15/01/2018
O jornal Cruzeiro do Vale e o seu portal são os mais importantes veículos na área jornalística (impressa e de internet) em Gaspar e Ilhota. O jornal, o mais antigo, é o de maior circulação e resposta comercial aos seus anunciantes; o portal é o mais acessado e atualizado. Na sexta-feira, o Cruzeiro ofereceu espaços para o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, fazer um “balanço” do primeiro ano de governo e pontuar os seus objetivos para os próximos de governo.
Ele e sua assessoria de comunicação, que puderam “pensar” nas respostas escritas, mais uma vez, tropeçaram nas próprias pernas: nada sobre o que foi feito no primeiro ano de governo a não ser culpar a tal burocracia.
Conclusão para quem leu a entrevista ping-pong no jornal e no portal cuja entrevista foi a mais acessada depois das notícias policiais? Nada foi entregue a população ou feito de relevante neste primeiro ano de Kleber e Luiz Carlos Spengler Filho, PP. Desperdício de audiência num veículo de tanta credibilidade.
Sobre o futuro, Kleber preferiu duas tacadas que parecem muito difíceis de serem alcançadas: começar o tal Anel de Contorno com verbas de um governo estadual endividado e pressionado por Blumenau. Tudo piora neste quesito, para quem não consegue implantar sequer as simples mudanças em ruas locais.
Kleber, como novidade, revelou na entrevista que também quer começar a “implantação” do esgoto sanitário, novamente, num ambiente de fortes restrições de verbas federais e que não depende dele para liberá-las. Pior, uma obra que será tocada pelo Samae, o que não consegue entregar água potável aos seus consumidores, apesar dela existir. E por que? A gestão política escolhida por Kleber, a mesma que o fez perder a maioria na Câmara – conseguiu se não destruir, mas imobilizar pela vingança, terror e desconhecimento, o corpo técnico da autarquia, para experimentar e tatear as soluções aos problemas pontuais.
Então sou eu o que malho em ferro frio? Quem mesmo orienta essa gente? Ou combinaram que vão fazer apenas um mandato e vão entregar o segundo a outro grupo? O primeiro ano já foi para o saco. O segundo, anuncia-se como um desperdício. Logo estarão às portas, as eleições municipais. E os fantasmas das administrações peemedebistas de Bernardo Leonardo Spengler e Adilson Luiz Schmitt, tornam-se mais reais. Nenhum sinal para espantá-los.
Leiam a entrevista de Kleber, respondida com retoques e cuidados da sua assessoria. Ela confrontou-se com os meus comentários na coluna de sexta-feira. Mais uma premonição ou à exposição da realidade?
A minha coluna já estava pronta há duas semanas; tinha anunciado isso. Afinal, era um balanço do primeiro ano do governo de Kleber, somando-se à barbeiragem que fez na eleição da mesa diretora da Câmara.
Não tive acesso às perguntas feitas pela Redação (nem mesmo palpitei nelas). Não tive acesso antecipado às respostas "dadas" por Kleber. Li, como todos os leitores e leitoras, quando disponibilizado no portal (a minha coluna foi aberta antes) ou no jornal impresso.
O RESUMO DO NADA
Resumindo: Kleber “confessou” que não se preparou para governar; que a equipe que escolheu 9está com ela na foto acima) é a melhor e por isso não há nada para mudar ou melhorar nela. Ou seja, tudo o que (não) aconteceu no ano passado tenderá a se repetir neste ano, por pura teimosia, por ajustes pessoais, partidários, religiosos e familiares. Melhor: vai continuar culpando os outros para as coisas que não deram certo no ano passado e tendem a não dar este ano.
Um gestor escolhe seus objetivos, todos possíveis de serem realizados em um determinado período de governança. Um gestor escolhe gente para estar ao seu lado e que julga capaz de concretizar esses objetivos. E quando o cenário conjuntural muda (e isso é normal mesmo na imprevisibilidade), o gestor também muda seus planos e logo se adapta para atingir ou refazer os objetivos. Normal. Necessário. Próprio do líder que assume e mitiga os riscos, continuadamente.
Assim também acontece com as pessoas que o gestor escolhe para atingir os seus objetivos, para seu grupo político e de poder. Se eles não dão conta ou se tornaram insuficientes diante dos novos desafios, troca-se. Se os cenários mudam, avaliam-se os executores e se necessário, trocam-se também.
Mas, o político é diferente. E Kleber prova, que é um político e não gestor. É mais: tem culpados todos fora do seu círculo, quando o problema está exatamente do seu lado. Jovem, arma vinganças ao invés de alianças por objetivos e que visem o fortalecimento do seu próprio grupo. Está refém de gente antiga, ardilosa e de incompetentes que não têm onde se escorarem a não ser na barrosa. O resultado está aí.
O político geralmente protege os seus, mesmo que eles demonstrem incompetência, incapacidade e que comprometam a própria imagem e resultados (políticos) do seu chefe. Ao negar adaptar a equipe à uma realidade de resultados que prometeu e não conseguiu entregar no ano passado, Kleber assina à sua própria ruína. Como é ele quem vai perder politicamente, deve saber o que está fazendo, ou está sendo traído pela mesma máquina que sob os seus olhos elegeu Silvio Cleffi, PSC, presidente da Câmara?
Finalizando o mar-de-rosas do político Kleber. O jornal Cruzeiro não perguntou, e é uma pena, mas como o prefeito de Gaspar vai governar com uma Câmara supostamente de oposição, se quando ela era maioria para ele, Kleber teve dificuldades para impor vários projetos seus, como o que criou despesas de mais de R$600 mil por ano para abrigar comissionados e funções gratificadas ou aumentar em 40 por cento a Cosip?
Sobre o não funcionamento dos postinhos, da policlínica, da farmácia básica, da falta de 1.100 vagas nas creches, do hospital comendo dinheiro como nunca, nem um pio. E olha que isso é sobre o básico, da rotina... Ainda há tempo para reverter. Mas se não mudar? Os adversários estão adorando. Acorda, Gaspar!
Na coluna do dia sete de dezembro, e outra vez quase premonitória ao que aconteceria na eleição da mesa diretora da Câmara de Gaspar no dia 19, escrevi sob o título de “Transparência Zero”: “O Projeto de Resolução 2/2017, vejam só, assinado só por vereadores da base de apoio a Kleber Edson Wan Dall, PMDB (Ciro André Quintino, Evandro Carlos Andrietti, Francisco Hostins Junior, Francisco Solano Anhaia, todos do PMDB, mais Franciele Daiane Back, PSDB, José Ademir Moura, suplente e Sílvio Cleffi, ambos do PSC), deu entrada no dia primeiro de março. No mesmo dia, Anhaia, líder do PMDB, pediu a retirada do PR. E o engavetou até ser arquivado. Nenhuma explicação!”.
E tinha mais naquela coluna. Destaco dois tópicos. O primeiro deles estava na própria justificativa da boa intenção e da proposta: ”O objetivo deste PR é extinguir a votação em escrutínio secreto nesta Casa de Leis, tornando a votação nos casos acima mencionados, nominal”, justificaram os autores. "Então ao retirar no mesmo dia em que deu entrada, qual o medo, jogo e que os vereadores querem nos esconder? Esta é a cara da Câmara deste ano”, completei.
E sabem os leitores e leitoras como a coluna daquela sexta-feira encerrou este assunto ainda aproveitando à própria justificativa do Projeto de Resolução? “Para que isso ocorra [evitando as manobras individuais e dar transparência total ao seu voto], é necessário que o voto do vereador não seja instrumento ensejador desses ardis, mas apenas reflita claramente os interesses de seus mandatários (o povo)”. Depois sou eu o exagerado no que escrevo? Os nossos vereadores são incoerentes, demagogos e até hipócritas com o que eles próprios escrevem nos seus projetos. Ficam expostos e depois reclamam quando se cobra à transparência naquilo que fazem e principalmente, não fazem. Daqui há duas semanas, será a eleição da Câmara, e os traidores, se houver, estarão protegidos pelo voto secreto. Com a palavra a base e o vereador Anhaia, que retirou o PR da tramitação e ficou de bico calado. Acorda, Gaspar!”
PREVISÃO OU OBVIEDADE?
Antes de prosseguir vou repetir o que escrevi no dia no dia sete se dezembro: “Daqui a duas semanas, será a eleição da Câmara, e os traidores, se houver, estarão protegidos pelo voto secreto”. Quatro dias antes da eleição, escrevi aqui que o plano B era Silvio Cleffi, PSC, na traição à noiva que se encaminhava para o altar, Franciele Daiane Back, PSDB. Os votos foram secretos (aparentemente, nem tão secretos assim pelas circunstâncias do caso) e Silvio foi o plano B. É impossível que só eu, o que se esconde atrás de um computador, como me acusam para me diminuir e desmoralizar na credibilidade que possuo, soubesse ou desconfiasse disso tudo. E os que frequentam à Câmara, os citados e bajulados pelos vereadores, não soubessem, não sentissem no ar, o que se trama na frente de seus narizes.
Não é à toa, que é a coluna mais lida e a que mais influencia.
Voltando. O vereador Anhaia, o líder da bancada do MDB, o que que sumiu com o PR, ficou quieto. Até o dia três de janeiro, ainda no embalo da “traição” mal explicada da eleição da Câmara para algo que ele já sabia inócuo desde o dia 23 de fevereiro à noite. Num e.mail que recebeu e todos os outros 12 vereadores, o analista da Câmara, Emerson Pereira tinha fulminado tecnicamente o tal Projeto de Resolução e afundado a “boa intenção” da base.
Pelas datas, sabe-se que esse PR nem deveria ter sido protocolado na Câmara no dia primeiro de março. No dia 23 de fevereiro, já se sabia que estava bichado.
Como escrevi naquela coluna: “transparência zero”. Anhaia e os demais, tiveram oportunidades ímpares para esclarecerem à sociedade já em fevereiro ou março do ano passado, bem como neste sete de dezembro, quando tratei deste assunto por esperar quase um ano de explicações. Só depois de levar a pernada na eleição da mesa, resolveu abrir o jogo. Nada é tarde para a transparência.
E por que o PR 02/2017 não foi adiante? Por algo muito simples: é que “além do Regimento Interno, vários outros artigos da Lei Orgânica também precisariam ser alterados. Inclusive seria necessário criar um novo sistema de votação”, explica o vereador Anhaia. Ótimo! Então por que esconder isso da sociedade à qual o vereador representa? Por que não tomou essas medidas logo após receber a informação técnica? Anhaia é um trabalhador sério, já escrevi isso porque o conheço e não é de hoje. Mas é teimoso. E isso dificulta alguns resultados. causa tropeços.
Erolado na própria rede que criou, Anhaia precisou esperar o Requerimento 68/2017, de três de outubro, ou seja, oito meses depois daquele e.mail contra o PR 02/2017. Aquele requerimento é assinado por Franciele Daiane Back, PSDB; Francisco Hostins Júnior, PMDB; Roberto Procópio de Souza, PDT e Rui Carlos Deschamps, PT. Ele “cria a Comissão Temporária Especial destinada ao estudo da reforma ou alteração do Regimento Interno desta Casa de Leis, bem como da Lei Orgânica Municipal”. Aliás o referido requerimento, quando apresentado e aprovado, gerou uma saia justa com Silvio Cleffi, PSC. Ele queria tê-lo assinado também, pois segundo Silvio, possui "sugestões" a dar nesse assunto, que terá tramitação inicial de 180 dias na Comissão.
Para sugerir, logicamente, não precisa ser autor do requerimento. A queixa apenas mostra o jogo de vaidades que envolve o vereador Silvio. Um perigo! E para encerrar: Anhaia, já avisou que vai pedir ao presidente da Comissão, o vereador Rui, a inclusão do que estava previsto no PR 02/2017. Espera-se que esse trabalho da comissão seja transparente e não mais uma reunião de políticos defendendo seus próprios interesses. Mas, este assunto será motivo de novas colunas. Ele esconde agora, um jogo de coisas que a dita oposição não conseguiu passar como lei Ordinária em 2017. Acorda, Gaspar!
O advogado e jurista Modesto Carvalhosa, entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo, foi radical contra os políticos e à classe política, de um modo em geral. Eu partilho parcialmente da indignação dele, mas a política e os políticos, são os que movem uma sociedade plural, livre e democrática.
A deterioração da classe política no Brasil é algo assustador. A degradação não está em Brasília. Está aqui bem perto de nós. Entretanto, a dita classe política não desaparecerá como se quer e se prega, a menos que haja uma ditadura, e ainda assim, agirá como poder político administrativo dominante.
O que precisamos é, cada vez mais, conscientizar-nos dos nossos atos nas escolhas que fazemos a cada eleição para aquilo que acreditamos. Alfabetizar, diminuir a ignorância, o fanatismo, as influências corporativas e de grupos organizados, bem como a desinformação são ingredientes essenciais para inibir os políticos corruptos, chantagistas e que desonestamente agem para si e os seus, com os nossos votos (e dinheiro). A depuração deve ser continua e nunca será rápida e total.
A RBS SC foi a pior coisa que aconteceu para o jornalismo catarinense. Primeiro acabou com a concorrência das redações, eliminou os colunistas, impediu a divergência, deu mais valor ao visual, ao frugal, à plástica, à beleza gráfica do que a informação, a apuração, a investigação ou à análise da informação. Tratou-nos todos como beócios. E aí perdeu o leitor, o ouvinte e telespectador. Os catarinenses passaram a ter acesso apenas à informação pasteurizada e conveniente ao negócio e não à sociedade diversificada e principalmente, regionalizada, a nossa característica.
Segundo, a gaúcha RBS, sem nenhuma identidade com a história catarinense, terminou, este é o termo correto, com as lideranças e forças regionais, sejam elas políticas, econômicas e pasmem, os movimentos culturais. Sumiram os jornalistas barriga-verde. Foram as disputas regionais que tornaram Santa Catarina pioneira e referência nacional em vários setores produtivos. A RBS chegou aqui, exatamente quando o Rio Grande do Sul, rico culturalmente, estava decadente na economia e na importância política que sempre foi para o Brasil.
As redações foram invadidas por gaúchos identificados com o Rio Grande do Sul e a forte, única e rica história de lá. Eles manobravam “focas”, por questões econômicas, a maioria importada, que até para chegar às redações, precisavam de GPS. Então, a RBS SC transformou a sua atividade jornalística num balcão de sobrevivência chapa branca. Business. Devidamente calada as lideranças regionais, escondeu-se as mazelas dos governos de Luiz Henrique da Silveira, PMDB e Raimundo Colombo, PSD.
Engordou-se um lucrativo negócio centralizado. Santa Catarina ficou restrita a Florianópolis, a Ilha do Ócio. O manezinho, uma forte e viva identidade ilhoa apenas, virou o retrato barriga-verde. O principal executivo da RBS se tornou o principal homem de comunicação, estratégia e negócios desses governos.
E tudo isso, aconteceu sob os nossos passivos olhares (sociedade, lideranças, investidores, jornalistas locais por três décadas...). Enrolada no Carf e vendo que tinha exaurido pela predação, Santa Catarina e os catarinenses, a gaúcha RBS bateu em retirada para proteger a sua origem ameaçada no próprio Rio Grande do Sul por desenlaces familiares, a profissionalização que não se completou e a mudança brusca da comunicação diante da chegada do mundo virtual, e que pegou, diga-se, à bem da verdade, todos de calças curtas.
A comunicação de Santa Catarina saiu das mãos de um forasteiro que entendia como extrair negócios usando o jornalismo e passou para as mãos de um outro, que nem isso conhece bem, mas resolveu adotar a mesma fórmula a partir deste ano. Os primeiros dias da NSC no ano passado e os primeiros sinais foram bons. Até o acidente do filho do ex-diretor da RBS SC se noticiou com clareza. O próprio governo de Colombo sentiu o bafo ao ser desnudado na enganação que arma contra a sociedade como as pedaladas fiscais; o caos, descontrole e mentiras sobre os números na saúde pública. Entretanto, já há um visível recuo. E quem perde mais uma vez: sociedade.
Foi apenas um cartão de apresentação. E ele pode estar sendo trocado.
A NSC acaba de anunciar mudanças. Elas são sintomáticas. Primeiro vai continuar a ter um legítimo da RBS no comando geral, Mário Neves. Então, não muda. Disfarça! Segundo, anunciou que jornalista César Seabra assumiu à direção geral de Jornalismo. “Meu compromisso é continuar fazendo ótimo jornalismo, com total credibilidade, com leveza e seriedade, de forma integrada”.
Resumindo aos desatentos: “leveza” quer dizer superficialidade, a mesma que a RBS usou para trocar o jornalismo conveniente por negócios institucionais. E “integrada”, quer dizer o fim do jornalismo regional, debatendo, dando voz e respeitando as peculiaridades de cada região. Vai-se, novamente, no modelo que transforma Santa Catarina numa problemática Florianópolis. É só ver o que fizeram com o Jornal de Santa Catarina: uma redação de jornal de bairro.
Por derradeiro, neste jogo de encontro com o passado, houve a confirmação de que o “novo” jornalismo da NSC será peça acessória do business. Ela está contida na informação da própria NSC, de que o executivo Adriano Araldi assumiu a diretoria de Produto e Operações – “recém-criada com a missão de identificar novas oportunidades de estar ainda mais presente na vida dos catarinenses. Sob a gestão dele estarão as áreas de novos negócios, tecnologia, programação, entretenimento, industrial e logística”.
Notícia ruim? Não de todo. Isso mostra que a NSC vai dar oportunidade para crescer a concorrência local e ser desmoralizada no jornalismo como estava acontecendo com a RBS TV, que a enfraqueceu como negócio, a tal ponto do Jornal de Santa Catarina circular por dias seguidos sem um só anúncio. Não tinha conteúdo, liderança, opinião e estava distante de sua comunidade. Tinha beleza gráfica. E duvidosa!
Copyright Jornal Cruzeiro do Vale. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Jornal Cruzeiro do Vale (contato@cruzeirodovale.com.br).