O Mal de cada dia - Jornal Cruzeiro do Vale

O Mal de cada dia

09/09/2014 12:29

O mundo está passando por uma série de mudanças que afetam direta e indiretamente a vida no planeta. Mudanças catastróficas como cataclismos, guerra, conflitos armados, crises econômicas, violência urbana somados a falta das condições básicas da vida que incluem saúde, segurança, lazer, dignidade, refletem um contexto que põe em teste a sanidade das nossas faculdades mentais. O mundo por vezes parece uma fera endiabrada pronta para nos devorarmos, uma Hydra abominável e fatal. Pouco a pouco, um sentimento de angústia cresce em nós perante a impotência diante de um mundo em que o Caos parece ser a única ordem existente. Essa angústia persiste e perdura até interiorizar-se na personalidade do próprio indivíduo. Sentimentos de desânimo, de alheamento a tudo e a todos, de completo niilismo formam um conjunto que na medicina recebe o nome de Transtorno Depressivo Maior, ou simplesmente Depressão.

A Depressão, a meu ver (obviamente não existe aqui a pretensão de que esse seja um artigo científico, ou mesmo um estudo sistemático dessa patologia ? deixamos essa árdua tarefa para os profissionais médicos e cientistas) é como uma guerra em que o inimigo é o próprio paciente. Nessa guerra o paciente sempre será vencedor e perdedor simultaneamente, e terá que aprender a enfrentar esses dois sentimentos tão adversos: o desespero da derrota e o êxtase da vitória. Caso o paciente seja levado a crer que está sempre sendo derrotado, abrir-se-á pressupostos concretos para aquilo que ninguém deseja, mas que muitas vezes acaba por acontecer: o suicídio. Nessa batalha, aceitar que se está doente e buscar um auxílio profissional já é uma primeira vitória, e um passo gigantesco para o controle, tão necessário para o saudável convívio social e também consigo próprio. Entender que o tratamento não é sinônimo de indiferença em relação ao mundo que nos cerca, e que o mundo está de fato errado, a pessoa mesmo pode estar errada, mas a visão que se tem do mundo e de si mesmo está também prejudicada pela doença, e que é necessário intervir na doença, controlando-a para que se possa depois vir a fazer um julgamento de valor, por assim dizer, saudável da vida. Percorrer esse caminho até o final, sem nunca desistir é o que garante ao doente uma vantagem no jogo da vida, que como no xadrez se bem administrada poderá ser a chave de uma grande vitória final, permitindo um melhor enfrentamento das adversidades do mundo em que vivemos.

Jailson Marangoni   |  Enfermeiro e estudante de Direito

Edição 1621
 

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