MULHERES: Nas ruas pela igualdade - Jornal Cruzeiro do Vale

MULHERES: Nas ruas pela igualdade

28/12/2015
MULHERES: Nas ruas pela igualdade

Diferença de salários, abordagens constrangedoras na rua, falta de divisão de tarefas domésticas, assédio moral, sexual, estupro, agressão do marido. Mesmo em 2015, ainda são muitas as formas de violência, opressão ou violação de direitos das mulheres. Mas a principal maneira de combatê-las ainda é uma só: a luta permanente por igualdade de gênero.

O ano de 2015 foi importante para a causa feminista. O assuntou ganhou ampla repercussão e debates nas redes sociais, a persistência da violência doméstica foi tema da redação do Enem e a Lei do Feminicídio, que aumenta a pena e transforma em crime hediondo os assassinatos de mulheres por violência doméstica ou discriminação, enfim foi sancionada.

Muito das conquistas e da visibilidade do assunto se deve aos ativistas da causa. Criado em julho de 2013, o Coletivo Feminista Casa da Mãe Joana, de Blumenau, conta com o apoio de 827 mulheres da região, incluindo muitas gasparenses, na luta por leis e políticas públicas que assegurem liberdade, o fim da violência e os mesmos direitos a homens e mulheres.

Para uma das articuladoras do coletivo, Georgia Martins Faust, porém, a postura dos movimentos sociais só tem sido tão combativa nesse tema em função do aumento do conservadorismo no país e na região. Hoje, uma das principais bandeiras do grupo é o fim da violência contra a mulher.

“Por mais que haja campanhas, as estatísticas brasileiras e também catarinenses ainda são altíssimas e assustadoras. Nós trabalhamos com um conceito amplo de violência, que envolve comportamentos já naturalizados para algumas pessoas, como cantadas ou beijo forçado, mas que não são normais e fazem parte da mesma raiz, que é a ideia da mulher como objeto ou sujeito com menos direitos. Tentamos quebrar todas essas concepções”, explica.


Pontos a avançar

A falta de uma Secretaria Especial para Mulheres no Estado e de uma política pública clara sobre o assunto é apontada como uma das carências que, consequentemente, contribui para o aumento dos casos de violência feminina em SC. Segundo o Mapa da Violência de 2015, a cada 12 horas uma mulher é vítima de violência doméstica no Estado.
Outro ponto crítico citado por Georgia ainda é o atendimento a vítimas de violência sexual ou agressão do marido. “Mesmo com uma legislação sobre o assunto, ainda são recorrentes os casos de perguntas constrangedoras em interrogatórios e de acolhimentos que não funcionam como deveriam. Nós recomendamos que as mulheres denunciem sempre, mas, por esses motivos, não recrimino os muitos casos que ficam subnotificados”, pondera.


Machistas não passarão

Uma das principais ações das mulheres do Coletivo Feminista Casa da Mãe Joana foi a mobilização “Oktober sem machismo”. A ideia nasceu após uma peça publicitária de uma cervejaria que sugeria a sexualidade como atrativo da festa. Com cartazes espalhados por toda a cidade e também pela internet, a intervenção conseguiu reforçar o alerta contra condutas abusivas dos homens na festa. “A campanha foi importante, mas atingiu mais os blumenauenses, e a grande queixa é com relação aos visitantes e ao turismo quase sexual que se faz com a festa”, denuncia Georgia.
Em outubro, parte das integrantes do coletivo foi às ruas de Blumenau em um movimento “Fora, Cunha”. A mobilização ocorreu também em outras cidades do país. A principal queixa era o projeto de lei 5069/2013, de autoria do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que pretende exigir a comprovação de exames, de denúncia à polícia e aval de hospital credenciado para a realização de abortos em vítimas de estupro, obstáculos hoje inexistentes. “Por causa desse PL e do conservadorismo, o direito reprodutivo e a luta pela legalização do aborto acabou se tornando agenda número um para as feministas, inclusive no nosso grupo”, ressalta a articuladora do coletivo.


Equilíbrio com a paternidade

Mesmo descrente em função do fortalecimento de alas conservadoras no país, Georgia se anima ao ser perguntada sobre quais os desejos mais imediatos para o país na causa feminista e o que faria de imediato se tivesse o poder em mãos. “Muita lei não iria mudar muita coisa porque primeiro é preciso ter a cultura da igualdade, mas uma coisa que eu faria seria a legalização do aborto até a 12ª semana de gestação por qualquer motivo. Outra seria igualar a licença maternidade e paternidade. Na Suécia, o casal tem, juntos, 480 dias de licença e cada um é obrigado a tirar 60 dias. O restante do período eles podem dividir como quiserem. Do jeito que é hoje no Brasil, com apenas cinco dias para os pais, só se reforça a cultura de que maternar é função da mulher, além de criar um distanciamento histórico do filho com o pai”, analisa.

 

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