Olhando a Maré Especial - Jornal Cruzeiro do Vale

Olhando a Maré Especial

06/10/2008

Eleição
Esta eleição estava desenhada para o vencedor há quase dois anos. Tenho em minha mão, uma pesquisa privada de abril de 2007 e que alguns candidatos tiveram acesso na época. Ela dava claramente a intenção de votos que foi dada a Celso Zuchi neste domingo. Ou seja, nenhum partido, equipes das campanhas ou candidatos adversários podem reclamar do que aconteceu. Como se vê o sono é profundo e de há muito havia a espera de um milagre. Aliás, para tudo. Acorda Gaspar.

Repensar
Os derrotados devem isso sim, repensar seus métodos, equipes, nomes, propostas, discursos, aliados e estratégias. As pesquisas devem ser usadas como uma ferramenta de trabalho, posicionamento tático e não como uma propaganda enganosa, principalmente, para si próprio. Desqualificá-las é mais uma forma de justificar a incompetência, repetir o velho, renegar o novo para gerar mudanças, mudanças que estavam sendo esperadas há muito pelos eleitores. Por isso, o resultado deste domingo não foi nenhuma surpresa. Faltou renovação, ação, estrutura, inteligência e competência se verdadeiramente alguém queria enfrentar e vencer o sempre favorito Celso Zuchi. E olha que a onda Lula por aqui pouco influenciou também. É na verdade uma reação, um sentimento e resultados bem locais. Acorda Gaspar.

Lição
O PT, o prefeito eleito Celso Zuchi e a sua vice, Mariluci Deschamps Rosa por outro lado têm pouco a comemorar se as lições de um passado recente não lhes forem o sinal de alerta permanente para a nova administração. A arrogância, o isolamento, o estrangeirismo e empreguismo excessivo na administração de companheiros; o desdém às entidades e as tentativas de aparelhamento e patrulhamento em outras, bem como radicalismos bobos e as vezes pessoais, o levou à derrota para Adilson Schmitt, ex-PMDB e hoje PSB - e que na época para vencer Zuchi, incorporou uma ampla frente de interesses e partidos.

Interesses
Curiosamente, a mesma frente de interesses que se esfacelou agora no apoio a Adilson Schmitt - e por motivos que quase todos gasparenses conhecem -, mudou de lado e abriu caminho para a volta do PT, de Celso Zuchi e Mariluci. Como se vê, é o velho de volta. Ou seja, é uma nova chance. É o segundo tempo de um jogo a ser superado. É a chance de não se repetir nos erros e naquilo que lhe custou a prefeitura em 2004. E isto está claro na recorrente alta marca de indecisos que permeou todas as pesquisas eleitorais publicadas e as que os partidos mandaram fazer. Os indecisos quase sempre superavam a intenção de votos em muitos candidatos e revelavam uma insatisfação latente do eleitor com o quadro de candidatos concorrentes. Algo atípico e ao mesmo tempo revelador. Acorda Gaspar.

Segundo
Celso Zuchi foi ainda favorecido também pelo fato pitoresco que acometeu as chamadas forças políticas tradicionais de Gaspar. Elas se lançaram a uma disputa entre elas pelo segundo lugar. Uma bobagem sem tamanho. Nesta eleição, segundo significava sempre derrota. Mas pareciam não tender isso. Erraram no foco e pareciam que não queriam vencer o favorito. Não compararam, não confrontaram. Ou porque não tinham números e atos para comparar e confrontar ou porque não tiveram competência para fazer isso. Nos dois casos, merecidamente, tiveram a resposta do eleitor neste domingo. Em Blumenau e Itajaí, por exemplo, o PT amargou duramente nesse confronto. Um tentou mentir e se estrepou. O outro foi com sede demais ao pote, se lambuzou e passou a campanha inteira se explicando.

Histórico
Celso Zuchi (com a sua ex-vice Albertina Deschamps) chegou ao poder pela primeira vez em 2000 pela onda fácil da reeleição de Décio Lima, PT, em Blumenau. O grupo de Décio, identificado com forças conservadoras de Gaspar, aproveitou-se do momento de glórias por lá e abriu flancos importantes por aqui. Era a época de Bernardo Leonardo Spengler (já falecido), o Nadinho, PMDB, e do seu vice Andreone Cordeiro, PTB. Eles fizeram uma administração marcada por dúvidas e não correspondida na expectativa que criaram para os eleitores, principalmente. Agora, o quadro antigo parece tão atual e se repete: a sensação de expectativas não satisfeitas. É uma eleição aparentemente fácil, movida por ranços, sem compromissos sérios. É isso que acontece quando não há uma disputa acirrada.

Desafios
O PT de Gaspar e a sua futura administração, por estas e pelas circunstâncias conjunturais, tornaram-se vitrine no Vale do Itajaí. O PT perdeu em Blumenau (a ex-vitrine que avançou em Gaspar), Itajaí (na tentativa de permanecer) e Indaial (onde repetia o poder por um voto) e Ilhota. Só estas derrotas, que não são poucas e carregadas de simbolismos, bastariam à uma reflexão dos seus líderes e no modo de agir perante as comunidades e os eleitores. Salvou-se Brusque, com o deputado Paulo Eccel e que já foi o jurídico na era Zuchi.

Futuro
Então, retomando. O sucesso do PT em Gaspar também será por vias diretas, o sucesso da senadora Ideli Salvatti. A coordenadora do Fórum Parlamentar Catarinense e gasparense honorária, tem um sonho e um desafio: aglutinar forças dentro do próprio partido em Santa Catarina (onde ela não o domina totalmente)e ser a partir de então, a candidata a governadora em 2010. Mais, ela e o partido precisam desse sucesso para se credenciar como os melhores cabos eleitorais para o candidato(a) sucessor(a) de Lula, no Planalto. Ou há alguma dúvida nessa alquimia de interesses de poder?

Reerguer
Para isso, a senadora terá que urgentemente recompor e revitalizar as forças do seu PT em Blumenau e Itajaí, além de cidades chaves para o PT que balançaram como Florianópolis, Criciuma, Tubarão, Chapecó, Joaçaba, Videira e Jaraguá do Sul. Sobra um segundo turno em Joinville com o deputado Carlitos Mers e Concórdia e Itapiranga, as mais expressivas e que se salvaram, o que convenhamos, é pouco. Tem também o PT, urgentemente, se desfazer de alguns laços companheiros envolvidos em histórias mal explicadas e que originaram a Operação Influenza da Polícia Federal - a qual chegou até os quintais de Gaspar, Blumenau, Itajaí, Balneário, Joinville, São Francisco do Sul, Florianópolis e Brasília. E no âmbito das grandes realizações por aqui elas começam pela duplicação da BR-470, a ponte do Vale e o Anel de Contorno de Gaspar, o saneamento básico, os Ifet e Cefet, a federalização da Furb, os hospitais de Gaspar, Santo Antônio e Universitário, além do novo aeroporto de Navegantes. Não é uma tarefa pequena e fácil.

Hegemonia?
Por isso, Celso Zuchi e o PT terão que ver Gaspar com outros olhos e bem diferentes dos de 2000-2004. Os gasparenses poderão ser beneficiados com esta circunstância conjuntural de que lhes falei. Mais do que normalmente seriam. Isto pode garantir ao PT uma hegemonia local e que segundo alguns, poderá chegar a 12 anos. Tudo vai depender das lições do passado, da estratégia para o futuro e da vontade de construir, produzir uma agenda positiva ao invés da patrulha, aparelhamento, revanchismo. Melhor, dependerá também de como o PT vai administrar os que o cercaram circunstancialmente e o ajudaram na derrota da atual administração. Acorda Gaspar.

Revanchismo
Todavia, o revanchismo que deu o tom na primeira administração de Zuchi terá que ser revisto para que a tal hegemonia prevaleça. Deixar para compor só em época de campanha é uma fórmula experimentada e que não deu certo (aliás, nem no passado para Zuchi e nem agora, para Adilson). Lula e a própria senadora Ideli podem servir de exemplos aos daqui: são pragmáticos, avançam, fazem alianças, são abertos e buscam resultados comuns para a sociedade e é com essa fórmula simples, antiga demais e testada que se mantém no poder. Acorda Gaspar.

Poder
O poder de uma elite governante está diretamente ligado a sensação de bem estar dos seus governados. Escrevi sensação, percepção. E o governo do PT hoje no Brasil passa essa sensação de duas formas bem claras. A primeira mais concreta, ou seja, com emprego, renda, prosperidade e oportunidades (e que podem ser abaladas pela crise financeira internacional e de cuja amargura poderemos provar após as eleições). A segunda e talvez a mais importante e que dá sustentabilidade a isso tudo, feita descarada e subliminarmente: propaganda, pirotecnia, articulação, alianças e muita, mas muita comunicação intencional.

Ações
Assim, penso, o PT de Gaspar deve se preocupar com o estratégico, com as mudanças, com as realizações e com a sensação de inclusão que isto cria nos gasparenses para avalizar e dar sustentabilidade nos resultados políticos futuros. Paralelamente, a cidade poderá ser melhor do que é, integrar-se regionalmente (ufa!) e avançar. Uma cidade mais humanizada, mais segura, melhor ainda no transporte coletivo, mais transparente; preocupada com inclusão de crianças e adolescentes, educação integral, modelo de preservação ambiental, respeito à diversidade e à pluralidade; mais equipamentos e promoções esportivas, respeito à autonomia das entidades o contraponto de cidadania e democracia; respeito integral e incondicional ao Plano Diretor, o qual não pode ser usado para barganha políticas e vendas de facilidades; mais diálogo e menos encenações de mobilização como o orçamento participativo e o aparelhamento das associações de bairros etc. Acorda Gaspar.

Sustentação
A Câmara onde o PT fez apenas três (informação ainda não oficial ao fechamento da coluna)dos dez vereadores será o primeiro teste da habilidade política e estratégica de Celso Zuchi e de Mariluce para gerar a governabilidade, poder e resultados para o PT e Gaspar. Um ele já tem: é do PV e que participou da coligação vencedora. Faltam mais dois para ter a maioria simples numa Câmara super renovada.

Hospital
O Hospital de Gaspar, infelizmente, foi tema de bravatas pelos petistas e seus espertos apoiadores. Compreensível em uma campanha eleitoral, entretanto inaceitável no que tange à seriedade que o caso merece. Celso Zuchi disse que iria abri-lo se eleito. Algo que não pode fazer porque o hospital não é municipal. Mas, ele, o seu PT e médicos que foram ao palanque fazer encenações, podem contribuir decisivamente para isso, se assim verdadeiramente quiserem, como vêm contribuindo muitos gasparenses e que fazem isso sem nenhum interesse político, retorno pessoal ou de poder. Pessoas que se negam a usar a desgraça humana, a desproteção intencional do Estado aos mais humildes e com isso promover o escárnio da dignidade humana em palanques, discursos e propaganda eleitoral. Acorde Gaspar.

Saúde
Pois, enquanto nosso Hospital foi usado como instrumento político partidário ou de poder por grupos ou políticos, ficou sucateado, faliu e fechou. Do outro lado, a saúde, como um todo incluindo os programas, o CAR, os PSFs, os atendimentos domiciliares e a integração regional, teve avanços. Basta ver e comparar números e atitudes. Então, o sistema precisa ser aperfeiçoado, com um Hospital funcionando, moderno, competitivo, vocacionado, com orçamento sob controle, sustentável e sem política partidária, demagogia, rancores e cabides de empregos para apadrinhados sejam eles quem for. Acorda Gaspar.

Ciranda
Por fim, temos prefeito eleito para tomar posse no dia primeiro de janeiro de 2009. E ele não foi eleito com poucos votos não. Toma possa com a autoridade de 15.030 votos. Aos derrotados, mais reflexão e menos desculpas e culpados. O prefeito eleito deve governar para todos, mas sabendo que nunca terá a unanimidade. E essa é a mágica da habilidade política do governante para produzir resultados para a maioria. Quem entende isso, supera obstáculos, vence e é reconhecido, inclusive pelos críticos. E se reelege. Coincidente ou não, foi na época de Zuchi que apareceu o MST para fazer zoada defronte as grandes empresas; e vai por ai a pirotecnia para mostrar mais os dentes, ideologias de grupos, constranger e patrulhar do que resultados. Isto para não falar das recorrentes queixas que pontuaram as decisões judiciais e os questionamentos da imprensa. Como outros, o PT e seus eleitos, costumam ver fantasmas onde eles não habitam. Acorda Gaspar.

Imprensa
Aliás nestes itens Justiça e Imprensa, Zuchi e o PT de Gaspar não estão sozinhos. É inerente aos do poder estas queixas sejam eles de que sigla, cidade e país forem. Mas, o PT é campeão. Quando fora do poder, usa e abusa da imprensa repassando-a denúncias, documentos e informações. Se posta como o senhor da razão. Quando no poder, tenta desqualificá-las e até calá-las. Muitas vezes, perigosamente se omite, quando não é o péssimo exemplo. O governo de Lula ensaiou várias vezes a censura. Só nada vingou nada até agora, porque a Democracia, as Instituições e a Imprensa são mais fortes do que as intenções, apesar da criminosa indústria dos grampos ilegais e que tem origem, segundo se apura, dentro do próprio Palácio do Planalto ou na própria estrutura de governo. E Gaspar tem uma imprensa acordada. E Zuchi conhece-a muito bem. E ela é fundamental para que a sociedade ganhe na busca do melhor resultado para todos. Acorda Gaspar.

Lideranças?
Para repensar. Líderes políticos que perderam nos seus redutos eleitorais neste domingo e colocam em xeque essa liderança. O governador Luís Henrique da Silveira, PMDB, em Joinville; a senadora Ideli Salvatti, PT, em Florianópolis; o presidente do PMDB e ex-vice e governador, Pinho Moreira, em Criciuma; o vice-governador Leonel Pavan, PSDB, em Balneário Camboriú; o senador Raimundo Colombo, DEM, em Lages, a presidenta do PT, Luci Choinaski, em Chapecó; o ex-senador Jorge e o deputado Paulinho Bornhausen, DEM, em Florianópolis. É ruim, heim?

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