15/10/2020
Eu deveria estar escrevendo sobre as falhas na Saúde Pública, na Educação (creches), Assistência Social e Transporte Urbano. Indiretamente, estou. Ou seja, deveria estar expondo sobre algo básico e feito para as pessoas. Indiretamente, também estarei. Em Gaspar estas atenções diretas para as pessoas ficaram em segundo plano diante do foco que se deu às obras físicas. Foi uma estratégia para impressionar e “marquetear” pelo visual. Elas também são necessárias e úteis. Não discuto. No momento em que essas obras deveriam servir ao que se projetou à comunidade, algumas delas trabalham contra os objetivos planejados, exatamente pelas dúvidas, pela falta de transparência e os resultados insatisfatórios às expectativas criadas. No outro lado, a “causa animal” – um tema da moda - diante daquilo que li na edição de sexta-feira passada do jornal Cruzeiro do Vale, o mais antigo, o de maior circulação e credibilidade em Gaspar e Ilhota -, descobri – e os gasparenses também –, foi mais uma política que falhou. Os cinco candidatos possuem propostas contundentes para mudar esta triste realidade, mesmo o que teve à prerrogativa de mudar e não mudou.
Primeiro, o problema existe porque falta consciência e responsabilidade das pessoas – inclusive as que se deixam levar pela onda de ter um PET e não ponderar todas as implicações, custos e consequências desse ato. Segundo, o poder público no poder não atua nesta área para mitigar de forma organizada e integrada às demandas crescentes. Terceiro, não se trata de modismo, mas um problema de saúde pública sério; ele afeta a saúde das pessoas – e dos mais pobres, os da periferia onde se concentram os descartes, abandonos, proliferação e descasos. Quarto se não houver uma política pública séria de controle de zoonoses e da proliferação dos animais de rua os doentes serão as pessoas; então haverá mais custos para serem cobertos pelos pesados impostos de todos nós. Quinto, não se pode terceirizar uma obrigação do prefeito para Ongs, piedosos, aproveitadores e curiosos; não se pode politizar uma ação pública de saúde e não se pode omitir em algo que traz consequências aos mais vulneráveis. Simples assim!
O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, escreveu no jornal Cruzeiro do Vale que fez muito nesta área. Quem é do “ramo” acha que não. Foram castrados em três anos, 350 animais e gasto R$170 mil para a compra de rações. Ele próprio reconhece que “é necessário mais”. E o que se comprometeu? Fortalecer o setor de zoonoses na secretaria de Saúde e criar o tal “Parcão”. Uau! Os seus adversários? Ou já mostraram que fizeram mais quando no governo, ou possuem conhecimentos melhores da caótica situação porque passam abrigos particulares e a Agapa – Associação Gasparense de Proteção aos Animais. Os abrigos e a Agapa vivem de doações, promoções e ações de abnegados voluntários pela causa, quando não de esmolas e humilhações. Kleber esqueceu de dizer que a maior parte que a prefeitura “contribuiu” para esses abrigos, programas de castrações e até rações, tem origem em brigas na Justiça onde a prefeitura se viu obrigada a cumprir o que era dever dela.
O programa de castração – que impede à proliferação dos animais de rua, recomeçou agora, exatamente em tempo de campanha eleitoral. A ração disponibilizada pela prefeitura de Gaspar mal dá para dez dias. E os outros 20? E a vacinação? A verdade é que a prefeitura tentou instrumentalizar e aparelhar a Ong para ter controle político. Como não conseguiu, também dificulta e a deixa a míngua como punição. Pune, de verdade, os animais. A coisa não está pior, porque Agapa não se dobrou aos desmandos politiqueiros e quando não conseguiu no diálogo com o ente público naquilo que é sua obrigação, procurou o Ministério Público e a Justiça. Na prefeitura, isso é tido pelos políticos empoleirados lá como um crime. Queriam-na falida, fraca, pedinte e submissa. Os voluntários até aqui não se submeteram aos caprichos; desdobraram-se em tempo de pandemia. E a comunidade e clínicas não lhes faltaram nas promoções e emergências. Se o poder público aceitar a tripartite (comunidade, Ong e prefeitura) o fardo é menor para todos. E na prefeitura ainda, as ações devem ser integradas com a Educação, a Saúde e a Assistência Social. Afinal, é uma causa com reflexos nas vidas das pessoas, ou seja, não se trata uma briga política. Uma delas por exemplo, é castrar, vacinar e alimentar os animais nas próprias comunidades onde eles estão inseridos, evitando-se abrigos, muitas vezes, sujos e que mais parecem cárceres. Teríamos aí, o animal da rua e não o animal de rua. Acorda, Gaspar!
Uma campanha eleitoral não é para amadores. O PSDB de Gaspar abrigado na poderosa e organizada coligação de Kleber Edson Wan Dall, MDB, teve a sua chapa de vereadores impugnada pela Justiça Eleitoral. Não respeitou a cota de mulheres, obrigação antiga.
Se quiser seguir adiante, O PSDB de Gaspar vai ter que se arriscar e cortar quatro candidatos homens; ficar mais nanico do que já estava e torcer para que ninguém fique questionando a “cirurgia” jurídica, se ele eleger alguém. Internamente, terá que ajuntar os cacos.
Se Justiça Eleitoral olhasse bem, descobriria que o diretório do PSDB de Gaspar teve uma eleição para lá de questionada. E se houvesse controle, não ofereceria candidata que nem filiação tinha.
Agora é fácil depois de nove anos de campanha, quatro deles com uma poderosa máquina pública de fazer votos na mão, dizer que vai abrir mão de parte do bilionário fundo eleitoral. Quando candidato de oposição não abriu. Incoerente, então. Soa como arma de constrangimento a quem está fazendo campanha há apenas poucos dias.
O discurso gravado em vídeo. Eleito em 2016, perguntaram a Kleber Edson Wan Dall, MDB, como ele lidaria com o transporte coletivo sob contrato de emergência naqueles dias que antecediam à sua posse.
“Um assunto especial que a gente vai ter o cuidado de monitorar desde já. É preciso fazer uma nova licitação. A equipe de transição de governo vai fazer os contatos com o prefeito Celso Zuchi”.
A realidade. Quatro anos depois desta declaração, duas licitações deram desertas – e falta de aviso não foi -; um caro estudo sobre o assunto com dinheiro público para não errar; uma empresa que fugiu do serviço daqui e reclamando da concorrência predatória; outra se estabeleceu num novo contrato emergencial; e o governo riscou do mapa – e diz que é temporariamente - o terminal urbano.
O terminal integrava minimamente a cidade. A não utilização dele e se aproveitando da pandemia – um caso único no Brasil -, obrigou os trabalhadores e desempregados a pagarem duas passagens para irem de determinados bairros a outros em Gaspar. Com o terminal, a empresa já disse que não quer o serviço. Resumo: a conta do erro de gestão pública veio para os mais pobres. E o Ministério Público quieto.
A secretaria de Educação de Gaspar abriu a lista de interessados nas vagas das creches municipais. Quem está esperando uma vaga e não renovar o cadastro até o dia 21 de outubro vai chupar o dedo.
Este é um problema grave na cidade outra vez contra os mais vulneráveis. Conveniente e espertamente foi para debaixo do tapete durante a Covid-19. Tem gente prometendo creche em tempo integral.
Com o “fechamento” das creches na pandemia, “sumiram” as reclamações e o governo de Gaspar agradeceu. Só se vai descobrir à falta de vagas nas creches daqui no ano que vem. E ladainha recomeçará e será tarde.
Duas coisas que viraram artigo de luxo em Gaspar: debate entre os candidatos – que os poderosos têm medo como o diabo da cruz - e pesquisa eleitoral registrada na Justiça para ser pública. As falsas inundam os aplicativos de mensagens. E algumas delas, pelos números falsificados, melhor mesmo era nem ter eleição.
Faltam só 30 dias para eleição de 15 de novembro. Acorda, Gaspar!
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