POPULAÇÃO LGBT: Mais espaço, menos homofobia - Jornal Cruzeiro do Vale

POPULAÇÃO LGBT: Mais espaço, menos homofobia

22/12/2015
POPULAÇÃO LGBT: Mais espaço, menos homofobia

Os últimos oito anos foram de mudança e afirmação para Sthéfany Alves, hoje com 21 anos. A partir dos 11 anos, ao se vestir e se reconhecer de fato como mulher, Sthéfany descobriu na identidade feminina uma resposta para um constante vazio que, como menino, sentia desde a infância. Aos 13, assumiu de vez a nova identidade de gênero que a completou - e não desceu mais do salto.

O pai até hoje não a compreendeu e não fala com Sthéfany há oito anos, desde a mudança. A mãe, por outro lado, deu todo incentivo do mundo. “Ela sempre me apoiou muito e cobriu até a falta desse afeto paterno. Meu irmão também me aceitou totalmente, cuida de mim e hoje tem até ciúmes quando me vê com alguém”, conta, sorridente.

Se da escola a exclusão e a discriminação são até hoje as principais lembranças, no mercado de trabalho Sthéfany começa a se encontrar. Há cerca de um ano, ela trabalha como cabeleireira e maquiadora em um salão do Centro de Gaspar e está cursando Gestão e Negócios. Nessa área, encontrou total aceitação. “Infelizmente, o mercado de trabalho ainda é um grande obstáculo. Há muita dificuldade para uma trans conseguir qualquer emprego registrado. Em fábricas mesmo, é impossível. Um grande desejo nosso é de que o mercado abra mais as portas para nós”, diz.

As mil faces do preconceito

Moradora do bairro Coloninha, Sthéfany nasceu e cresceu em Gaspar e considera a cidade muito preconceituosa. Os primeiros contatos com a discriminação ocorreram ainda na escola, onde era a primeira acusada de qualquer situação anormal. Até hoje, em festas e no dia a dia, Sthéfany afirma que a rejeição é presença constante. “Os amigos e familiares, que me conhecem, são os que me tratam melhor. Na maioria das outras pessoas você consegue ver o preconceito”, conta.

O fim da homofobia é uma causa urgente para ela. Casos de violência envolvendo a cabelereira são frequentes. Ao passar pela praça na volta do trabalho, já foi apedrejada e teve que correr para não ser agredida. Ameaças de morte por homofóbicos também são rotineiras. “Há uns meses, voltando para casa com uma amiga trans, chegamos a levar tiros de um homem que passou por nós de carro. Tivemos que nos esconder em um matagal para escapar. Fui à delegacia de Gaspar denunciar o caso e tive que ouvir que isso não era motivo de B. O. (boletim de ocorrência). Tudo isso dói muito. Não queremos ser melhores do que ninguém, só queremos os mesmos direitos”, clama Sthéfany.
 

Planejar para conquistar

No último dia 14 de dezembro, Gaspar realizou a 1ª Conferência Municipal LGBT. O encontro teve duas palestras sobre políticas para gays, lésbicas e transexuais e enfrentamento aos casos de violência e à homofobia. Trabalhos de grupos sobre educação e violência também foram realizados. Os resultados serão levados às conferências estadual e nacional LBGT, em 2016.

Uma das palestrantes, a professora Ivone Fernandes Morcilo Lixa, pós-doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, afirma que os dados mostram que o país ainda vive um momento de violência extrema contra homossexuais. “Somos campeões mundiais nesse assunto. São mortes muito violentas, com arma de fogo, pauladas, pelo simples fato de sua orientação sexual. É necessário que se fale desse assunto, pois é através do esclarecimento que poderemos caminhar para um futuro mais promissor”, destaca.

Questão de Estado
Segundo ela, o modelo de Estado que precisa ser buscado é o que elimine diferenças para promover avanços sociais significativos. O professor Sandro Luiz Cifuentes, outro palestrante da Conferência LGBT, focou na preocupação com a exclusão de alunos com orientação homossexual nas escolas. “Nossa escola ainda vê o homossexual como o ‘anormal’, 48% das motivações de bullying são a orientação sexual. É preciso que as escolas trabalhem a questão da identidade de gênero para não serem mais lugares de marginalização e exclusão, como foram no passado”, ressaltou.


Conquistas almejadas

- Criminalização da homofobia
- Mais aceitação ao casamento gay e à adoção para casais homoafetivos
- Maior inclusão no mercado de trabalho para a população LGBT
- Garantia de proteção ao denunciar casos de violência em delegacias
- Mais trabalhos sobre sexualidade e identidade de gênero nas escolas

 

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Mais sobre o assunto:
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Especial de Natal
Edição 1730

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