirada de entulhos segue até sexta-feira


fotopg9abreMD.jpgOs dias de limpeza mostraram a força que os moradores têm e também a vontade de logo retornar às suas vidas normais. As lembranças da enchente que tomou conta do Vale do Itajaí estão materializadas nos móveis, roupas e eletrodomésticos estragados. Estes objetos, colocados do lado de fora das casas, aguardam que um caminhão de lixo as leve, e então as águas que tomaram conta das ruas serão apenas lembradas nas memórias e fotografias.

A Secretaria de Transporte e Obras iniciou nesta segunda-feira, 12, o trabalho de retirada dos entulhos nos bairros. Os primeiros foram aqueles que foram os mais atingidos: Bela Vista, Figueira, Coloninha, Sertão Verde e Rua Sete. Até o final da semana todo o lixo gerado pela enchente deverá ser recolhido das portas dos gasparenses. “Pedimos para que os moradores não misturem os entulhos com o lixo doméstico”, solicita o assessor administrativo da Secretaria, Gilberto Goedert.

Estes entulhos estão agora sendo depositados em terreno público e depois terão seu destino final ao seremfotopg09abreeeMD.jpg recolhidos por uma empresa ainda não determinada. A sede da Secretaria de Transporte e Obras é o local em que agora estão armazenados os restos da enchente. De acordo com Gilberto, a quantidade de lixo recolhida já é imensa. “Já retiramos 50 cargas de caminhão. São móveis, eletrodomésticos e principalmente sofás”, contou.

Polêmica

Durante a manhã de segunda-feira, a Secretaria de Obras começou a despejar os produtos recolhidos em uma praça na rua Frei Canísio. Os moradores não aceitaram a situação e entraram em contato com os veículos de comunicação locais para reclamar. “Estávamos colocando lá porque era mais próximo, mas o pessoal reclamou e mudamos o local”, resumiu.

Abrigos desativados

Os locais ativados para abrigar os gasparenses ficam cada dia mais vazios e devem ser totalmente desocupados até a quarta-feira. É nesta data que cada local volta a ter sua serventia original e as famílias terminam de se instalar em suas casas. Foram, no total, treze abrigos destinados a oferecer um teto para os desabrigados durante este período de cheias. Entre estes locais se distribuíram os moradores do Centro, Coloninha, Figueira, Bela Vista, Margem Esquerda, Lagoa, Sete de Setembro, Gaspar Grande e Santa Terezinha que foram atingidos pelas águas.

Previsão do tempo

O sol apareceu no sábado para trazer esperanças aos gasparenses. Depois de dias de fortes chuvas, o dia ensolarado era por si só a melhor notícia que poderia chegar aos moradores da cidade. De sábado a segunda-feira, o sol se manteve firme, ajudando a secar ruas, móveis e outros objetos. 
De acordo com a Epagri/Ciram, órgão do governo do estado responsável pelas previsões metereológicas, a terça e a quarta-feira serão de tempo estável com sol em todas as regiões, tendo temperatura mais baixa ao amanhecer e mais elevada na parte da tarde.

Para quinta-feira, a notícia não é tão boa. O tempo muda e traz aumento de nebulosidade, dando condições para chuva com trovoadas em boa parte do estado. A sexta-feira traz um tempo nebuloso, com um pouco de chuvas e temperatura estável.


Donativos

Na enchente de setembro de 2011, foram poucos os donativos recebidos pela Defesa Civil de Gaspar. Apenas duas entidades fizeram a doação de produtos para a população gasparense: a Polícia Civil de Joinville e a Defesa Civil Estadual. “Em Gaspar, as pessoas devem procurar famílias que foram atingidas ou ir à secretaria de Desenvolvimento Social pegar o cadastro daqueles que precisam de doações”, orientou a coordenadora da Defesa Civil, Mari Inez Testoni Theiss.

O secretário da pasta, Roberto Procópio, destacou que a Secretaria não tem logística para levar os donativos até as famílias e por isso pede para que os doadores de Gaspar peguem o endereço de famílias em seu cadastro e levem as doações diretamente para elas. “O maior problema são os móveis. Diferente de 2008, os mercados reabriram e a normalidade voltou. Há casos específicos de pessoas que ainda precisam de ajuda”, contou.

Gaspar recebeu da Defesa Civil estadual 400 cestas básicas, 400 kits de higiene, 400 kits de limpeza e 100 colchões. Confira no box abaixo os donativos trazidos pela Polícia Civil de Joinville.

Dia de colocar a casa em ordem


fotopg10abreMD.jpgO sol brilhou forte desde cedo no domingo, 11, trazendo ânimo para os gasparenses que passaram o dia limpando o que restou da enchente de setembro de 2011. A água, que ainda ocupava as ruas e casas no sábado, baixou rápido entre final da noite e início da manhã de domingo. Até mesmo localidades como o Sertão Verde, que tinha água até a altura do teto de algumas casas, encontravam-se sem alagamentos, e em outros bairros, como o Figueira, a água terminava de escoar. 

O que se ouvia nos bairros afetados era o som dos lava-jatos, que tiravam de dentro das casas a sujeira e um pouco da lama trazida pela enchente. O que se via era uma movimentação que começou cedo na manhã de domingo, de pessoas que usavam também mangueiras, rodos e vassouras para limpar suas casas. O cenário do lado de fora das casas era igual em todos os bairros atingidos: móveis e outros pertences colocados ao sol para secar mais rápido. Assim, logo os moradores já separariam o que virou lixo do que conseguiram salvar.

A história se repetiu e muita gente que havia perdido tudo em 2008, perdeu tudo novamente. Soraia Oliveira Dias, 45 anos, conseguiu salvar roupas, a geladeira e o fogão. O restante, ela e o filho não tiveram como levar. Esta foi a segunda vez que a moradora do bairro Figueira perdeu quase tudo. Em comparação à última tragédia, ela afirma que desta vez foi pouca a lama que restou, sendo mais afetada pela água. A placa na fachada da sua casa anuncia a intenção de vendê-la. “Já queria vender para ir para perto dos meus pais. Mas e agora, quem é que vai comprar?”, indaga.

Entulhos ficaram do lado de fora


fotopg11abregasparinhocolorMD.jpgPerto da casa de Soraia, uma casa continuava com o chão cheio de água. Cerca de 20 centímetros do que foi trazido pela enchente ainda estava dentro da residência de Adilson Gonçalves Padilha, 44. Seu filho pequeno tentava, em vão, tirar um pouco de água da varanda com um rodo. 

O esforço era inútil, visto que a água estava na mesma altura da varanda. “Nossa casa é uma das primeiras a pegar água, com enxurrada também pega. A água aqui não tem para onde escoar, pois a tubulação é muito pequena”, contou Adilson. Desta vez, ele conseguiu salvar eletrodomésticos e roupas, e tem a esperança de que a máquina de lavar e a geladeira ainda funcionem depois de atingidas pelas águas. Os colchões e o sofá vão para o lixo.

Loreno Chiminelli, 56 anos, morador do bairro Bela Vista, já se diz acostumado a passar pela limpeza do dia seguinte. A água sempre alcança sua casa, mesmo em casos de enxurrada. Para agilizar a limpeza, ele comprou dois lava-jatos e fez a calçada e lado externo de sua residência  com pedra. Loreno mostra a marca que a enchente deixou em sua parede. É quase de sua altura, cerca de 1,70 metro. 

Uma camada de lama cobria a calçada e a garagem, além da brita e flores do jardim e o interior do andar de baixo da casa. Restava apenas limpar tudo, para que logo pudessem trazer de volta os móveis do andar inferior.

Depois que as águas baixaram, famílias tiveram muito trabalho

pg12abrebelavistaMD.jpgA indignação com o Poder Público foi refletida nas palavras de Maria Tancon, 53. Da enchente, também sobrou em sua casa uma fina camada de lama, em todo o andar inferior. O lava-jato estava desligado, esperando um momento de consumo de água menor no bairro para que ela conseguisse passar com pressão pelo aparelho. Maria mostra que tentou salvar vários pertences colocando-os em cima de uma mesa alta. “Mesmo assim a água veio e derrubou tudo. Estamos desde cedo limpando”, conta. Em meio à limpeza, veio o inesperado: um pequeno peixe foi encontrado em meio à lama da casa.

A lama também tomou conta da calçada de Marcela Schneider, moradora do Gasparinho. A maior parte da lama era formada por areia que as águas trouxeram de uma construção próxima a sua casa. “O problema nem é tanto a lama, mas o lixo. Nossa rua ficou cheia de lixo”, apontou. Sua residência também foi atingida, por 55 centímetros de água.
No caso do Sertão Verde, esta metragem alcançou mais de dois metros, porém, a água havia escoado completamente no domingo. “Sempre dá prejuízo. Desta vez foi mais água, havia pouca lama. De manhã cedo a água já tinha baixado e todos começaram a limpar. Aqui, a limpeza deve ir até a noite”, contou Dorival Nascimento, 43, mais conhecido como Russo. Ele é proprietário de uma mecânica na localidade e ainda contava o prejuízo. O primeiro andar de sua casa, onde funciona o estabelecimento, foi completamente coberto pela água.

Jogo de quarto do bebê, jogo de banheiro, colchões, televisão, o jogo de quarto dele e da mulher, que sequer havia terminado de pagar. Isto é apenas parte do que Elton Roger dos Santos Corso, morador da mesma localidade, perdeu. Cita apenas a geladeira e a máquina de lavar como pertences que ainda poderá aproveitar. A água, que chegou na altura da janela, havia ido embora com o amanhecer. Os quase cinco centímetros de lama que a enchente deixou dentro de sua casa foram tirados logo cedo, com a ajuda de uma mangueira. Naquele momento, tudo secava ao sol, mesmo o que vai diretamente para o caminhão do lixo. Ainda assim, Elton não mostrava sinais de desânimo e afirmava que o importante era estar bem para poder seguir em frente.

Histórias como estas apareceram em todos os bairros afetados pela enchente e trazem a certeza que o mês de setembro do ano de 2011 ficará marcado na memória destas pessoas.

Serviços atuaram de plantão


Trabalho de informação

fotoequipejornalMD.jpgO Jornal Cruzeiro do Vale montou um plantão para levar informações sobre a enchente a todos os internautas, que desde quinta-feira, 8, acessaram as notícias, extrapolando as médias de acessos diários, que são de 4 mil, para 20 mil acessos.

Devido às inundações, não foi possível que a edição impressa do Cruzeiro circulasse na sexta-feira, 9. Mesmo assim, mantendo compromisso de informar o leitor, a equipe trabalhou para manter a atualização do portal de notícias online, deixando a informação à distância de um clique. A cobertura levou informação não apenas aos gasparenses, mas às pessoas de todo o Brasil que tinham interesse em acompanhar as cheias e foi feita com toda a seriedade e credibilidade que só o Cruzeiro do Vale pode oferecer.

Rádio

fotopg13abreMD.jpgO regime de 24 horas de trabalho foi instalado também na Rádio Sentinela do Vale, que trabalhou como importante veículo de informação durante os tempos de caos em Gaspar. Os moradores da cidade ligavam com grande frequência para obter informações sobre diversos fatores relacionados à enchente: chuvas no Alto Vale do Itajaí, situação das represas, acessos entre as cidades, saber os motivos dos cortes de energias e pontos de alagamento.


Prefeitura e organizações montaram Central de Comando

A previsão de forte chuva e enchente fez com que muitas organizações se programassem para poder atender melhor a população. Defesa Civil, Polícia Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, rádios e jornais, todos trabalharam de plantão. Para concentrar os serviços e tornar possível que fossem tomadas decisões essenciais nos momentos de crise, uma Central de Comando foi montada no auditório da prefeitura de Gaspar.

fotopg131MD.jpg“A situação foi ficando caótica e precisávamos de uma estrutura melhor, com mais telefones e computadores”, explicou a coordenadora da Defesa Civil, Mari Inez Testoni Theiss. Para ela, a centralização dos atendimentos, evita que a equipe de mais de um órgão vá ao mesmo local para resolver um problema. De acordo com Mari Inez, a Defesa Civil trabalha com os funcionários efetivos e apoio de comissionados da prefeitura convocados a auxiliar em uma situação do tipo.
“O que mudou foi o número de pessoas que se apresentou para ficar de plantão. Geralmente são quatro bombeiros de plantão e no sábado, eram 12 bombeiros militares e 12 comunitários”, contou o tenente Alcione Fragas. De acordo com o tenente, até o sábado, a maior parte das ocorrências era relacionada à enchente.

Ajuda de fora:

Uma equipe da Polícia Civil de Joinville também veio a Gaspar para dar apoio aos trabalhos desenvolvidos durante o período de enchente e trouxe cerca de 80 cestas básicas, doadas por entidades de Joinville, para as famílias atingidas em Gaspar. Além do reforço policial, um helicóptero, também da Polícia Civil, veio a Gaspar para dar apoio ao translado de duas doentes graves para hospitais da região. O Delegado Paulo Koerich foi o responsável por solicitar o auxílio do transporte que trabalhava em Rio do Sul.

Uma sexta-feira de pânico


fotopg14abreMD.jpgOlhos e ouvidos atentos à movimentação dos rios e ribeirões. Rádios sintonizadas e computadores conectados a todos os portais de informação da cidade. A população gasparense ainda estava receosa na manhã de sexta-feira e acompanhava as medições do nível do Rio Itajaí-Açu. A previsão de que o nível do rio iria alcançar 11,5 metros em Gaspar e 14 em Blumenau não se confirmou, mas ainda assim a água adentrava nos bairros, a Ponte Hercílio Deeke estava interditada e 559 pessoas estavam em abrigos. A atmosfera era de pânico.

Aqueles que não foram atingidos pelas águas saíam de casa para verificar a situação de outros bairros. Uma verdadeira multidão de curiosos se formou perto da Ponte Hercílio Deeke e, após a liberação da passagem para pedestres, foram muitos os que circularam pelo local para ver com os próprios olhos como estava a construção.

Nos bairros, a luta contra as águas era grande. Muitos haviam colocado os móveis para cima e outros tantos já estavam em abrigos. Mas havia ainda pessoas tentando salvar tudo o que fosse possível de dentro de suas residências. As cenas de moradores carregados de objetos, pessoas atravessando as águas a pé ou de batera eram constantes e podiam ser vistas em vários bairros da cidade, como Figueira, Bela Vista e Sertão Verde. Em alguns lugares, as embarcações eram o único modo de se locomover.

Uma reportagem pelas águas do Sertão Verde


fotopg16abrecolorMD.jpg“Enquanto muitos bairros de Gaspar ainda se enchiam de água, nesta sexta-feira, 9 , eu e o fotógrafo Fábio Venhorst fomos ver de perto a situação daquela que acredito ser a localidade mais afetada pelas chuvas: Sertão Verde. Acompanhamos a realidade dos moradores, demos apoio e ainda ajudamos alguns moradores que tinham necessidades.

Saímos a pé da redação do Cruzeiro do Vale, pois a Ponte Hercílio Deeke estava interditada para a passagem de veículos. Atravessamos a ponte e pegamos carona com uma viatura da Ditran até a localidade. Pudemos ver que todas as ruas da localidade foram atingidas pelas águas e estavam alagadas. A maioria das casas tinha água quase até o teto, exceto as residências de dois andares, em que a água atingia todo o primeiro piso.

Fomos então de batera, a Bicuda, com Mauro Júlio Cruz e Sandro Nascimento, que nos deram apoio em nossa jornada pela comunidade. Fiz questão de ser o responsável pelas remadas. A primeira ação de nossa equipe foi levar água para duas pessoas que estavam no segundo andar de uma igreja. Acredito que a esta altura, a água já deveria ter alcançado três metros. Resgatamos também um senhor que pedia socorro em cima de uma laje e o levamos até um local seguro. Paramos depois para visitar uma família abrigada no segundo andar de sua casa. Oferecemos auxílio, mas preferiram ficar em casa, pois tinham água potável e mantimentos.

Fomos parar em uma encosta que a água não havia alcançado e lá encontramos um exemplo de solidariedade. Raimundo da Cruz Neto e sua esposa, Eva Rodrigues, abrigavam em sua casa mais nove famílias da localidade, cerca de 25 pessoas. “Estou a pouco tempo em Gaspar. É a primeira enchente que passo por aqui, mas senti que temos que ser solidários neste momento difícil”, contou-me Raimundo. Vendo o frio que passávamos, ofereceu uma caipirinha para nos esquentar, e nós não recusamos.No retorno, vimos uma família sobre uma laje. Pediram para que levássemos uma criança até a beira da rodovia, pois ela estava com medo de ficar no local. 

Pegamos mais uma vez carona do Sertão Verde até a ponte com uma viatura da Ditran. Deixo aqui um agradecimento especial ao diretor da Ditran, Jackson dos Santos, pelo apoio à reportagem”.

Gilberto Schmitt

 

Quinta-feira que ficará marcada na história de Gaspar e do Vale


fotopag17abrecolorMD.jpgAs chuvas caiam intensamente sobre todo o Vale do Itajaí na manhã de quinta-feira, 8 de setembro, e confirmavam o que poucos meteorologistas tiveram coragem de prever: uma nova enchente para todas as cidades da já castigada região do Vale. 

Conforme o nível do rio foi aumentando, aumentou também a preocupação das famílias que residem nas áreas mais baixas de Gaspar, que são atingidas pelas águas a partir do momento em que o rio atinge seis ou sete metros acima do seu nível normal.

Primeiros Alagamentos

Um dos primeiros lugares a ser alagado foi o bairro Figueira. Na rua Rio do Sul a equipe de reportagem do Cruzeiro do Vale registrou a primeira foto de alagamento em uma residência, ainda na manhã de quinta-feira. As ruas Helena Augusta Gaertner e Manoel Bernardes da Silva também foram as primeiras a serem atingidas. Os bairros Lagoa e Bela Vista foram atingidos no período da tarde de quinta-feira e muitas ruas ficaram repletas de água.

Conforme as horas do dia foram passando, novos bairros foram ficando alagados e ruas inteiras ficaram embaixo da água logo no início do anoitecer, trazendo medo e apreensão para todos os moradores da cidade.

 

Hora de carregar os móveis


fotopg18abreMD.jpgA quinta-feira anoiteceu e trouxe a sensação de pânico para quase toda a comunidade. As águas do Itajaí-Açu não paravam de subir e as previsões não eram das melhores: as águas deveriam chegar a 10,22 metros até a meia noite. 

Alertadas pela Defesa Civil, as famílias começaram a deixar as suas casas e se dirigiram para os 12 abrigos montados em Centros Comunitários e escolas de cada bairro. Eram famílias como a de Ivo Cardoso Santos, morador da rua Amazonas, no bairro Bela Vista. “Fiquei desesperado. Moro há três anos nesta casa e nunca pegamos enchente. Por sorte, conseguimos pegar a maioria de nossas coisas”, contou o morador, que pela primeira vez na vida dormiu com a esposa e os quatro filhos em um abrigo improvisado.

Liziete Borges Silva também deixou sua casa às pressas. A moradora da rua São Paulo, no bairro Bela Vista, mora com a filha que há 12 anos reside no bairro e pela primeira vez foi atingida pelas cheias. A família conseguiu carregar quase todos os móveis com ajuda da comunidade.

Eram 22 horas de quinta-feira e a água ainda não havia chegado na rua Angelina Motter, no bairro Sete, porém, Maria Zenilda dos Santos, que já passou por várias enchentes, se preveniu e tirou todos os móveis de sua casa em um grande caminhão de mudanças. “Com dez metros já pega água na minha casa, por isso prefiro tirar tudo e levar para um lugar seguro do que perder tudo outra vez”, relata Maria. A mesma cena pode ser observada em vários bairros da cidade. Na Margem Esquerda os moradores da Nicolau Threiss também retiraram seus móveis durante a madrugada.

Previsão errada

Quando os ponteiros dos relógios marcaram meia noite a população do Vale pode respirar um pouco mais aliviada. 

A previsão de que o rio chegaria a mais de 10 metros em Gaspar não se confirmou e a situação começou a ficar mais fácil de ser controlada. O rio chegou a 8,68 metros acima do nível em Gaspar e foi subindo lentamente na madrugada, chegando ao seu nível máximo às 11 horas da manhã de sexta-feira, com 9,42 metros.

 

Correria foi grande para garantir os alimentos essenciais em casa


fotopg19abreMD.jpgEnquanto as águas subiam sem parar, as famílias que não corriam o risco de ter suas casas atingidas pelas cheias foram aos supermercados da cidade para garantir o estoque de alimentos durante os dias em que a cidade estaria isolada pelas águas. 

O movimento nos supermercados foi muito superior ao normal de uma quinta-feira e muitas filas se formaram nos principais supermercados da cidade. Entre os itens mais procurados estavam água, leite e pão, alimentos essenciais para a alimentação do dia-a-dia.

Cidade parou

Enquanto nos supermercados o movimento não parou durante toda a quinta-feira, escolas, comércio e empresas ficaram vazios. As aulas das redes municipal, estadual e particular foram canceladas, as principais indústrias da cidade – Circulo, Plasvale e Bunge – liberaram seus funcionários e muitas lojas da área central também fecharam suas portas na tarde de quinta-feira, 8. Os ônibus das empresas Verde Vale e Viação do Vale pararam de circular e todas as linhas foram canceladas. Todos queriam voltar para casa em segurança enquanto as águas ainda não tomavam conta de todos os acessos da cidade. 

Todos os eventos programados para o final de semana, como competições esportivas, festas de igrejas, eventos de escolas e associações de moradores também foram cancelados, anunciando que o pior estava por vir e todos precisavam garantir a segurança de suas próprias vidas e dos familiares.

Uma noite no abrigo


fotopg20abrecolorMD.jpgQuando decidiu deixar sua terra natal, no Ceará, e vir tentar uma vida melhor no sul do país, Marli Maria da Silva Lins nunca imaginou que viveria o terror que viveu na madrugada de quinta-feira. “Ouvi as pessoas falando de enchente, mas não tinha água na minha casa ainda, então achei que não aconteceria nada e fui dormir. Fui acordada por pessoas na rua dizendo que tínhamos que sair para não ficar alagados e foi tudo numa questão de minutos. Pegamos nossas coisas e quando vimos a água já estava dentro de casa”, relata a moradora do bairro Coloninha, que conseguiu salvar apenas algumas roupas.

A família da Marli foi uma das primeiras a chegar ao abrigo montado no Salão Cristo Rei. Ainda na quinta-feira, quando a enchente se confirmou, a equipe da Defesa Civil acionou a Secretaria de Assistência Social, que organizou abrigos em todos os bairros atingidos. Ao todo, 12 abrigos oficiais foram montados em escolas e centros comunitários e receberam as mais de cem famílias desalojadas.

De todas as pessoas abrigadas, poucas conseguiram dormir na madrugada de quinta para sexta-feira. Todas estavam aflitas com o aumento do nível do rio e ficaram acordadas, obtendo informações pela rádio e através das autoridades oficiais.

Para garantir as refeições dos desalojados, a equipe da Prefeitura comprou alimentos e uma equipe de voluntários preparou 550 almoços ao meio dia de sexta-feira. A refeição foi preparada no Salão Comunitário do Santa Terezinha e o trabalho foi coordenado pela equipe da Secretaria de Educação. Para o jantar, os alimentos foram levados até os abrigos as próprias famílias prepararam suas refeições. “Está foi a orientação a partir de sexta, levamos os alimentos até os abrigos e eles se organizaram para preparar e distribuir a refeição, pois não temos pessoas suficientes para fazer todo o trabalho”, relata Doraci Vanz, chefe de gabinete. 

Todos os alimentos foram adquiridos com recursos da Defesa Civil do Município.

 

Solidariedade dá forças para famílias recomeçarem


fotopg21111MD.jpgEm meio à tanto mal trazido pelas águas da enchente, o sentimento de solidariedade foi o que de melhor nasceu entre os gasparenses. Vizinhos, amigos, familiares. Todos se ajudavam para poder salvar o máximo de móveis, roupas e eletrônicos possível. Os desabrigados contaram ainda com a ajuda da equipe da Conferência Vicentina, da Secretaria de Desenvolvimento Social e também de voluntários que foram aos abrigos levar ajuda a quem quer que precisasse.

“Nessa hora, temos que arregaçar as mangas, ajudar o outro sem olhar quem ele é e nos esforçar ao máximo”, declarou José Alberto Schmitt, que ajudou um amigo e um funcionário e retirar todos os seus pertences de dentro de casa e os levou para a casa de um irmão e para o seu galpão. 

As coisas pequenas foram guardadas nos forros das próprias casas, mas o resto foi retirado para que não houvesse perda. José também foi atingido, mas se preparou com antecedência para que nada fosse destruído dentro de sua casa. O domingo foi dia de levar tudo de volta a seu lugar para que as pessoas pudessem recomeçar suas vidas.

O trabalho de transporte de pertences também foi feito por Renato Aloísio Cardoso e sua esposa, que foram ao abrigo ativado no Salão Cristo Rei ajudar moradores do bairro Coloninha a levar tudo de volta para as casas. “Ajudei como pude. Vi que estava dando uns dias bonitos de sol e imaginei que aquelas pessoas gostariam de voltar para casa. Eu e minha mulher tivemos vontade de ajudar, é de nossa natureza”, contou. 
Os dois fizeram tudo de forma voluntária. Embora tenha ajudado famílias a voltar para casa, os verdadeiros heróis, para Renato, são os integrantes da equipe da Conferência Vicentina.

Jocenira Waltrick, voluntária da Conferência Vicentina e coordenadora do programa Pastoral da Criança, conta que desta vez houve mais doações de roupas de cama, mesa e banho, embora também tenham sido doados alguns móveis, 20 colchões, uma caixa de leite e menos de cinco quilos de alimento, sendo que tudo isto já foi distribuído para os atingidos. “Foi razoável, mas também não houve tanta procura. Em 2008, a tragédia foi uma surpresa. As pessoas chegavam aqui com uma sacola com peças de roupa e documentos. Desta vez, foi alertado e as pessoas puderam se organizar mais, trouxeram mudanças completas”, compara. Poucas pessoas ainda estão no abrigo do Cristo Rei, onde se localiza a Conferência Vicentina, mas até quarta-feira o abrigo deverá ser desativado.

Enchente traz outros problemas além dos alagamentos


fotopg22invasao1MD.jpgAs casas de plástico localizadas na BR-470 e destinadas a desabrigados da tragédia de 2008 foram invadidas por cerca de 20 famílias do bairro Sertão Verde na noite de sábado. Os moradores perderam tudo nesta enchente e procuram por ajuda da Prefeitura. Eles estavam nos abrigos da Margem Esquerda quando resolveram invadir e para lá voltaram após uma conversa com representantes do Governo.

Américo da Silva morava de aluguel no andar inferior de uma casa e perdeu todos os seus móveis e pertences. Além disso, o lodo da enchente ainda está no chão do local. “Como vou colocar meus três filhos e minha mulher grávida aqui? O cadastro que fiz em 2006 com a prefeitura, quando ainda morava na Figueira, sumiu. Estou sofrendo há 12 anos”, conta o morador.

Veroni Nunes da Silva já pegou a enchente de 2008 e afirma estar cadastrada para receber uma das casas invadidas. Todos os seus móveis e a maioria das roupas sofreram estragos com a água. “É uma vergonha, aquelas casas estão prontas há tanto tempo. Disseram-nos que deixamos as coisas molharem para ganhar tudo novo. Nós levantamos as coisas, mas ainda assim a água pegou. Estamos procurando por ajuda, não por humilhação”, indignou-se, entre lágrimas. Areldo Leopoldo, marido de Veroni, conta que o que perderam agora são móveis novos, pois nada sobrou de 2008. “Demoraram demais para nos dar a casa prometida e compramos móveis para esta. Negociamos com a prefeitura nosso terreno pela casa e até agora, nada”, reclamou.

De acordo com o secretário do Desenvolvimento Social, Roberto Procópio, as famílias que moravam de aluguel tem direito a kits limpeza e cesta básica, caso se enquadre em certos critérios, mas não há auxílio-moradia para eles no município. “E as casas invadidas já tem pessoas determinadas que sofreram perdas em 2008 e irão morar lá”, explicou o secretário. O diretor da habitação, Eriberto Geraldo Kuntz, esclareceu que quem pagava aluguel, se não possuir nenhum imóvel em seu nome, pode se encaixar no programa Minha Casa, Minha Vida. Este visa a aquisição de imóvel com parcelas leves para quem nunca possuiu um antes. Quanto aqueles que tinham alguma propriedade e foram afetados, ainda não foi tomada nenhuma medida. “De momento, não temos nada para este pessoal, pois cada caso será analisado”, resumiu

Preços abusivos

Uma ouvinte do bairro Lagoa ligou para a rádio Sentinela do Vale no sábado, 10, e falou que comerciantes da cidade estariam se aproveitando da enchente para vender produtos essenciais a preços abusivos. O mesmo problema foi constatado e outras cidades atingidas pelas cheias.  “No entanto, não fomos verificar se era verdade. A ligação caiu durante a conversa e há a possibilidade de que tenha sido trote”, conta o repórter Jota Aguiar, que estava de plantão e atendeu a chamada. O Procon de Gaspar não recebeu nenhuma denúncia de preço abusivo durante a enchente. Pessoas que tenham solicitado a nota fiscal e possam comprovar a cobrança indevida devem notificar o Procon, que fará a autuação dos comerciantes que se aproveitaram da enchente para faturar.

Casas foram saqueadas

Nem mesmo em situações caóticas como a de uma enchente, que atinge vários pontos da cidade, pessoas aproveitadoras deixam de aparecer. Isto ficou claro nos fotopg22saquesMD.jpgacontecimentos da noite de sexta-feira, 9, no bairro Figueira. 

Naquele momento, uma parte do bairro estava sem o fornecimento de energia elétrica e pessoas aproveitaram o breu para entrar nas casas vazias e levar pertences das famílias. Os moradores, que haviam saído de casa devido aos alagamentos, acionaram a Polícia Militar para resolver a situação, porém a polícia não conseguiu chegar aos locais e confirmar as denúncias pois as casas estavam alagadas. A comunidade apontava que, em batera ou canoa, estas pessoas iam até o final da rua para poder adentrar nas casas. Uma das vítimas destes oportunistas foi Carlos Alberto de Souza. “Roubaram meus passarinhos e o aparelho de som do meu filho. Eu havia colocado em um local mais alto, em um puxadinho que tenho aqui atrás de casa, para salvá-los das águas”, conta.

Mídias Sociais ajudaram a informar sobre a enchente


fotopg233marcosMD.jpgQuando as águas cercam as casas, o jeito é arranjar uma forma de se manter informado. Na era contemporânea, as informações não vêm apenas do rádio e televisão, mas também da internet: de sites, e das hoje muito utilizadas redes sociais. Na enchente pela qual o Vale do Itajaí passou nesta última semana, redes como o Facebook e o Twitter foram usadas para disseminar informação entre moradores de todas as cidades que estavam ilhados ou não. As pequenas notícias chegaram de forma rápida às telas dos computadores, tablets e celulares com acesso à internet.

Natália Corradi Curioletti é professora de teatro em Gaspar e soube que seu local de trabalho não havia sido afetado justamente pelas redes sociais, mais precisamente o Facebook. “Acredito que para quem tinha energia e ficou dentro de casa, foi o jeito de se manter informado”, comentou. Natália mora em Blumenau e ficou ilhada durante a quinta e a sexta-feira. Foi pelo Facebook que ela acompanhou a situação em Gaspar e nos demais municípios do Vale do Itajaí pelas atualizações de seus contatos, que postaram fotos, notícias e links. Desta forma, foi possível que mesmo sem ter acesso a qualquer lugar que ficasse fora de casa, ela pudesse manter contato com conhecidos e ajudar pessoas que passavam por necessidades, como, por exemplo, a irmã de uma amiga que estava em Itajaí e não conseguia sair de casa a encontrar alguém que pudesse salvá-la.

Saber que havia muita gente na mesma situação de Natália foi o que fez Marcos Alexandre da Trindade sair às ruas para bater fotos e mostrar qual era a real situação na cidade. “Tentei deixar as pessoas informadas, tinha muita gente ilhada que queria saber como estava sua rua. Um amigo meu viu como estava a rua em que mora pela foto do meu facebook”, contou. Ele também achou interessante poder ver por estas mídias como estavam lugares que costuma frequentar, como a Furb, sua universidade e os bares da rua Antônio da Veiga. 
Uma ferramenta que aproxima os dados das pessoas, neste caso mais usado para monitoramento. É assim que Roni Muller define a usabilidade do Facebook em um momento como o que os gasparenses passaram. “É uma maneira de contribuir com a comunicação, já que não temos como ir a todos os lugares. E há também a opção de chat entre os usuários, que permite que você converse com muitos contatos de diversos lugares”.  Em seu Facebook, ele procurou compartilhar links, manter as pessoas em alerta e responder dúvidas que outros usuários postavam.

Ilhota

fotopg23twitterilhotaMD.jpgOutra rede social, utilizada de forma mais oficial, foi a responsável por manter os moradores de Ilhota informados sobre a situação na cidade. A Defesa Civil de Ilhota criou um perfil no twitter, com constantes informações, que deixaram os ilhotenses a par de toda a movimentação de ocorria na cidade. Os acessos livres, trabalho da defesa civil e pontos de alagamento. Tudo isto foi acompanhado pelos moradores por meio de uma ferramenta de informação rápida a que toda a população com internet tinha acesso, mesmo sem possuir conta no twitter.

 

 

Qual a lição que fica após mais uma grande enchente na cidade?


2.536 desalojados, 559 desabrigados, 1027 residências inundadas pelas águas. Estes são alguns números da enchente de setembro de 2011 em Gaspar. Após a correria para salvar as pessoas e seus pertences das águas, alojá-las com segurança e levá-las de volta para suas casas, chega o momento de avaliar a atuação dos órgãos públicos e de segurança em mais uma catástrofe natural em toda a região do Vale.  

Para Mari Ines Testoni Theiss, diretora da Defesa Civil de Gaspar, a maior lição desta enchente foi o trabalho em conjunto da Prefeitura, Bombeiros e Polícias. “Em 2008 cada órgão trabalhou por si mesmo, desta vez tínhamos um plano de contingência, que previa a formação da Central de Comando logo que a enchente se confirmasse. Montamos esta central e ela facilitou, e muito, o trabalho da remoção das famílias atingidas”, afirma.

Para Mari Inês, ainda faltam alguns detalhes para um socorro mais acertado, porém, a atuação neste ano foi bem superior a realizada em 2008, quando muitas famílias perderam tudo, inclusive a vida. “O que faltou desta vez foi a comunidade acreditar mais em nossas previsões. Na quinta a tarde fomos para a rádio pedir que as famílias que moravam em locais onde a água entra com dez metros deixassem suas casas. Como a água ainda não havia chegado, muitas ficaram em casa e acabaram tendo que sair apenas com algumas roupas”, afirma a diretora da Defesa Civil, que também afirma ter faltado uma melhor comunicação com a imprensa através dos Boletins Oficiais. “Muitos jornalistas pegavam informações de outras fontes, que não a nossa, ficando as informações por vezes desencontradas e até impedindo que nós nos comunicássemos com fontes importantes, como os medidos da Circulo”, explica.

Bela Vista e Sertão Verde continuam sofrendo com as cheias

Dois bairros que sempre sofrem com as cheias são o Sertão Verde e o Bela Vista. Mesmo depois de 2008 nada foi feito para evitar que novos alagamentos atingissem as famílias que por lá residem. Mari Inês Testoni Theiss, diretora da Defesa Civil, revela que não houve ações pois estes bairros estão no nível do rio e que não há o que fazer nestas situações, apenas retirar as famílias. “O que há no Bela Vista, por exemplo, não é a água do rio que transborda, mas sim o ribeirões que ficam represados e a água volta pela tubulação, atingindo as residências”, explica.

Quanto ao Sertão Verde, a diretora da Defesa Civil afirma que a maioria das famílias atingidas não são as mesmas de 2008. “Muitas que residiam lá em 2008 e moravam de aluguel saíram, outras receberam moradias, apenas algumas é que esperam por moradias. Tem inclusive aquelas que não quiseram sair de lá e por isso foram atingidas novamente. Aquela é uma área de risco”, afirma.

Clique AQUI e veja as fotos do bairro Bela Vista e AQUI as do bairro Sertão Verde.


Cotas de enchente para Gaspar

Gaspar não possui um estudo oficial que aponte as cotas de enchente em cada rua da cidade. Depois de 2008 a Defesa Civil afirma que enviou projeto ao Ministério das Cidades solicitando recursos para elaborar o plano, o projeto foi aprovado mas os recursos ainda não foram liberados. Com as cheias deste final de semana a equipe da Secretaria de Planejamento foi às ruas e pode medir o nível em que cada via começou a ficar alagada. “Agora, com estes dados, vamos começar a fazer nossa cota de enchente. Não pudemos fazer isso em 2008 pois lá o que tivemos foi uma enxurrada e os níveis foram bem diferentes”, explica Mari Inês Testoni Theiss, diretora da Defesa Civil.

Ilhota embaixo da água


fotopg25capailhotaMD.jpgDa Redação
Por Fernanda Pereira


O medo de viver uma nova tragédia igual a novembro de 2008 tomou conta de quase todos os moradores da região do Baú, na cidade de Ilhota. A previsão de enchente fez com que muitas famílias se prevenissem e deixassem suas casas. Outras, preferiram esperar para ver o que aconteceria e o que os moradores dos Baús viram foi uma nova enchente, porém, com proporções bem menores do que a tragédia vivida há quase três anos. 

As águas de setembro alagaram ruas, interditaram acessos, derrubaram algumas barreiras, porém, nenhuma vida se perdeu nesta nova catástrofe natural. Desta vez, os mais afetados não estavam na Margem Esquerda, mas sim, do lado de cá do rio, onde as águas inundaram ruas inteiras e invadiram casas, lojas e empresas. Além da rodovia Jorge Lacerda, que ficou alagada em vários trechos, deixando a cidade ilhada, os bairros Boa Vista, Ilhotinha, São João, Minas, Vila Nova e Ilha Bela também foram bastante afetados. 

Confira abaixo um pouco do que foi a Enchente de Setembro de 2011 na cidade capital da Lingerie e Linha Praia.

Moradores do Baú ficaram isolados


fotopg261MD.jpgA notícia de que uma nova enchente estava confirmada em toda a região do Vale do Itajaí, fez com que a equipe dos Bombeiros Voluntários de Ilhota montassem uma base para atender os moradores da região do Baú, que em 2008 ficaram ilhados e sem socorro. 

Um grupo de bombeiros e representantes da Defesa Civil se deslocou ao bairro ainda na quinta-feira, 8, e permaneceu no local  até sábado, quando o sol voltou a aparecer e as águas baixaram. O grupo foi formado por seis agentes, teve o apoio de uma viatura, um caminhão e uma ambulância, e se dividiu em duas localidades no Braço do Baú e no Baú Central.

Apesar de estarem ilhados – não havia acesso entre o Braço do Baú, Baú Central e Alto Baú -  os moradores ficaram mais tranquilos, pois sabiam que em qualquer emergência teriam equipes de socorro para auxiliá-los. “Deixamos uma agente da Defesa Civil responsável e todos puderam obter informações e pedir ajuda”, explica Paulo Drunn, diretor da Defesa Civil de Ilhota. 

Alguns dados

Apenas duas famílias foram retiradas de suas casas e abrigadas em casa de amigos e familiares. Os bombeiros também ajudaram a conter algumas barreiras, que caíram às margens das estradas, interditando o acesso das famílias. A maior barreira, no Alto Baú, foi removida logo na sexta-feira, 9, liberando o acesso da comunidade.

O maior ponto de alagamento do Baú foi registrado em uma parte baixa do Baú Baixo, onde algumas casas foram alagadas. Apesar disso, nenhum abrigo precisou ser montado na localidade para receber famílias atingidas, todas receberam socorro dos vizinhos e familiares. 

Morro

O Morro do Baú foi avaliado por geólogos neste domingo, 11, e segunda, 12. Ele apresentava algumas rachaduras e duas casas precisaram ser interditadas.

Clique AQUI e veja mais fotos do Baú.

Gestante dá a luz em meio à enchente na cidade de Ilhota

 

fotopg27abreMD.jpgA previsão de que a residência onde mora, em Itajaí, iria ficar coberta pelas águas, levou Marcia Denise da Cunha, grávida de nove meses, para a casa da irmã, no bairro São João, na cidade de Ilhota.

Lá, a gestante planejava ficar em segurança com a família até que as águas da enchente baixassem. Porém, a mulher de 38 anos, grávida do sexto filho, não imaginava que entraria em trabalho de parto na madrugada de sábado, em meio a toda a confusão, e precisou ser socorrida por bombeiros, Samu e até pelo Exércíto, para poder ter o bebê com segurança.

O bombeiro voluntário de Ilhota, Pedro Paulo Batista Neto, estava de plantão quando o telefone tocou, por volta das 11 horas de sexta-feira, 9. “Os parentes nos acionaram para fazer o parto, mas ao chegar na residência percebemos que o bebê estava sentado e não daria para fazer um parto normal. Então tentamos levá-la com a ambulância para Itajaí  pelo bairro São Roque, pois sabíamos que a rodovia estava alagada, mas também não foi possível passar”, relata o bombeiro. De mãos atadas, os socorristas decidiram acionar o médico que estava de plantão no Posto de Saúde Central.

Às pressas, levaram a gestante para o posto de saúde, onde ela foi medicada. A equipe da Defesa Civil de Gaspar entrou em contato com a Defesa Civil de Itajaí e pediu socorro. Um caminhão do exército foi acionado para ajudar a transportar a gestante. “Nós a levamos até o ponto de alagamento da rodovia, no bairro Espinheiros, lá o caminhão a transportou até o outro lado, onde uma ambulância do Samu aguardava. Foi só o tempo de ela entrar na ambulância e o neném nasceu”, relata o bombeiro. O nascimento aconteceu às 0h20. O parto foi feito por seis militares e um voluntário. “Enfrentamos de 0,8 a 1,5 metros de altura de água na pista.

Mesmo em um caminhão, só enfrentamos a correnteza porque o socorro era a uma gestante, pois o risco era muito grande”, revelou o sargento Teixeira, do Exército de Itajaí.

Margem Direita de Ilhota foi a mais afetada com as cheias


fotopg293MD.jpgO sol apareceu neste sábado e domingo mas não foi suficiente para baixar as águas que invadiram vários bairros da margem direita da cidade de Ilhota. Ruas como a Bonifácio Maba e Zelindro Furlani, no centro, e o bairro Pedra de Amolar ainda amanheceram com água nesta segunda-feira, 12. 

Durante todo o dia de ontem as equipes da Prefeitura trabalharam na limpeza das ruas onde as águas já haviam baixado e aos poucos as famílias alojadas nos quatro abrigos montados na cidade retornaram para suas casas. Nesta terça-feira o último abrigo, na Pedra de Amolar, deverá ser desativado. Ao todo, 8.174 pessoas foram afetadas com a enchente, das quais 249 precisaram ser abrigadas.

Ilhados

Com os vários pontos de alagamentos registrados na rodovia Jorge Lacerda, a cidade capital da Lingerie e Linha Praia ficou ilhada e para garantir os atendimentos à saúde da população a equipe da Secretaria de Saúde fez plantão no Posto Central, onde equipes se revezaram de quinta-feira até domingo para atender os possíveis doentes. Um helicóptero da Brigada Militar do Rio Grande do Sul esteve em Ilhota no sábado, levando 100 cestas básicas e kits de limpeza e higiene aos desabrigados do bairro de Pedra de Amolar. O bairro Pocinho ficou sem o fornecimento de energia durante todo o final de semana e o serviço só foi retomado na manhã desta segunda-feira, 12.

Aula

Devido às muitas ruas que ainda estavam alagadas nesta segunda-feira, 12, as escolas da rede municipal de ensino de Ilhota só retomarão as aulas a partir de hoje, terça-feira. As aulas foram canceladas na quinta-feira, após a confirmação da enchente na região. Na segunda-feira, agentes e equipe técnica da Defesa Civil de Ilhota e Secretaria de Educação fizeram o levantamento dos danos e avaliação dos prédios dos educandários. “A prioridade é garantir segurança ao retorno dos estudantes e a preservação ao patrimônio”, afirmou o diretor da Defesa Civil.

Clique AQUI e veja mais imagens de Ilhota.



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Atualizações durante a enchente:


Estado libera R$1 milhão para Gaspar

O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Defesa Civil, liberou, como recurso imediato, R$ 10 milhões que serão destinados para compras de emergência e limpeza dos 91 municípios atingidos pelas chuvas nos últimos dias. O anúncio foi feito pelo governador Raimundo Colombo, neste sábado (10), durante a passagem pelo município de Brusque, um dos mais atingidos. “Esse recurso